Começou na Rádio e assentou praça na RTP. O rosto da TVI 24 só lamenta não trabalhar há mais tempo na televisão privada.
TVI 24 arrancou há um mês. Qual o balanço?
Positivo. Foi um mês de grande pressão. Ampliar uma redacção para satisfazer as necessidades do novo canal não foi tarefa fácil. A realidade nunca corresponde ao que se ficciona, houve alguns pequenos ajustes, mas nada de importante foi alterado.
Que arestas vai limar?
Ando tão absorvido pelo que tenho de fazer diariamente que ainda não tive tempo para parar e avaliar. Agora estou a planear a conversa de logo à noite com os três elementos do painel do ‘Roda Livre’. Se as pessoas não estão disponíveis é preciso encontrar outras ou substituir o tema. A minha guerra é assegurar os convidados. Quando o faço sou um homem tranquilo.
É o rosto da TVI 24. Como sente esta autoridade?
Sou o mais velho... A idade não é um posto e eu interrogo-me e inquieto-me todos os dias. Tenho é cabelos brancos, o que me dá algum patriarcado sobre a redacção. Mas reconheço que olham para mim com carinho e simpatia.
Os principais pivôs devem ter cabelos brancos? Ou seja, às qualidades de jornalista devem somar a experiência?
Claro que sim, embora eu tenha começado com a idade deles. Quando fui chamado a apresentar jornais tinha 30 anos, que é a idade que tem a maior parte deles agora. Aos 30 fiz emissões importantes, actos eleitorais de relevo, e quando cheguei à TV olhei para o espelho e achei que parecia um miúdo. Percebi que tinha de falar para o meu pai, que tinha 60 anos, e para uma população para a qual eu era um miúdo. E fiz aquele velho truque do Felipe González e de um pivô francês que foi pintar o cabelo de branco. Isto é, envelheci-me. Sem pintar o cabelo de branco...
Transfigurou-se.
Ganhei peso para as pessoas não verem ali um miúdo. Quanto à sobriedade está em mim, tem a ver com a minha formação em Engenharia. Era um curso exigente ao nível do rigor e da conclusão. O engenheiro tem de concluir, cumprir prazos, ser o mais económico possível e oferecer garantias (para que pontes e prédios não caiam). Talvez eu já tivesse algum jeito para ser sintético. Sou o tipo da síntese.
É um pivô sintético e tranquilo?
Num jornal, 90% das notícias que damos geram inquietação: crise, desemprego, acidentes... Se o apresentador ainda tem uma postura intranquila, o cenário torna-se desesperante. Alguém tem de transmitir tranquilidade. Sem deixar de reflectir sobre a realidade.
No dia da estreia da TVI 24 disfarçou a tranquilidade?
Nesse dia, os jornalistas perguntavam-me: “Está nervoso?” Eu dizia: “Não”. É claro que estava, mas o tal tipo de cabelos brancos não podia ser mais um factor de perturbação. Já bastava o nervoso miudinho que andava por aí.
Concorda com Eduardo Cintra Torres, que diz que os pivôs “são instituições demasiado importantes” para estarem sempre a ser mudados?
Concordamos todos. Tem havido alguns sobressaltos com mudanças de pivôs, por razões várias: as redacções aumentaram, os tempos de informação também, há mais canais, há recurso a mais caras... Você conhece a personalidade de um apresentador que faz um jornal há uns anos, quando liga a TV sabe com o que conta, tem referências dele. Isso dá-lhe confiança. O pivô não pode ser um factor de perturbação.
É aceitável, pertinente, o comentário breve que alguns pivôs fazem às notícias?
É. E é uma das minhas imagens de marca, que não tenho usado muito porque ainda não estou à-vontade no estúdio. Eu faço o pivô para lançar uma peça com tom noticioso, seco. E, no final, antes de passar para outra peça, posso esboçar um sorriso ou tecer um comentário... É um sinal para o espectador de que não ficámos confortáveis com aquela notícia. O jornalista também pensa, também se inquieta com o que se passa no Mundo.
Que acha do piscar de olho de José Rodrigues dos Santos?
Isso é lá com ele!
Que recorda dos 22 anos ao serviço da RTP?
Muita coisa boa. Foi lá que comecei, que assentei praça e conheci muita gente da TV e de outros meios. Guardo momentos empolgantes, como o surgimento da cor, o arranque do segundo canal com autonomia. A redacção, liderada por Fernando Lopes e Hernâni Santos, era fantástica. Irrepetível.
A ERC chumbou as duas candidaturas ao 5.º canal. Quer comentar?
Houve ali qualquer coisa que não correu bem. Pensava-se que existia só um concorrente. Mas o aparecimento de um segundo concorrente, em cima do fecho, perturbou tudo. A ERC foi surpreendida porque o jogo estava preparado para se resolver mais tranquilamente.
Que acha do desempenho da ERC enquanto órgão regulador?
Os problemas que se põem com os media deveriam ser regulados nos tribunais comuns. Numa actividade como o jornalismo não consigo entender esta tutela.
Uma das reportagens da sua vida foi a queda do Cessna, em Camarate, em 1980. É verdade?
Foi a mais curta reportagem que fiz. Tem 40 ou 50 segundos. Mas foi a de maior impacto. O mérito não é do trabalho, mas das circunstâncias da morte do dr. Sá Carneiro e acompanhantes. Foi a reportagem que mais me frustrou.
Porquê?
Eu ter estado ali é que foi um acidente, porque ia fazer um comício da Carmelinda Pereira e Aires Rodrigues. Cheguei a Camarate cedo, ainda havia chamas e os corpos estavam dentro do avião. O espectáculo era horrível. Na altura não havia telemóveis e eu relatei o acidente sem saber quem eram as vítimas. Com o filme arranquei para a redacção, porque um bombeiro me disse que um dos ocupantes seria “uma alta figura militar”. Só no Lumiar conheci a identidade das vítimas. Aí lamentei não ter lá ficado. Estava na História, vi a História e não soube que estava a viver a História. Ficou um sentimento de frustração.
DA RTP À TVI
PÚBLICO VS. PRIVADO
Henrique Garcia diz que há uma grande diferença entre trabalhar para um canal público e um privado: “Este é muito mais ágil. As quintas e as cátedras que existem no serviço público não se sentem no privado. Na RTP, se quisesse visionar uma peça tinha de pedir a alguém que me abrisse a porta e pusesse a cassete porque só ela podia mexer no equipamento. Na TVI a estrutura é mais ágil. Às vezes, basta mudar de sítio para passarmos a ser outras pessoas. A cultura da empresa é diferente. A TVI é mais pequena. Aqui, as relações são mais fáceis. Na RTP trabalhava-se em andares, o que dificultava o convívio. Estou arrependido de não ter mudado mais cedo. Na RTP somos peças, não nos reconhecem, facilmente se esquecem de nós.”
PERFIL
Henrique Garcia tem 61 anos e 37 de jornalismo. Apaixonou-se pela rádio no Liceu Camões. Começou na Rádio Universidade, passou pela Rádio Comercial, Rádio Gest e Antena 1. Esteve 22 anos na RTP, de onde se despediu quando era pivô do ‘Jornal 2’. Em 2002 entrou na TVI. Além de pivô do principal jornal da TVI 24, o jornalista é adjunto do director-geral da TVI.
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