Atílio Silva é duplo de cinema e televisão. Ou seja, substitui actores em cenas arriscadas. Com muita técnica, perícia e sangue frio enfrenta explosões, velocidades e outros perigos.
É o único duplo de cinema e televisão com carteira profissional. Há 36 anos que Atílio Silva ganha a vida a cair de escadas, motas e cavalos, a atirar-se de aviões, pontes, torres e castelos, a capotar carros, a simular atropelamentos, ou tochas humanas. Nas milhares de cenas arriscadas que filmou, nunca negligenciou as regras de segurança porque, diz, é “duplo”, mas não é “maluco”.
Apesar da profissão de alto risco, Atílio Silva nunca sofreu um internamento. Mesmo quando saltou de carro de uma ponte de 14 metros, ganhou velocidade a mais e falhou o alvo, as caixas que lhe amorteceriam a queda... Quando se estatelou no chão, o carro partiu-se em dois. Fracturou pulso e costelas, e só se apercebeu que tinha partido o maxilar quando viu a assistente do 112 cair-lhe desmaiada aos pés.
“Levei 42 pontos e, dois dias depois, estava a fazer um anúncio para a Michelin. Já assinara o contrato e como ainda não tinha formado os pilotos de precisão e a cena era um pouco perigosa, porque tinha de percorrer de carro e, a alta velocidade, uma estrada à beira de uma falésia, tive de ser eu a fazê-la com um penso na cara e o pulso ligado”, conta Atílio Silva recordando o acidente mais grave que sofreu.
Mesmo ponderados os estragos, este trabalho esteve longe de ser o mais arriscado. Senão, o que dizer do salto de 92 metros para a água que o duplo fez na Ponte del Pino, junto à fronteira de Miranda do Douro, numa cena para o filme de Leonel Vieira, ‘A Sombra dos Abutres’?
Ou do salto efectuado da torre da sede da PT, no Parque das Nações, com 51 metros de altura, num anúncio de uma cerveja belga que seria exibido num campeonato da Europa? “Hoje não voltava a fazê-lo”, confessa Atílio Silva, que, aos 56 anos, começa a deixar o protagonismo para os 12 profissionais que formou e que supervisiona com mil cautelas.
COMO TUDO COMEÇOU
Foi um acaso que transformou Atílio Silva num duplo. Aos 20 anos emigrou para Sydney, Austrália, onde foi tomar conta da frota da Hertz, empresa que, um dia, alugou umas viaturas para umas filmagens. No local da rodagem, o português assistia a uma corrida louca de automóveis que não estava a correr muito bem.
“Eu estava a ver aquilo e, de repente, disse em voz alta: ‘Eu também era capaz de fazer assim!’ O coordenador das filmagens ouviu-me e convidou-me a repetir a façanha que era fazer uma corrida a alta velocidade com um carro, fazer um peão e deixá-lo estacionado entre duas viaturas. Não me saí mal e o homem, vendo que tinha jeito para aquilo, convidou-me a fazer um curso”, recorda.
E foi assim que o jovem emigrante português se inscreveu na New Generation Stunt Academy, da qual Mel Gibson é um dos proprietários. Durante dois anos e meio, aprendeu as técnicas e os truques para se fazer duplo.
Face às solicitações, Atílio Silva deixa a Hertz e dedica-se exclusivamente ao seu novo trabalho. Mais arriscado, mas mais empolgante. Entre os muitos filmes e séries que fez na Austrália contam-se ‘Mad Max’.
Em 1990, os filhos de Atílio Silva quiseram vir para Portugal e trouxeram-no com ele. “Depressa percebi que havia mercado em Portugal. Comecei a fazer contas e cheguei à conclusão que, apesar de os cachês serem mais baixos do que na Austrália, compensava fazer meia dúzia de trabalhos por ano”, conta à Correio TV.
As solicitações eram tantas que Atílio Silva não dava conta do recado: “Tive de formar uma equipa. Hoje trabalho com 12 duplos e um técnico de efeitos especiais”.
Além dos duplos, a empresa que Atílio Silva gere, aluga armas, carros, motas, guarda-roupa e adereços. Algumas das viaturas são verdadeiras preciosidades. É o caso do Volkwagem Carmen Guia T3, de 1959, ou do Volvo de competição 444-04, de 1954, que ficou conhecido pelo Volvo ‘marreco’. “Só vieram duas viaturas para Portugal”, assegura Atílio Silva.
MÚSCULOS MACIOS
Ao contrário do que se possa pensar, a componente física não é o mais importante para se ser duplo. Apesar de ter recrutado a maior parte dos seus duplos entre jogadores de râguebi, Atílio Silva: “Não convém ser-se muito musculoso, porque se tem mais tendência para fazer rupturas musculares. Nem ter os músculos muito macios. A altura, qualquer uma serve, porque depende das solicitações das produtoras. Porém, o mais importante é a cabeça, a força psicológica. A segundos de fazer um salto de 14 ou 50 metros, o duplo não pode hesitar”. Honestidade, espírito de equipa e solidariedade são outros atributos que se exige a um bom profissional.
A técnica é o segredo da arte de um duplo. Mais do que destreza, cair, saltar, capotar carros, fingir atropelamentos exige muita técnica. E bons materiais de protecção. O telespectador nunca vê o que um duplo veste por baixo da roupa com que grava ou filma uma cena. Mas para amortecer as quedas e proteger ossos ou zonas mais sensíveis
do corpo humano, há uma panóplia de equipamentos modernos, por vezes, onerosos, mas sempre muito eficazes. “Espatifamos muitas joalheiras, cotoveleira e capacetes a capotar carros e a cair de motas. Por ano devo comprar uns 12 capacetes, todos de boa qualidade.
Para proteger a coluna, uso um colete almofadado com espuma de alta densidade, que é revestido por placas de fibra de carbono. O colete, que custa 3.500 euros, dá flexibilidade, mas evita que a cabeça caia para trás e se lesione a coluna”, esclarece Atílio Silva. Com tanto equipamento de protecção, o duplo surpreende-se com o acidente que envolveu um dos actores do elenco de ‘Morangos com Açúcar’, que fracturou um pé numa aterragem de pára-quedas.
“Os pés deveriam ter sido protegidos e, além disso, era possível ter visto que o actor ia cair mal e tê-lo agarrado antes de tocar o solo. Já fiz isso várias vezes. Há riscos e acidentes que podem ser evitados.”
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