Diretor-geral do JN e TSF saca milhares de grupo à beira do colapso
Domingos Andrade cobra montantes milionários de ajudas de custo, tem cartão de crédito de 5 mil euros e apresenta despesas fictícias: 600 euros para gasóleo de... carro elétrico.
São várias as acusações, algumas delas sustentadas em documentos, contra Domingos Andrade, atual diretor-geral editorial do ‘Jornal de Notícias’ e da TSF e administrador da Global Media. Há suspeita de gestão danosa no grupo que possui aqueles títulos de media, designadamente permitindo o pagamento de verbas absolutamente milionárias ao então diretor e administrador, o que levou “à delapidação do património” do grupo.
Vejamos alguns exemplos do caso que agora foi participado ao Ministério Público e à Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Em janeiro de 2022, numa altura em que a empresa já passava por uma difícil situação financeira, Domingos Andrade recebeu ajudas de custo de 12 500 euros líquidos, num único mês A isso acrescia o vencimento-base de 6500 euros, mais 1629 euros de isenção de horário de trabalho e 651 euros pela flexibilidade laboral. O vencimento do então diretor/administrador naquele mês foi ainda complementado por cinco mil euros em cartão de crédito, mais o pagamento da renda de casa em Lisboa.
Em fevereiro do mesmo ano, o recibo de vencimento de Domingos Andrade, pago pela Global Media, encerra ainda outra novidade. Domingos recebeu um PPR (Plano Poupança Reforma) no total de 21 229 euros.
Outro recibo junto à denúncia dá conta de pagamentos idênticos. Em maio de 2023, Domingos Andrade volta a receber 12 562 euros em ajudas de custo, numa altura em que já havia salários em atraso no grupo.
Acresce ainda o que a denúncia chama de “despesas fictícias”: quando o principal acionista, Marco Galinha, já estava em processo de negociação e venda da sua posição maioritária, Domingos Andrade apresentava faturas mensais na ordem dos 600 euros de gasóleo para a viatura elétrica Tesla. “Não contente com o abuso e dano para a empresa, estendeu essa possibilidade a outros quadros da empresa”, pode ler-se na queixa em que se dá conta de que a Global pagava 1800 euros por mês pelo aluguer daquele carro topo de gama.
Acusado de ameaçar e pressionar direções O não pagamento dos salários de dezembro aos jornalistas do grupo Global Media motivou no final do ano passado uma verdadeira onda de choque. Várias greves chegaram a colocar em risco os projetos, e depois de um requerimento do Bloco de Esquerda foram vários os quadros do grupo que foram ouvidos no Parlamento.
Um dos discursos mais emocionados foi o de Domingos Andrade. De forma emotiva, disse aos deputados que a Global Media estava a “partir a espinha das redações pela fome”, e criticou o impacto das decisões que foram tomadas na vida dos jornalistas e na viabilidade dos próprios órgãos de informação.
A denúncia agora chegada à ERC imputa a Domingos Andrade comportamentos idênticos aos que acusou o fundo que tentou comprar a posição de Marco Galinha da Global Media. “É público a indicação dada por Domingos Andrade a ex-diretores do grupo proibindo-os de fazer qualquer convite ao Presidente da República ou ao primeiro-ministro para entrevistas ou outro tipo de trabalhos sem passar por ele”, pode ler-se no documento, em que há acusações de que Domingos Andrade fez ameaças, coações e pressões a vários jornalistas.
Refira-se, ainda, que no âmbito da ‘Operação Babel’ Domingos Andrade foi apanhado numa escuta a dizer ao presidente da Câmara de Gaia que os elogios a António Costa que tinha feito num comentário televisivo não eram gratuitos. Diz o Ministério Púbico que também trocou uma notícia por um contrato de publicidade nos referidos grupos.Outra denúncia diz respeito à contratação de uma empresa de Vila Nova de Famalicão para desenvolver a migração dos sites do grupo, "sob o pretexto de se tratar de uma startup com capacidade e experiência no mercado". "Do seu portefólio apenas se destaca a prestação de serviços para o Futebol Clube do Porto (....) e o inevitável aconteceu. A total incapacidade para desenvolver e corresponder aos trabalhos que contratualizou", lê-se no mesmo documento, em que se diz que a empresa só foi contratada devido à sua forte ligação a Domingos Andrade. "Foi dinheiro deitado à rua."
Super Dragões usados para pressionar
A denúncia dá conta de que Domingos Andrade mantinha uma relação privilegiada e promíscua com os Super Dragões que foram usados muitas vezes para fazer ameaças dentro do grupo. É também denunciada a proximidade com Bruno de Carvalho e a ligação à empresa de comunicação que tinha sido usada para criar centenas de perfis falsos na Internet que se dedicavam apenas a fazer ameaças a quem criticasse o então dirigente.
Outra denúncia diz respeito à contratação de uma empresa de Vila Nova de Famalicão para desenvolver a migração dos sites do grupo, "sob o pretexto de se tratar de uma startup com capacidade e experiência no mercado". "Do seu portefólio apenas se destaca a prestação de serviços para o Futebol Clube do Porto (....) e o inevitável aconteceu. A total incapacidade para desenvolver e corresponder aos trabalhos que contratualizou", lê-se no mesmo documento, em que se diz que a empresa só foi contratada devido à sua forte ligação a Domingos Andrade. "Foi dinheiro deitado à rua."
INDEMNIZAÇÃO 130 MIL EUROS
A queixa que entrou no DCIAP e na PGR diz que Domingos Andrade aquando da sua saída no final do ano passado exigiu receber 130 mil euros de indemnização, embora nunca tivesse saído do grupo. Diz que o dinheiro lhe foi pago através de uma empresa associada do grupo de Marco Galinha.
Crimes fiscais
Estão em causa suspeitas de gestão danosa e também crimes fiscais. O pedido ao Ministério Público é de que investiguem o delapidar do património do grupo.
mão à palmatória
A notícia publicada na edição de quarta-feira com o título ‘Trabalhadores a recibo verde suspendem colaboração’ (página 30) é ilustrada com uma fotografia cuja legenda estava incorreta: onde se lia “colaboradores da Media Capital” devia ler-se “colaboradores da Global Media”. Pelo facto pedimos desculpa aos leitores e aos visados.
O CM tentou ouvir Domingos Andrade. O administrador/jornalista não respondeu aos nossos contactos e recusou explicar o que agora é denunciado à Justiça.
A PGR e a ERC não responderam em tempo útil aos contactos feitos pelo Correio da Manhã. A PGR disse que ia tentar localizar o processo, a ERC acusou a receção do email.
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