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Coração reparado sem cortes (COM INFOGRAFIA)

Os doentes idosos que sofrem de estenose aórtica (patologia que consiste numa calcificação da válvula aórtica) e não podem ser submetidos a um procedimento cirúrgico de peito aberto têm agora uma solução.

30 de janeiro de 2011 às 00:30

Há uma nova técnica de cirurgia, feita através de cateterismo, que permite substituir a válvula aórtica calcificada sem que seja necessário abrir o peito para chegar ao coração. A taxa de sucesso da operação é de quase 100%. O Hospital Santos Silva, em Vila Nova de Gaia, foi a primeira unidade da Península Ibérica a aplicar esta nova técnica

A estenose aórtica é uma patologia que afecta os idosos. A válvula aórtica, que bombeia o sangue do coração para o resto do corpo, fica calcificada e leva a que seja injectado menos sangue. Os sintomas são dores no peito, falta de ar, dificuldade de andar e desmaios.

A solução passa por substituir a válvula calcificada por uma prótese biológica ou mecânica. Habitualmente, essa prótese era colocada através de cirurgia de peito aberto. No entanto, há quem não possa ser operado desta forma.

Agora, basta fazer uma pequena incisão numa artéria, introduzir um cateter, cujos avanços são controlados por um monitor, e colocar a válvula artificial em cima da danificada. Tudo apenas com sedação profunda ou anestesia geral.

Por norma, a incisão é feita na artéria femoral (na virilha), mas também pode ser na artéria subclávia (no ombro). Caso não se consiga fazer destas duas formas, opta-se pela via transapical, ou seja, uma picada directa no coração. A taxa de sucesso da implantação de uma válvula artificial situa--se entre os 90% e os 100%. Em caso de não tratamento, a mortalidade é de 100% passados 12 meses após o aparecimento dos primeiros sintomas.

TÉCNICA SÓ PODE SER FEITA EM LABORATÓRIO DE HEMODINÂMICA

Este novo procedimento cirúrgico para tratar a estenose aórtica só se pode realizar num laboratório de hemodinâmica. E é necessária uma vasta equipa de profissionais.

"É um cateterismo especial. Esta técnica de intervenção cardiológica é feita numa sala com raios X", começa por explicar Vasco Gama, o director do serviço de Cardiologia do Hospital Santos Silva.

A nova técnica tem de ter o apoio de centros de cirurgia cardíaca. "Está reservada a esses centros por causa das complicações", acrescentou Vasco Gama. Como tal, a equipa deve ter na sua composição cardiologista, anestesista, cirurgião cardíaco, enfermeiros, imagiologistas e geriatras para tratar e acompanhar o doente. Apenas os hospitais de Vila Nova de Gaia, Santa Cruz (Carnaxide, Oeiras) e Santa Marta (Lisboa) realizam esta cirurgia.

O MEU CASO: ANTÓNIO CARDOSO

"ANDAVA A FICAVA SEM AR E EQUILÍBRIO"

António Cardoso, 79 anos, ficou com insuficiência cardíaca depois de ter sido operado à tiróide em 2006. Mas só descobriu que tinha estenose aórtica em 2010. "Há mais de três anos, comecei a ir ao Hospital de Santo António, no Porto, porque tinha falta de ar. Numa ida à Urgência, no ano passado, é que detectaram o que tinha", contou António Cardoso.

O homem, residente no Porto, fez uma tireoidectomia total em Outubro de 2006 e esteve em coma induzido durante três semanas. Quando recuperou do coma, as dificuldades respiratórias agravaram-se e reparou que tinha uma corda vocal desactivada. "Andava e ficava sem ar. Já não tinha equilíbrio, nem deitado", descreveu.

Por indicação de um cardiologista, começou a ser seguido no Hospital Santos Silva, em Vila Nova de Gaia desde o ano passado. Há duas semanas, foi submetido à nova cirurgia. "Por causa do historial dele, não podiam abrir-lhe o peito porque não aguentaria", explicou o filho, Jorge Cardoso. Quando soube que ia ser operado, António Cardoso disse que lhe saiu o totoloto. "Gosto muito de andar", confessou.

PERFIL

António Cardoso tem 79 anos e descobriu que tinha estenose aórtica no ano passado. O seu historial clínico tornava-o inoperável. Acabou por ser submetido à nova cirurgia, através de uma incisão na virilha. Diz não ter medo de nada e só queria melhorar a sua qualidade de vida

DISCURSO DIRECTO

"COMEÇA-SE LOGO A NOTAR MELHORIAS", Vasco Gama, Director de Cardiologia do Hospital de Gaia

CM – Como se trata a estenose aórtica?

Vasco Gama – O normal hoje em dia é a cirurgia de coração aberto. Abre-se o peito, tira-se a válvula e põe-se uma artificial.

– Porque é que há doentes inoperáveis?

– Os idosos têm outras patologias, o que dificulta a cirurgia, ou têm aorta de porcelana, ou seja, a calcificação estende-se a toda a parede da aorta. O cirurgião não consegue operar porque é cálcio.

– É possível afirmar que este método é melhor?

– Não se pode comparar porque num caso os doentes são inoperáveis. Nestes, começa-se logo a notar melhorias. Alguns doentes morrem mas por outra causa, porque a estenose fica tratada.

VEJA AQUI A INFOGRAFIA DA IMPLEMENTAÇÃO DE VÁLVULA ARTIFICIAL

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