Rede "Emergência Florestal/Floresta do Futuro" foi criada em 2022 no rescaldo de uma iniciativa que chamou a atenção para o problema dos incêndios.
Cerca de meia centena de pessoas juntaram-se este sábado em São Pedro do Sul a exigirem a descarbonização, a democratização e a biodiversidade na floresta, inserida na convocação da Rede Emergência Florestal/Floresta do Futuro.
"Democratização já"; "Biodiversidade já"; "Mais do mesmo não, eucaliptos fora do chão"; Floresta é vida"; "Monocultura=Monopólio?Democracia"; "Floresta somos nós"; "Queimar só a corrupção", foram algumas das palavras de ordem exibidas em cartazes no protesto em São Pedro do Sul, distrito de Viseu, um concelho que há precisamente um ano estava debaixo de chamas.
No megafone, a ordem era: "mais floresta, menos monocultura", numa marcha que se fez ouvir com a ajuda de instrumentos musicais como bombos e gaitas de foles que não conseguiram abafar as palavras de ordem.
Cerca de meia centena de pessoas respondeu à convocação da Rede Emergência Florestal/Floresta do Futuro que organizou protestos em 15 cidades do país para mostrarem a sua "indignação" perante os incêndios de todos os anos, disse à agência Lusa um dos elementos da organização, Rita Martins.
"Pretendemos fazer reivindicações no que toca às políticas florestais da monocultura, que é um flagelo nacional e nós temos de contrariar. Não podemos continuar a tratar o nosso território que serve interesses económicos, que está sujeito a uma ótica extrativista, tem de haver colaboração e tem de haver um envolvimento da população", defendeu.
Rita Martins disse que este protesto, com concentração no Parque das Nogueiras, seguido de uma caminhada de cerca de meio quilómetro, até à praça da República, tem "três grandes chavões: deseucaliptar, democratizar e descarbonizar".
"Fugimos um pouco desta lógica de nos sujeitarmos aos interesses da indústria fóssil, a nossa indústria da celulose é o maior contribuinte para o PIB [Produto Interno Bruto] a nível nacional, mas também contribui para uma grande devastação e destruição do território", justificou.
A democratização, porque as "populações devem estar envolvidas" e "estas decisões não devem ser tomadas longe da realidade". "Nós estamos aqui e temos ideias, gostaríamos de ser ouvidos", sustentou.
"E deseucaliptar, porque temos um território ocupado, pelo menos, 10% por eucaliptos, mas já são estatísticas de 2015, já estão muito desatualizadas. E, cada vez que o ano passa, que temos incêndios, essa área vai-se alastrando", apontou.
Rita Martins realçou ainda que "a destruição que os incêndios estão a fazer" no país causam "um trauma que não está a ser entendido, não está a ser percecionado, não está a ser ouvido".
"Eu sinto que cada vez que o ano passa, cada vez que vem o verão, deixou de ser aquela estação lúdica, de férias, de descanso, de relaxamento, de colheita, para passar a ser uma estação de sobressalto e de fogo e de trauma e de uma ansiedade total", considerou.
Para esta portuguesa, nascida em Lisboa, com passagem por "várias localidades do país, como Arganil, e na Alemanha" e a viver em São Pedro do Sul há pouco mais de um ano, os incêndios são também insegurança, depois da experiência de 2017, em Arganil, e há um ano em São Pedro do Sul.
"Não consegui ficar na minha terra, porque senti que não tinha capacidade para a defender. Mesmo a nível emocional, tivemos de buscar, mais uma vez, consolo e proteção no betão, quando queremos tanto proteger o que é mais sagrado", referiu.
No protesto em São Pedro do Sul, a "maioria dos cidadãos" era estrangeira, que escolheram "viver nas 'montanhas mágicas', precisamente porque se sentem "atraídas por toda a magia existente" neste território.
"São de várias nacionalidades: temos alemães, americanos, belgas, holandeses e jamaicanos, entre os que conheço, e poucos portugueses. É uma multiculturalidade aqui no concelho", afirmou Rita Martins.
Entre esses portugueses, estava o casal Joaquim Cunha e Maria Luísa Barbosa, residentes em Ovar, distrito de Aveiro, mas "por estes dias a tratar da quinta" em Oliveira de Frades, concelho vizinho também da zona de Lafões.
"Quando soubemos que ia haver esta manifestação viemos, claro. Mas estou muito surpreendido com a diversidade humana que aqui está. E não está cá ninguém de gravata! Lutam mais os estrangeiros pelo nosso território que nós, portugueses, que somos uns acomodados", disseram.
À agência Lusa, este casal defendeu ainda que "os produtores que plantam carvalho, por exemplo, que é mais resistente ao fogo, mas demora mais a ser rentável, devia receber um subsídio por plantar" essa espécie autóctone.
"Porque eu percebo que plantem eucaliptos, porque depressa são rentáveis. Ok, mas então que haja ordenamento na sua plantação, mas que seja dado um apoio a quem queira optar por outras espécies, para que sejam "todas rentáveis", mas haja mais diversidade na floresta", argumentou Joaquim Cunha.
Os protestos decorreram ainda em Águeda e Aveiro (distrito de Aveiro), Arganil, Coimbra, Lousã e Oliveira do Hospital (Coimbra), Sertã e Proença-a-Nova (Castelo Branco), Pedrógão Grande e Leiria (Leiria), Braga, Lisboa, Porto e Odemira (Beja).
A rede "Emergência Florestal/Floresta do Futuro" foi criada em 2022 no rescaldo de uma iniciativa que chamou a atenção para o problema dos incêndios, através de uma caravana pela justiça climática que percorreu cerca de 400 quilómetros, entre a Figueira da Foz e Lisboa, passando pelos sítios mais afetados pelos incêndios florestais.
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