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Terceira idade sem limites

Conhecer os motivos pelos quais a diabetes ou os problemas cardíacos podem contribuir para a disfunção eréctil ou ainda como um útero atrofiado pode dificultar a penetração foram temas em debate numa aula de educação sexual realizada em Nova Iorque, EUA. Até aqui esta podia ter sido apenas mais uma lição, como tantas outras. Mas as quarenta pessoas que na plateia ouviram as explicações e conselhos conferiram-lhe o estatuto de notícia. Não é todos os dias que se dirige o tema da sexualidade aos seniores, aqui com idades entre os 70 e os 80 anos. Isto porque, tal como referiu o organizador desta palestra, “em termos sexuais a vida só acaba quando termina”.

04 de novembro de 2007 às 00:00

Desengane-se quem pensa que envelhecer tem de ser sinónimo de fim de uma vida sexual activa. Não só o desejo existe como, mais do que isso, manter acesa a chama da paixão na cama tem vantagens que vão muito além do prazer imediato.

É a Ciência que esclarece que os que praticam mais se-xo na terceira idade são também os mais saudáveis. “Há uma melhoria na parte psicológica e também na física”, confirma Nuno Monteiro Pereira, presidente da Sociedade Portuguesa de Andrologia.

A receita para um envelhecimento saudável parece ser simples e fácil de seguir. Basta manter a prática de exercício físico, comer de forma equilibrada e praticar sexo, já que a actividade na cama reduz em 50 por cento os estados depressivos e põe fim à ansiedade, melhorando ainda o tónus muscular e cardíaco.

SEXO SEM IDADE

Os estudos não abundam, mas a julgar por um inquérito realizado por terras norte-americanas, os mais velhos, com idades entre os 57 e os 85 anos, não passam as noites a ver televisão. Ao todo, segundo dados do estudo realizado a pedido dos institutos nacionais de saúde dos Estados Unidos, são 73 por cento as pessoas com mais de 56 e menos de 65 anos que têm relações sexuais com regularidade. Uma percentagem que cai à medida que a idade aumenta, mantendo-se, no entanto, acima dos 50 por cento (53) entre os 65 e os 74 anos.

Em Portugal escasseiam os números, mas estes não são obrigatórios para comprovar que o tema da sexualidade na terceira idade está ainda muito envolto em diversos mitos.

“Apesar de tudo, hoje já não é tanto um tabu como antigamente, porque homens e mulheres vão sabendo que ter relações sexuais não é vergonha, não é antinatural”, avança Nuno Monteiro Pereira.

A TERCEIRA IDADE POR BAIXO DOS LENÇÓIS

Tanto o homem quanto a mulher podem ser sexualmente activos na terceira idade. No entanto, as mudanças fisiológicas provocadas pelo passar do tempo colocam alguns obstáculos, que inviabilizam a prática de muitas relações íntimas. Adaptar-se e compreender estas transformações são passos necessários para impedir que o sexo morra.

MULHER - MUDANÇAS FISIOLÓGICAS

A NÍVEL ENDÓCRINO

- As mamas ficam menos firmes e mais planas

- Diminuição do tamanho do útero e dos ovários

- Os músculos vaginais e a zona perineal ficam mais frágeis, diminuindo as contracções da vagina na fase orgásmica

APARELHO GENITAL

- Os lábios maiores e menores perdem elasticidade. Há atrofias dérmicas e epidérmicas, tanto nestes como na vulva

- A falta de estrogénio provoca uma menor lubrificação. A mucosa fica mais seca

- O clitóris tem menor capacidade de excitação. Pode demorar até cinco minutos a ser estimulado

HOMEM - MUDANÇAS FISIOLÓGICAS

A partir dos 40 anos o número e a qualidade do sémen diminuem. Mas a verdade é que metade dos homens de 70 anos tem uma abundante espermatogénese. Os problemas mais importantes devem-se a situações circulatórias, concretamente com a chegada de sangue à zona genital, normalmente por culpa da hipertensão ou da aterosclerose.

- Diminui a testosterona

- A excitação é mais lenta

- O tempo que medeia da erecção até à ejaculação diminui

- Diminui a sensibilidade genital, pelo que a estimulação deve prolongar-se para a erecção se manter. O homem jovem precisa de 15 a 30 segundos. Nos mais velhos pode chegar até aos dez minutos

- A próstata fica mais dura a aumenta de tamanho. A glândula mostra deficiências funcionais

FACTORES QUE INFLUENCIAM A SEXUALIDADE DELES E DELAS

- Menor intensidade nas relações sociais

- A atracção física diminui

- Doenças crónicas e uso de medicamentos

- Falsos mitos sobre a impossibilidade de ter relações

- Falta de um parceiro por viuvez

- Esgotamento físico e psíquico

- Crenças religiosas que ligam o sexo ao pecado

- Receio do fracasso

EDUCAÇÃO PARA OS MAIS VELHOS

O tema foi, durante muito tempo, um absoluto tabu, mas diz quem sabe que é cada vez mais importante falar sobre a problemática da sexualidade na terceira idade e fazer com que os mais velhos partilhem as suas dúvidas, dificuldades e expressem os seus medos. Logo ao lado da comunicação surge a informação, ou seja, dar a conhecer todos os dados sobre as transformações fisiológicas próprias do envelhecimento é imprescindível para que homens e mulheres sejam capazes de se adaptar a novas situações. O ingrediente seguinte da receita para uma educação sexual na velhice é afastar de vez as falsas crenças sobre o sexo e combater as dificuldades psicossociais que limitam a sexualidade a partir de uma certa idade. E, ao mesmo tempo, modificar a mentalidade da sociedade no que diz respeito à sua concepção sobre as relações íntimas dos mais idosos. Finalmente, é preciso ainda passar a mensagem, defendida pela maioria dos especialistas, que refere a disponibilidade de tempo como uma das principais vantagens dos mais velhos. É que na terceira idade tem-se todo o tempo do mundo para explorar novas formas de desfrutar do sexo.

NOVAS TECNOLOGIAS AO SERVIÇO DO AMOR

“Amizade leal, sincera e carinhosa.” São estas as palavras que um homem de 75 anos, residente na zona de Lisboa, usa para descrever a relação que gostaria de ter com uma mulher entre 45 e 65 anos. Diz-se viúvo, apreciador de música, dança e de “navegar na net”. Trocou a tradicional forma de procurar uma companhia pelos meios mais modernos. Foi no site www.match.com que decidiu lançar o apelo. Como ele, outros viúvos, separados ou solteiros apostaram nas novas tecnologias, nomeadamente a internet, para combater a solidão. Portugueses são ainda poucos, mas já é possível encontrar homens e mulheres com mais de 65 anos à procura de relacionamentos mais ou menos sérios, que deixam naquele que é descrito como “o portal de encontros n.º 1 do Mundo” apelos, em forma de anúncio, onde revelam um pouco das suas qualidades e do que gostariam de encontrar na cara-metade. Prova de que a terceira idade está cada vez mais atenta às potencialidades da internet, inclusive quando o tema é amor ou sexo.

DESEJO

É verdade que os homens mais velhos podem ter uma erecção mais lenta, mas são capazes de controlar melhor a ejaculação do que os jovens. Quanto às mulheres, depois da menopausa muitas sentem um desejo acrescido, que se faz acompanhar por um prazer mais intenso.

DISFUNÇÃO

Com o avançar da idade há um aumento da prevalência de diferentes disfunções sexuais, com origem em problemas médicos, psicológicos ou como consequência da toma de alguns medicamentos. No entanto, a Medicina tem hoje mais armas para fazer frente a estes problemas.

MOTIVOS

Muitos são os idosos que afastam o erotismo das suas vidas por outros motivos além dos problemas físicos. Para homens e mulheres, a relação entre sexualidade e juventude torna-se um obstáculo mental que faz com que elas se sintam menos atraentes e eles mais receosos.

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