"É saudável que uma sociedade possa rir-se dos seus dirigentes e é óbvio que quem exerce o poder é apelativo para humoristas", revelou o humorista.
O humorista Ricardo Araújo Pereira considera que trabalhar num país democrático facilita a vida, ao contrário do que acontece em alguns países lusófonos, e afirma que os motores de inteligência artificial não são rivais, porque "não têm graça nenhuma".
O humorista falava em entrevista à agência Lusa à margem do XIII Encontro de Escritores da Língua Portuguesa, que decorre até sábado na capital cabo-verdiana, no qual participa.
"Eu acho que a minha vida é muito facilitada pelo facto de nós vivermos numa democracia. Eu não corro risco nenhum. Os limites daquilo que eu posso dizer são muito elásticos", observa.
Ricardo Araújo Pereira entende que em alguns Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) é "muito mais difícil fazer uma piada sobre o poder político".
"É saudável que uma sociedade possa rir-se dos seus dirigentes e é óbvio que quem exerce o poder é apelativo para humoristas, por várias razões", afirma.
E prossegue: "É divertido que um palhaço acerte uma maçã podre na testa do senhor presidente, no senhor primeiro-ministro. Eu também gosto de acertar na testa de outras pessoas, mas quanto mais poderoso for a pessoa que leva com a maçã podre na testa, mais divertido é".
O humorista sublinha que a democracia portuguesa está hoje "perfeitamente consolidada" e que, "se os humoristas sentem algum embaraço relativamente àquilo que podem ou não podem dizer é muito mais relativo ao poder económico do que ao poder político".
Comentando um dos temas do encontro que decorre na Praia -- a inteligência artificial -, Ricardo Araújo Pereira revelou-se tranquilo, até porque os motores que consulta "não têm graça nenhuma".
"Já fiz experiencia com o GPT, DeepSeek (chinês), o Gemini e o Le chat (francês). O que tem mais graça é o chinês porque tem menos restrições, exceto se a gente lhe disser: Porque é que se diz que o Xi Jinping [líder chinês] parece o Winnie-the-Pooh?".
E a resposta será a mesma se lhe perguntarmos o que aconteceu em Tiananmen - ele encerra o assunto, conta.
Em 04 de junho de 1989, o exército chinês avançou com tanques para dispersar na Praça de Tiananmen, em Pequim, protestos pacíficos liderados por estudantes , que pediam reformas democráticas para o país, causando um número de mortos que ainda hoje é objeto de discussão.
"Do ponto de vista humorístico, eles são muito fracos. É difícil ter uma conversa com eles sobre limites de humor, até porque eles são sempre lisonjeiros com a pessoa com quem falam", afirmou.
Para o humorista, a inclinação destas ferramentas de inteligência artificial "é para uma visão muito puritana". "Fico satisfeito porque não têm graça nenhuma. Não é utilizável", embora possam "ajudar no trabalho prévio".
"Não é rival, até agora não é, até porque [a inteligência artificial] tem um certo puritanismo que o impede de fazer aquilo que a comédia permite, que é dizer coisas inadmissíveis. As pessoas riem-se porque o que nós estamos a dizer é inadmissível, estamos a dizer coisas dos próprios ou dos outros que não é educado dizer em público, no salão, e ele é muito obcecado em não transgredir", explicou.
E se a inteligência artificial não leva o escritor a recear ficar sem emprego, a atualidade portuguesa também não parece estar em risco de deixar de proporcionar matéria-prima para os momentos de humor.
"Se de repente as coisas começarem a correr mesmo bem no país e não continuarem as grávidas a parir na autoestrada, se toda a gente tiver uma casa para viver...".
E conclui: "No paraíso não há razão para rir".
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