Há quem diga que Herman José perdeu o sentido de humor. Em conversas e por vezes na Imprensa, as críticas sucedem-se, não raro impiedosas. Os detractores falam dos programas que fizeram época na RTP, em contraponto aos “talk shows” dos anos mais recentes. Cinha Jardim chegou mesmo a classificá-lo como “um ser perdido”, “desesperado com as baixas audiências que tem tido”. E há já quem fale em sucessores…
Em 1983, Herman José antecipou em nove anos a quebra do monopólio televisivo estatal. Em Outubro desse ano toda a gente via na RTP1 telenovelas, programas de variedades, blocos informativos e anúncios nas deliciosas versões de Herman José, exibidas em “O Tal Canal”. Cada episódio da original série humorística era aguardado com grande expectativa, e algumas das bizarras deixas das figuras interpretadas pelo comediante entraram na linguagem corrente. Portugal tinha finalmente um novo humorista televisivo, um sátiro não raro implacável, cujas farsas nos punham bem humorados. Com Herman, nós, portugueses, mirávamo-nos ao espelho, e gostávamos do que víamos.
Que é feito do Herman José de programas tão originais, inventivos e irreverentes como “Hermanias”, “Humor de Perdição” e “Herman Enciclopédia”? Há cada vez mais vozes que afirmam que o actual apresentador de “Herman SIC”, “talk show” que explora a fórmula iniciada ainda na RTP com “Parabéns”, se acomodou. Herman tem piada? Não terá o seu tempo já passado? Há quem diga que sim, há quem opine que não. E há quem fale já em novos nomes de comediantes que despontam, embora ninguém arrisque fazer uma aposta firme.
Pelas opiniões manifestadas, Herman ainda guarda algum fôlego, embora esteja já longe das provas de criatividade e irreverência que manifestou no famoso “Entrevistas Históricas”, que lhe valeram a suspensão do programa na então única estação existente em Portugal. Esperemos pelo programa que se segue.
“Não há monopólios”
Para Francisco Nicholson, “não há monopólios”. Segundo o actor e argumentista, “como todos os humoristas, o Herman José umas vezes tem mais graça, outras menos. Mas continua a ser um homem com grande talento e inspiração. Quanto a um comediante que o possa substituir, acho que as pessoas não se substituem umas às outras. Tal como o Herman não substituiu o Raul Solnado, e vice-versa. O tecido artístico complementariza-se. Não há monopólios de talento, da graça, da empatia…”
“Fenómeno pimba atingiu o humor”
João Braga é de opinião que o fenómeno pimba alastra na sociedade portuguesa. “Não sei se o Herman perdeu as qualidades que tinha… Não vejo televisão portuguesa porque o fenómeno pimba das canções atingiu a política, o futebol, a representação, o humor… A imagem que guardo do Herman é a do comediante do “Tal Canal”, do “Humor de Perdição”… e até dos “Parabéns”. Um substituto para o Herman? Há lugar para todos. Pena é que os outros talentos se percam em programas rascas de televisão, na piada grossa e fácil. Estes talentos estão a ajudar a embrutecer o gosto e o nível dos telespectadores”, afirma o cantor.
“Imbatível a fazer rábulas”
O maestro e compositor António Victorino d’Almeida diz que “Herman tem sempre graça, os programas dele é que têm cada vez menos graça. Ele é imbatível a fazer rábulas, mas o facto de o programa estar estruturado em entrevista leva ao sub aproveitamento das capacidades do Herman José. O Camacho Costa uma vez recuperado, como se espera e deseja, é um extraordinário cómico.”
“Algum crédito há-de ter”
Guida Maria começa por avisar de que não é “grande consumidora de televisão.” E acrescenta: “O que posso dizer é que o Herman umas vezes tem mais graça do que outras. Mas se está há tantos anos a fazer este tipo de programa é porque algum crédito há-de ter. E não há nada que desgaste mais uma imagem do que a televisão… Quanto a novos valores… há tanta gente com qualidade, mas só os vejo nas novelas! Não estou a dizer que não haja um talento capaz de igualar o Herman José, mas não estou a ver nenhum… Mas também não vejo darem oportunidades às pessoas…
Para Helena Ramos, “Herman José terá sempre graça.” A apresentadora da RTP sublinha que o comediante “é um excelente profissional, com imenso talento e com uma piada muito própria, que me faz delirar. Temos bons comediantes em Portugal, mas não com a projecção e a experiência do Herman, até porque a escola dele é inimitável. O próprio Herman tem dado oportunidades a gente nova, a gente que trabalha com ele. Mas no campo da comédia será sempre mais difícil fazer carreira do que no drama.”
Teresa Guilherme, que trocou alguns “piropos” ácidos com Herman aquando da atribuição dos Globos de Ouro, não se mostra crítica em relação ao apresentador de “Herman SIC”. “Claro que o Herman José ainda me faz rir! Quanto a um novo comediante, até agora não apareceu nenhum. Mas acredito que algum da nova geração possa brilhar na comédia. Há sempre gente com qualidade a aparecer. Mas Hermans Josés e Amálias Rodrigues não aparecem todos os dias… Vamos ter de esperar mais algum tempo por um outro Herman José”, afirma a apresentadora dos sucessivos “Big Brothers”.
Alexandra Lencastre afirma que “Herman continua a fazer rir. E continuará ad eternum.” A actriz considera que “além do imenso talento que tem, Herman é um homem inteligente e um óptimo gestor da sua imagem e carreira. Há muitos humoristas com graça, mas ele é o mais completo. E tenho a certeza de que se pudesse, o Herman faria um programa diferente, mais ao seu gosto… Porém, às vezes, os artistas são apanhados por acontecimentos e circunstâncias mais adversas. Mas há outros excelentes comediantes, a Maria Rueff, o João Baião, o Joaquim Monchique, a Marina Mota, a Rita Blanco, o Fernando Gomes, no teatro… Cada um deles com um estilo e talento muito próprios.”
Para Isabel Angelino, “Herman continua a ser o maior humorista em Portugal, até porque não existem muitos que lhe façam frente.” A apresentadora da RTP acrescenta: “É claro que gosto mais dele enquanto criador de personagens do que como apresentador. Embora tenha saudades dele na RTP, acho que continua a ser um grande humorista, mas com um estilo diferente. Julgo que todos o reconhecem assim.”
“Momentos de grande piada”
Luísa Castel-Branco faz um pré-aviso: “Isto de opinar sobre as carreiras dos outros tem muito que se lhe diga.” Mas sempre acrescenta: “Acho que o Herman José tem momentos de grande piada. Hoje ele tem um humor diferente e um grande grupo de profissionais a trabalharem com ele. Além disso, não se esqueçam que não há nada mais difícil do que fazer rir os outros.”
“Preguiçoso e acomodado”
Miguel Sousa Tavares, comentador da TVI e publicista, já gostou de Herman José. A sua opinião, agora, é muito crítica. “O Herman José não me faz rir há mais de dez anos. Tornou-se um comediante preguiçoso e acomodado. No panorama português há várias pessoas capazes de o substituírem. Por exemplo, a Maria Rueff. Ou o António Feio. É só uma questão de lhes darem as mesmas oportunidades que o Herman José teve e que tem vindo a desperdiçar”, argumenta.
O crítico de televisão Eduardo Cintra Torres é de opinião que Herman José o faz rir menos. Segundo este conhecido crítico, “O Herman faz-me rir menos do que há 20 anos. Porquê? Porque pretende chegar a um público mais vasto e isso obrigou-o a alterar o estilo! Mas ainda faz rir as pessoas e é um bom comediante. O Herman José apresentador poderá ser substituído pelo Rui Unas, que terá certamente um grande futuro num ‘talk show’ num canal generalista. Em relação a um outro comediante… Não estou a ver ninguém… A Maria Rueff não quis fazê-lo… Não quis romper com a vida de comediante que leva.”
Rui Unas: “Aburguesou-se um bocado”
“Não posso dizer que o Herman está no seu auge, mas está em boa forma. Aburguesou-se um bocado, é verdade, mas todos nós o fazemos”, afirma Rui Unas. Moderno e irreverente, o apresentador do “Cabaret da Coxa” (SIC Radical) é, na opinião de muitos, o provável sucessor de Herman. Ele agradece o elogio, mas diz que tal nunca virá a acontecer. “No ‘Cabaret da Coxa’ dou a conhecer a minha faceta mais humorista, mas daí a ocupar o lugar do Herman vai uma diferença abismal”, salienta o apresentador. “Não sou humorista, que é um actor, e eu respeito demasiado essa profissão para dizer que sou actor. Sou apresentador e faço o meu trabalho com uma vertente cómica, só isso.”
Rui Unas salienta que ele próprio foi muito influenciado por Herman José. “Não o imito nas frases e nos jeitos, mas o seu tipo de humor reflecte-se no meu trabalho.” O apresentador diz que não está sozinho, pois considera que os humoristas e profissionais de televisão em particular, e os portugueses em geral foram influenciados pelo humor de Herman José, salientando que, sem ele, “o quotidiano das pessoas seria muito mais triste e cinzento. ”Para Rui Unas, “o ‘Tal Canal’ teve o seu tempo, e se fosse transmitido agora não teria o mesmo impacto. Há coisas que não se podem repetir. Os programas do Herman como o ‘Tal Canal’ e o ‘Humor de Perdição’ foram geniais porque ele os fez naquele momento. Talvez daqui a uns anos tenhamos saudades do ‘Herman SIC’”.
O apresentador do “Cabaret da Coxa” destaca que fazer um programa como o “Herman SIC” não é nada fácil. “O talk show é um dos formatos mais nobres de televisão. O Herman tem de ser versátil, pois escreve as piadas, apresenta, faz os ‘skatches’ e ainda prepara e conduz as entrevistas. Além disso, é um programa em directo, feito ‘sem rede’. Os outros eram gravados e podia sempre repetir algo que corresse mal.” Para concluir, Rui Unas diz que “há um lado mais louco do Herman José que ainda está para surgir. Ele ainda nos pode dar muitas surpresas.”
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