De repente, tudo muda e onde havia silêncio passa a existir um barulho constante. Primeiro o doente estranha, mas depois o zumbido nos ouvidos entranha-se. É uma consequência de disfunções no aparelho auditivo, que nos casos mais severos pode ter profundas consequências no bem-estar dos doentes.
"Têm uma péssima qualidade de vida e tornam-se muito irritáveis. É um doente pouco predisposto para viver de forma alegre", disse ao CM Luís Meireles, chefe do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de Santo António, no Porto.
"Os casos mais dramáticos são aqueles cujo ruído é tão intenso, que lhes perturba o seu dia-a-dia", acrescenta.
O som que não sai da cabeça ganha diversos tons. Pode ser um apito ou o barulho da água de chuveiro, mas há quem fale do esvoaçar de um insecto ou de um frigorífico a trabalhar. Independentemente da forma, é a intensidade e a constância que os tornam, em alguns casos, insuportáveis.
Mas mesmo nos casos mais complicados, Luís Meireles defende que há factores que ajudam a controlar os sintomas. O doente deve manter-se calmo e o médico deve explicar o que lhe está a acontecer.
"Podemos obter sucesso quando depois de excluir, com exames, as situações perigosas, o doente aceita o que tem e consegue viver com o ruído. Não entra em conflito interno e enquadra os sintomas", garante o especialista. "No entanto, há pessoas que não o conseguem fazer e o zumbido ganha maior expressão. São os casos mais dramáticos", sublinhou.
O ruído no ouvido tem como pior causa o tumor cerebral, mas em 80 por cento dos casos há solução. "O zumbido, na maior parte dos casos, tem tratamento. Se o problema se situar no ouvido médio ou externo a resolução é fácil. Já no ouvido interno, há casos em que nada podemos fazer", conclui o médico.
Nos casos mais simples, uma limpeza ao aparelho auditivo e a remoção do rolhão de cerúmen (cera) é suficiente para resolver o problema. Também as infecções devido à entrada de água, durante o período balnear, são causas frequentes.
AS CAUSAS
OTOLÓGICAS
As otites, o rolhão de cerúmen (cera nos ouvidos) e a exposição permanente ao ruído são causas de zumbido.
METABÓLICAS
Doenças como a hipertensão, diabetes ou vasculares provocam alterações das células e há uma perda de audição.
FÁRMACOS
Há uma lista de mais de 70 medicamentos que podem ter como efeito secundário o ruído nos ouvidos.
VÍCIOS
O tabaco, o álcool e a cafeína em excesso são estimulantes que podem agravar os efeitos nefastos da patologia.
DISCURSO DIRECTO
"DAR APOIO AO DOENTE": Luís Meireles, especialista de Otorrinolaringologia
Correio da Manhã – Como se pode ajudar um doente com um grau severo de zumbido?
Luís Meireles – Em algumas situações não podemos dar ao doente uma cura, mas se lhe dermos apoio, alguma envolvência, parece que sai da consulta um pouco mais confortável.
– O que aconselha para diminuir a intensidade do ruído?
– Há pessoas com grandes dificuldades em dormir mas pequeninos truques como um rádio ou uma televisão num volume muito baixinho, podem ajudar a suportar.
– As perturbações do sono podem ser muito graves?
– Às vezes temos de dar um tranquilizante ao doente para poder dormir. Mas ainda assim há os que acordam a meio da noite e têm dificuldade em adormecer.
O MEU CASO: FERNANDO MARQUES
O DESESPERO DE UM RUÍDO
Começou há 30 anos com um ruído bastante ténue. Não parecia nada de grave, mas actualmente é o episódio mais marcante da vida de Fernando Marques, de 70 anos, que o martiriza todos os dias. "É como um frigorífico a trabalhar na cabeça. Está cada vez pior", lamenta o paciente mais antigo da consulta de Otorrino do Hospital de Santo António, Porto.
"Sou uma pessoa muito solitária e com este problema não gosto de me pôr em confusões. Faz-me mal. Até quando estou no café prefiro isolar-me", contou ao CM, Fernando Marques, um autêntico especialista na doença. Só o mar e o barulho das ondas o acalmam. "É o meu refúgio. Ali estou distraído e na pesca consigo esquecer um pouco este barulho", disse.
Fernando ouve mal tal como a mulher, o que dificulta a comunicação. Depois de três décadas à procura de cura, já perdeu a esperança. Só quer um pouco de paz.
PERFIL
Fernando Marques, de 70 anos, é natural do Porto, e não tem filhos. Combateu em Angola na década de 60 e atribui o zumbido no ouvido aos episódios traumáticos da Guerra Colonial.
A IMPORTÂNCIA DE TRANQUILIZAR
É importante que o médico explique ao doente que o zumbido não é uma ameaça para a sua vida. Uma palavra de conforto pode ser de vital importância para que o doente possa ter um quotidiano com qualidade de vida.
20 POR CENTO SÃO CASOS GRAVES
Vinte por cento dos casos de zumbido são considerados graves, com sofrimento associado. Nem sempre a intensidade do ruído é determinante. A ansiedade, bem como o stress podem ser agravantes do problema.
OUVIDO INTERNO CASTIGA MAIS
Os casos em que o zumbido se localiza no ouvido interno são os de mais difícil solução para os médicos. Normalmente, são situações irreversíveis. A surdez sensorial que ali surge, tem depois como consequência o ruído.
NOTAS
MASCARAR O RUÍDO
Um aparelho de música pode ser muito útil para mascarar o som que pode ser desesperante para o doente.
DISCOTECA PREJUDICA
Um estudo científico provou que depois da exposição ao som em discotecas há perdas ligeiras de audição.
DESPITAR TUMORES
Para despistar as causas mais graves de zumbido nos ouvidos, os tumores, há que fazer um TAC ou uma ressonância.
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