Zombies de volta à moda de Hollywood

O medo do desconhecido é uma fórmula que Hollywood conhece de cor e, no caso dos zombies, o filão não pára de crescer. Numa altura em que Walking Dead (Fox) caminha a passos largos para o final da sexta temporada, o spin off da AMC, Fear the Walking Dead, prepara com pompa e circunstância o regresso da segunda série.

A menos de duas semanas da estreia – que ocorre no dia 10 de abril nos EUA e é exibida no dia seguinte em horário nobre (22h10) em Portugal –, o CM comprovou que há cartazes em cada esquina de Hollywood Boulevard, em Los Angeles. O poster da nova temporada, em grande parte passada num barco, é sugestivo: no meio das águas calmas do oceano, um pôr do sol quente dá uma falsa noção de placidez.

Com as nuvens a criarem um efeito gráfico subtil que é semelhante ao horror do que resta de um rosto de um morto-vivo.

Os valores de produção querem corresponder às expetativas, que estão muito altas. Até porque Fear the Walking Dead teve, nos seis episódios da primeira temporada, a mais elevada audiência de sempre de uma série norte-americana de televisão por cabo, batendo o recorde obtido cinco anos antes pela produção original, Walking Dead.

Esta prequela conseguiu no verão do ano passado atrair cerca de onze milhões de espectadores todas as semanas só nos Estados Unidos e comprovou que há um público novo que quer conhecer a génese do terror e que não seguia a série anterior.

Mar morto

A segunda leva de Fear the Walking Dead será composta por 15 episódios e a ameaça vai ocorrer a bordo de um barco, o Abigail.

Numa altura em que a epidemia se dissemina, mas ainda longe do apocalipse verificado na série-mãe, as personagens tentam manter-se à tona. E ainda acreditam na existência de um porto seguro, livre dos mortos-vivos que, afinal, não deambulam apenas em terra.

Por outro lado, Madison (Kim Dickens), o namorado Travis (Cliff Curtis) e os filhos de ambos, tal como o hispânico Daniel Salazar (Ruben Blades) e a filha Ofelia (Mercedes Mason) terão também de enfrentar várias ameaças de outra natureza igualmente perigosa, a humana.

"Lado negro de nós próprios"

"A primeira série foi interessante porque permitiu ver que as pessoas que pensávamos que nos iam proteger e salvar não o fizeram. Na segunda série, tornamo-nos refugiados", explicou o ator Cliff Curtis na apresentação à imprensa, em Hollywood, nesta terça-feira, na qual o CM participou.

Sobre a atração do público por zombies, o intérprete de Travis diz não ser fácil percebê-la: "É como ter de lidar com o lado negro de nós próprios. Não o colocamos assim tão negro, combinamo-lo com o entretenimento, de um modo que não queremos enfrentar na nossa vida."

Ciente de que as figuras centrais de Fear the Walking Dead estão agora a agir "com base no medo", Cliff Curtis garante que a segunda série trará novas personagens e "um novo Mundo", num estilo mais próximo de A Guerra dos Tronos do que o original Walking Dead: "Na outra série, o Rick nunca irá morrer… Nesta, há muitas outras possibilidades."

Caminhar sem medo

Aos 68 anos, o veterano panamenho Ruben Blades, que, além de ator, é músico, compositor, pintor, advogado e até ex-candidato à Presidência da República do Panamá viu em Daniel Salazar uma forma de desenvolver uma personagem a longo prazo, que é também um símbolo da comunidade latino-americana.

"Há quem simpatize com a minha personagem, o Daniel, por ser alguém que reage. Há os que o admiram também por ser um homem de família", justifica Blades, deixando antever que há um passado que vai expor novas revelações de caráter.

"É uma série que levanta uma série de perguntas, não é de escape. Este é um Mundo onde não há religião, não há Lei, não há estruturas morais. As personagens sobrevivem com a família ou com alguém melhor do que a família. São questões muito sérias", refere o ator, que se apresentou aos jornalistas de camisola negra, curta, com uma inscrição que, alega, é da sua autoria: "O Mundo só será dos que caminham sem medo."

Nem a propósito, o primeiro episódio da segunda série de Fear the Walking Dead chama-se Nenhum porto é seguro.