Dia Nacional da Água assinala-se na quarta-feira.
O especialista em gestão da água Afonso do Ó alertou esta terça-feira para a necessidade de refrear a procura de água, que não pode crescer infinitamente, e considerou que "mais regadio é andar ao contrário".
Consultor de águas e alimentação na organização ambientalista WWF Portugal, Afonso do Ó falava à Lusa a propósito do Dia Nacional da Água, que se assinala na quarta-feira.
Nas palavras do responsável, "a procura de água não pode crescer infinitamente, sob pena de serem os próprios agricultores os penalizados".
Salientando que escassez de água não é o mesmo que seca, mas sim a diferença entre a oferta e a procura, Gonçalo do Ó disse que não há muito a fazer quanto à oferta: Portugal já praticamente não tem onde construir mais barragens e é um dos países do mundo com mais barragens por quilómetro de rio.
Mas acrescentou que é preciso trabalhar na procura, limitando essa procura quando há escassez. Por exemplo: permitir mais regadio no Algarve é "quase criminoso".
Doutorado em Ambiente e Recursos Naturais e pós-doutorado em Gestão de Secas em Bacias Internacionais pelas Universidades do Algarve e Sevilha, trabalhando na gestão de água e desastres climáticos no Mediterrâneo, Afonso do Ó disse que sempre houve secas no sul do país.
Recordou que a seca de 1875 foi tão grave que o rei mandou construir a linha de comboio para Faro para poder dar emprego a pessoas que estavam a morrer de fome.
Mas disse também que as alterações climáticas vieram agravar a situação e que por isso era preciso ser-se "mais preventivo".
O responsável lamentou que a opção tenha sido investir no regadio, que é fortemente subsidiado, e numa agricultura intensiva que é quase toda para exportação.
"De um lado, este setor agrícola, e depois o outro, o dos que não têm água para tomar banho", diz, lamentando que não haja nenhum limite a esse crescimento, em termos de legislação.
Mesmo a água do Alqueva não pode chegar a todo o lado, o que aliás a própria administração já avisou, acrescentou.
Afonso do Ó admitiu que o regadio é hoje mais eficiente, mas alertou que tal não impede os problemas de escassez de água, caso se continue a aumentar a área de regadio.
O Governo apresentou este ano uma estratégia para a gestão da água, a que chamou "Água que Une", mas Afonso do Ó considerou que é no essencial um plano de investimentos "em infraestruturas para regularizar sítios que já não têm muita capacidade para serem regularizados".
"A barragem da Bravura, no barlavento algarvio, está quase sempre vazia porque foi feita numa ribeira pequena. Corre-se o mesmo risco" noutros locais.
"A estratégia não é solução. Não une coisa nenhuma e até muitos académicos não concordam", disse, acrescentando que são medidas avulsas.
Mas também disse que no âmbito da "Água que Une" no Algarve está a ser feito, e bem, um investimento na redução de perdas de água. "Não podemos pedir às pessoas para fecharem a torneira quando as redes de distribuição perdem 40 ou 50% da água".
Questionado pela Lusa sobre qual seria então a melhor estratégia para a gestão da água, Afonso do Ó apontou a política dos três R aplicada ao lixo: reduzir, reutilizar e reciclar.
"A água é um recurso finito e temos de reduzir o consumo, de todas as maneiras. E reutilizar sempre que possível. As águas pluviais não deviam ir para as sarjetas quando são águas praticamente puras", disse, lamentando que não se usem essas águas, nas cidades mas também nos campos, e apontando para a necessidade também de reciclar, de usar as águas residuais.
O que Afonso do Ó considera mesmo importante "é perder o medo de pôr limites à expansão do consumo de água", porque não se pode garantir mais uso em locais onde a água é já limitada.
A ONU assinala o Dia Mundial da Água a 22 de março e em Portugal, desde 1983, comemora-se a 1 de outubro o Dia Nacional da Água.
A data marca o início do ano hidrológico, que começa a 1 de outubro e termina a 30 de setembro. Assinala a altura do ano em que as reservas hídricas atingem o mínimo e quando começa o novo período chuvoso.
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