Entre os principais fatores de risco identificados estão as exigências quantitativas e emocionais, traduzidas em muitas horas de trabalho e exposição constante ao sofrimento.
Os cuidadores informais em Portugal enfrentam níveis muito elevados de exigência, falta de apoio e sinais preocupantes de desgaste físico e emocional, conclui um estudo esta quarta-feira apresentado no VII Encontro Nacional de Cuidadores Informais, no Entroncamento.
"Existem muitas exigências e poucos recursos para lhes fazer frente. É urgente apostar nos fatores de proteção e reduzir os fatores de risco para melhorar o bem-estar de quem cuida", afirmou esta quarta-feira à Lusa a coordenadora do estudo do Centro de Investigação e Intervenção Social do Iscte (CIS-Iscte), Ângela Romão.
A apresentação decorreu esta quarta-feira de manhã no Cine-Teatro São João, no Entroncamento, distrito de Santarém, no âmbito do VII Encontro Nacional de Cuidadores Informais, promovido pela Associação Nacional de Cuidadores Informais (ANCI) e pelo Centro de Ensino e Recuperação do Entroncamento (CERE), sob o tema "Dar voz aos Cuidadores Informais: Legislação e Medidas por Implementar".
O estudo, desenvolvido pelo CIS-Iscte em colaboração com a ANCI durante cerca de um ano, em período de pandemia, e que envolveu cerca de 200 cuidadores, teve como objetivo analisar os fatores psicossociais de risco e de proteção associados à prestação de cuidados informais.
Em declarações à Lusa, Ângela Romão explicou que o estudo procurou "avaliar os fatores psicossociais que caracterizam o ambiente de trabalho dos cuidadores informais e compreender o seu impacto na saúde e bem-estar".
"Achamos que o cuidado informal é visto como uma forma de trabalho, apesar de não ser reconhecido formalmente como tal. Queríamos investigar características relacionadas com o trabalho que influenciam a saúde e o bem-estar, e o que vimos foi que existem fatores protetores e fatores de risco --- e que predominam claramente os de risco", referiu a investigadora.
Entre os principais fatores de risco identificados estão as exigências quantitativas e emocionais, traduzidas em muitas horas de trabalho, exposição constante ao sofrimento da pessoa cuidada e falta de apoio e reconhecimento, nomeadamente por parte do Estado, declarou.
"A maioria dos cuidadores refere falta de apoio, falta de reconhecimento e sente-se injustiçada por representar um trabalho tão importante e pouco valorizado. Sentem-se invisíveis", disse, apontando a um "desequilíbrio" funcional.
"Existe um desequilíbrio: muitas exigências e poucos recursos para as combater. O que podemos fazer é apostar nos fatores de proteção e reduzir as exigências para que os cuidadores tenham melhor bem-estar e se sintam mais reconhecidos", acrescentou.
A investigadora salientou ainda que, "em termos de carga de trabalho e carga emocional, é como se quem cuida estivesse sempre em contexto de pandemia", dado que os níveis de pressão e cansaço se mantêm constantes mesmo fora de períodos de crise.
O estudo -- conduzido por Ângela Romão e Isabel Correia, do CIS-Iscte -- aplicou o COPSOQ II, uma ferramenta internacionalmente usada para avaliar riscos psicossociais em contextos laborais, adaptada ao contexto dos cuidados informais.
Os resultados apontam para exigências cognitivas e emocionais muito elevadas, escassez de recursos pessoais e institucionais, e baixa perceção de justiça e reconhecimento por parte do Estado.
Os cuidadores informais reportam falta de tempo, apoio e orientação, trabalhando frequentemente sem remuneração, formação adequada ou descanso, o que se reflete negativamente na sua saúde física e mental.
Segundo o estudo, a previsibilidade das tarefas, a transparência do papel desempenhado e a confiança nas instituições emergem como fatores protetores, mas ainda insuficientes.
"Responder às crescentes necessidades de cuidado de uma população envelhecida só será possível se se reconhecer e valorizar o papel insubstituível de milhares de cuidadores informais em Portugal", concluiu Ângela Romão.
O estudo foi realizado no contexto da pandemia de Covid-19, período em que os dados mostraram uma maior degradação da saúde mental dos cuidadores face à população geral.
Contudo, a carga de trabalho manteve-se semelhante à de períodos anteriores, sugerindo uma pressão constante sobre quem presta cuidados.
De acordo com a PORDATA, Portugal registava em 2024 o segundo índice de envelhecimento mais elevado da União Europeia, com 192,4 idosos por cada 100 jovens, e mais de metade dos cuidadores informais encontram-se em sobrecarga, segundo dados do Instituto da Segurança Social.
As investigadoras defendem a implementação urgente de medidas concretas que reduzam as exigências e aumentem os recursos disponíveis, nomeadamente através da aplicação efetiva do Estatuto do Cuidador Informal, aprovado mas ainda com execução limitada.
O encontro decorre ao longo do dia, terminando com a apresentação do Manifesto para os Direitos dos Cuidadores Informais e o lançamento do Observatório para os Cuidadores Informais, pela presidente da ANCI, Liliana Gonçalves.
A sessão contará ainda com uma mensagem do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
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