Estudo teve em conta uma amostra de 5.222 pessoas acima dos 16 anos, provenientes de 112 países.
Jovens que mergulham no mundo dos videojogos para fugir à realidade ou em busca de reconhecimento são mais vulneráveis a desenvolver perturbação, segundo um estudo que aponta que o tempo de jogo não é necessariamente sinal de alerta.
A conclusão é de um estudo conduzido por investigadores do Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (Ispa) e publicado esta semana nas revistas cientificas "Journal of Behavioral Addictions" e "Addictive Behaviors".
A partir de uma amostra de 5.222 pessoas acima dos 16 anos, provenientes de 112 países, Cátia Martins e Castro e David Dias Neto cruzaram várias dimensões psicológicas e diferentes estilos de jogos. O resultado: quatro perfis psicológicos de jogadores, com diferentes graus de risco.
Por um lado, os investigadores identificaram dois grupos que fazem um uso "positivo e socialmente integrado" dos videojogos e que representam a maioria dos jogadores.
O primeiro grupo é aquele que apresenta um "perfil eviante" e que representa 20,16% dos inquiridos. São sobretudo jogadores mais velhos, com boa regulação emocional e que jogam por lazer, preferindo interações 'offline'.
O segundo, e mais observado (38,95%) é um "perfil envolvido", composto por pessoas descritas como emocionalmente equilibrados e que conseguem integrar, de forma positiva, os videojogos na sua vida social.
Em entrevista à agência Lusa, Cátia Martins e Castro explica que estes utilizadores também jogam por lazer, mas privilegiam a partilha deste momento com amigos "da vida real" e familiares, e recorda alguns relatos de pessoas que vivem longe, por exemplo, dos filhos e encontraram nos jogos 'online' uma forma de passar algum tempo com eles.
O problema surge quando esta atividade começa a comprometer várias dimensões da sua vida. "O critério fundamental é a funcionalidade da pessoa", explica a investigadora, que refere implicações, por exemplo, na capacidade de estudar, no trabalho, nas relações familiares ou na socialização.
A perturbação de jogo digital, reconhecida pela Organização Mundial de Saúde, é diagnosticada quando existe um "impacto funcional significativo, perda de controlo e persistência dos sintomas por mais de 12 meses". Nem todos os jogadores são igualmente vulneráveis, por muito tempo que passem em frente ao computador, refere a investigadora, explicando que "o número de horas não é indicativo, 'per si', do uso problemático".
Para identificar os perfis mais vulneráveis, um dos principais indicadores é a motivação, acrescenta Cátia Martins e Castro, mas também a regulação emocional.
Com correspondência em 26,01% dos inquiridos, o "perfil relacional" já apresenta algum risco de uso problemático e é predominante entre jovens e pessoas de género não-binário, com alguma dificuldade na regulação emocional e que procuram, através dos jogos, reconhecimento e relações sociais, mas 'online'.
"Temos estes espaços que às vezes até são protetores e que são promotores de amizades, mas também podem ser misóginos e às vezes prejudiciais. Existe o risco de uso problemático, lá está, por este investimento muito relacional através dos videojogos, que pode prejudicar as relações do seu dia-a-dia", explica.
Menos comum, mas mais preocupante, é o "perfil desregulado" (15,78% dos inquiridos): jovens, maioritariamente rapazes e com baixos níveis de escolaridade, com sérias dificuldades emocionais, e motivações escapistas, ou seja, procuram nos jogos uma forma de fugir à realidade.
No entanto, os fatores de risco não se esgotam no indivíduo e os investigadores alertam para o impacto de características específicas de diferentes tipos de jogo, em concreto, componentes aditivas como recompensas, notificações personalizadas, o constante desbloqueio de novos objetivos ou os sistemas de pontuações.
"É um mundo que nós temos estado a tentar simplificar", apontou Cátia Martins e Castro, explicando que o principal objetivo destes perfis é facilitar o diagnóstico, mas também orientar programas de prevenção personalizados.
Para as famílias, a investigadora sublinha que os principais sinais de alerta sobressaem nas relações, até porque, muitas vezes, os próprios jogadores têm dificuldade em identificar as motivações por detrás daquela atividade.
"É numa conversa com os pais ou mesmo com os cônjuges", sugere, com perguntas como "Explica-me como é que se joga" ou "O que é que achas atrativo neste jogo".
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