Carlos Castro: “Ando com medo de dormir com o Renato”
Na véspera de ser brutalmente assassinado num hotel de luxo em Nova Iorque, Carlos Castro confidenciou a uma amiga que Renato Seabra parecia louco.
Apesar de não esconder de ninguém que estava a atravessar o período mais feliz da vida, ironicamente aos 65 anos, nos últimos dias Carlos Castro andava muito receoso com a sua relação com o modelo Renato Seabra.
Já em Nova Iorque, na véspera de ser brutalmente assassinado num hotel de luxo em Times Square, o cronista confidenciou a uma amiga que o jovem tinha mudado de atitude e tinha comportamentos estranhos. "Ando com medo de dormir com ele. Está a agir como um louco", disse a Wanda Pires, sua amiga e mulher do jornalista Luís Pires.
O medo tinha tomado conta de Carlos Castro - cuja autópsia, revelada oficialmente ontem, indica ter morrido devido a estrangulamento e pancadas bruscas na cabeça -, de tal forma que decidiu encurtar uma viagem a que o próprio chamava ‘lua-de-mel'.
"Devia regressar na quinta-feira, mas decidiu antecipar a viagem para ontem", corrobora Cláudio Montez, amigo de Carlos Castro há mais de 30 anos: "Julgo que até ao terceiro dia em Nova Iorque as coisas terão corrido bem mas depois tudo se terá alterado. Hoje, algumas coisas começam a fazer sentido para mim. Quando falei com ele na quinta-feira e perguntei se estava tudo bem por lá, disse-me apenas: "Depois conto-te."
Mas os receios de Carlos Castro não se ficavam por aqui. Segundo aquele amigo, o jornalista estava também muito assustado com o regresso a Portugal, já que Renato se preparava para revelar à mãe a relação amorosa que mantinha consigo. "Já estava, inclusive, marcada uma viagem para Cantanhede, mas o Carlos não se sentia muito confortável com isso, pois sempre foi uma pessoa muito reservada e não gostava de se expor em situações destas", revela.
Para já, a chave de todo este mistério continua reservada para o depoimento que Renato Seabra, de 21 anos, que começará a fazer hoje. Ontem, a mãe do modelo viajou para Nova Iorque para acompanhar um processo que se adivinha complicado e pode ditar uma pena entre 25 anos e perpétua para o ex-concorrente de ‘À Procura do Sonho'.
ENCONTRO NA PASSAGEM DE ANO
O advogado Rogério Alves, que fez a sua passagem de ano em Nova Iorque, ter-se-á cruzado com Carlos Castro em Times Square. "Foi o Luís Costa Ribas que me chamou a atenção para o facto de estar ali um português", revelou ontem, na TVI. Terão trocado "cumprimentos de circunstância", mas Rogério Alves diz não ter a certeza se o viu com Renato Seabra.
"Estava com um rapaz jovem, que nos apresentou. Presumo que será este, mas não tenho a certeza e não o posso garantir", disse.
"O MEU FILHO NÃO FAZIA ISSO"
A mãe de Renato Seabra acredita firmemente na sua inocência. "O meu filho não fazia isso", afirmou ontem de manhã Odília Pereirinha, antes da partida para Nova Iorque. "O meu filho, sendo um filho de ouro, um filho que é muito bom, não fazia isso", afirmou à TVI no aeroporto da Portela, em Lisboa.
Odília Pereirinha disse que o filho é heterossexual e nunca foi namorado do cronista social, garantindo que foi Carlos Castro a pedir--lhe um pedido de amizade no Facebook. "Renato viu o pai que nunca teve", disse a enfermeira.
"ELE QUERIA VIR PARA CASA"
A irmã de Renato Seabra disse ontem à noite que o irmão "estava farto" de Nova Iorque e "queria vir para casa", afirmando que ninguém o "compraria com ambientes de luxúria". "Dizia à minha mãe que não estava a dormir bem e que a comida era estranha e diferente", disse Joana Seabra à SIC, sublinhando não acreditar que tenha morto Carlos Castro: "Nunca faz mal a ninguém. É a pessoa mais pacífica que conheço no Mundo inteiro."
Segundo Joana Seabra, o irmão, com quem falou pela última vez na passagem de ano, "tinha sido apresentado a algumas agências".
MODELO PERMANECE NA ALA PSIQUIÁTRICA
Renato Seabra, principal suspeito da morte de Carlos Castro, com quem viajara e dividia quarto no Hotel InterContinental, em Nova Iorque, permaneceu ontem detido na ala psiquiátrica do Hospital Bellevue, escolhido por ter instalações prisionais.
Apesar de o hospital não ter prestado esclarecimentos, fontes policiais admitiram ao CM que hoje deverá haver novidades. Nomeadamente se, como foi avançado ontem nos EUA, o crime esteve relacionado com discussões sobre dinheiro entre o modelo e Carlos Castro.
Segundo a imprensa nova-iorquina, a divulgação da fotografia do jovem foi decisiva para a detenção. O taxista que o levou para o Hospital Roosevelt, onde recebeu tratamento para ferimentos nas mãos e rosto, contactou as autoridades ao vê-lo na televisão. Por seu lado, uma enfermeira também percebeu que estava com o homem mais procurado de Manhattan. A polícia chegou perto da meia-noite (cinco da manhã de sábado em Lisboa), cinco horas após Carlos Castro ser encontrado morto e castrado no quarto.
"SIGNIFICADO DA MUTILAÇÃO É CLARO" (António Teixeira, Inspector-chefe da PJ na reforma)
Correio da Manhã - Os crimes entre homossexuais são considerados mais violentos?
António Teixeira - É verdade que a violência é grande, mas é igual nas relações heterossexuais. Aliás, os crimes passionais são geralmente marcados por contornos violentos. Há amor, paixão, as relações são intensas.
- Faca é a arma mais utilizada?
- A faca é como uma extensão da mão. Normalmente tudo acontece em momentos de explosão e a faca está quase sempre por perto. Apanha-se uma e mata-se.
- Como interpreta a mutilação genital neste caso?
- Há que perceber primeiro o que se passou. Foi infidelidade? Ciúmes? A mutilação tem um significado claro. Castrar é impedir que o mesmo volte a ser feito.
POPULAÇÃO VAI DAR FORÇA AO JOVEM
As manifestações de solidariedade a Renato Seabra e à família repetiram-se ontem, no fim da missa, à porta da igreja de Cantanhede. "Vamos falar com toda a gente para dar força ao Renato e à família. Cantanhede vai-se mexer", prometeu a moradora Margarida Maduro, disposta a avançar com um movimento de apoio: "Queremos que ele e a família sintam que estamos solidários." À medida que os paroquianos saíam, ouviu-se muitas vezes "contem comigo".
O pároco Luís Francisco referiu-se à "onda solidária" como um movimento espontâneo, com o qual diz concordar. Durante a eucaristia, já tinha abordado o assunto: "Há coisas que são misteriosas e ultrapassam a racionalidade e a própria espiritualidade. Está uma pessoa em jogo, e, aconteça o que acontecer, isso faz sentido defender até ao limite." Apesar de não ter um relacionamento pessoal com o jovem, por estar na paróquia há ano e meio, recorda-se de o ver na Missa do Galo.
A religiosidade do modelo é notada por todos. Quando chegou à final do concurso ‘À Procura de um Sonho' agradeceu a Deus a oportunidade, o que deixou orgulhosa a catequista Maria Isabel, que o acompanhou até ao crisma: "Isso significa que alguma coisa lá ficou."
Num outro ponto da cidade, entre os amigos do finalista de Ciências do Desporto há quem esteja a organizar-se para viajar até Nova Iorque para o apoiar.
A população continua "estupefacta" com o que aconteceu. "Era um miúdo inocente, sem maldade" descreve Margarida Maduro, que conhece a sua família. Mencionando a "podridão do mundo da moda", deseja que "a verdade venha toda ao de cima, porque neste momento o senhor Carlos Castro é um santo e o Renato é o psicopata".
Reconhecendo que o jovem pode ter visto no cronista uma "ponte de lançamento para a fama", Margarida Maduro acredita que ele não estaria "à espera do mesmo que o senhor Carlos Castro queria dele".
PAI DO MODELO "EM GRANDE SOFRIMENTO"
"Estou em grande sofrimento, não quero dizer absolutamente nada", explicou ontem ao CM Joaquim Seabra, pai de Renato. Separado da mãe do jovem modelo, Joaquim está a viver em Vila Real de Santo António, no Algarve, e preferiu não comentar a morte de Carlos Castro e as suspeitas que recaem sobre o filho. "É complicado", limitou-se a dizer Joaquim Seabra sobre o que aconteceu, referindo que tem procurado encontrar equilíbrio e calma ficando em casa.
"É UM MIÚDO 5 ESTRELAS" (Maria Dulce Sancho, Professora de Biologia)
Correio da Manhã - Foi professora do Renato durante quanto tempo?
Maria Dulce Sancho - Dois anos, mas conheço-o desde criança. Foi sempre um miúdo fantástico. Se havia alunos respeitadores, educados e amigos de ajudar o seu amigo, o Renato era um deles. É um miúdo que classifico com cinco estrelas.
- Como recebeu a notícia?
- Ninguém esperava que uma coisa destas possa ter sido possível. É dolorosíssimo constatar.
- Como acompanha o caso?
- Estou destruída.
- Do que conhece dele, tem explicação para ter agido assim?
- Não. O Renato que conheço não é capaz de um crime destes. Se foi ele, não sei o que o possa ter transtornado a esse ponto. Esta violência transcende-me. Não sabemos o que aconteceu. Mas continua a ter um lugar privilegiado no meu coração.
PORMENORES
DE FÉRIAS
A avó de Renato disse a um familiar que o neto estava muito bem, de férias em Nova Iorque.
INGENUIDADE
Um vizinho que com ele praticou natação diz que a palavra-chave para o definir é ingenuidade.
DISLEXIA
Uma professora revelou que Renato é disléxico e tinha mais meia hora para fazer os testes, mas só usava o intervalo.
REACÇÕES
"SUBIU NA VIDA A PULSO" (Filipe La Féria)
O Carlos Castro era um homem muito inteligente, uma pessoa que subiu na vida a pulso. Era, sem dúvida, um grande jornalista.
"UM MURRO NO ESTÔMAGO" (Mila Ferreira)
A notícia da morte do Carlos foi um murro no estômago. Era uma pessoa maravilhosa e sei que nos vamos encontrar um dia.
"EM ESTADO DE CHOQUE" (Rui Vilhena)
Fiquei em estado de choque quando soube. Eu e o Carlos tínhamos em comum uma grande paixão pelas viagens e pelo teatro.
"DESFECHO TRÁGICO" (Mónica Sofia)
Ninguém esperava um desfecho tão trágico. É difícil aceitar uma morte tão macabra para uma pessoa como o Carlos.
"SINTO UMA GRANDE DOR" (Vítor de Sousa)
Isto parece um pesadelo. Sinto uma grande dor porque uma pessoa boa como o Carlos não merecia. Isto é muito macabro.
"É DIFÍCIL ACEITAR" (Lena D'Água)
Eu e o Carlos tínhamos iniciado uma relação muito próxima há um ano e é difícil aceitar uma morte tão trágica e violenta.
NOTÍCIAS NO MUNDO
CRONISTA ASSUSTADO
Citando fontes policiais, o jornal ‘New York Daily News' pôs em título que Renato Seabra assustava Carlos Castro.
DISCUSSÃO SOBRE SEXO
Já o ‘New York Post' relata uma violenta discussão entre os dois homens após o modelo ter revelado que não era homossexual.
DINHEIRO CAUSA MORTE
Segundo o espanhol ‘El Mundo', discussões sobre dinheiro terão causado morte de "jornalista do coração português".
ESPANCADO ATÉ À MORTE
‘Daily Mail' mostrou fotografia de Carlos Castro, "jornalista espancado até à morte e castrado num hotel de luxo de Nova Iorque".
CRIME MUITO VIOLENTO
Jornal britânico ‘Sunday Telegraph' relatou circunstâncias do crime violento no Hotel InterContinental.
MATA AMANTE GAY POR 13 MIL EUROS
Um exemplo de crime violento associado a uma paixão gay é o caso de Antero Nunes, de 57 anos, que foi raptado, assassinado e enterrado em Castelo Branco. O homicida, Manuel Morais, 58 anos, começou a ser julgado na semana passada.
O homicídio deu-se por causa de um carro velho e cerca de treze mil euros. A autópsia aponta para que a vítima tenha morrido de asfixia. Caso foi resolvido pela Unidade Nacional de Contra-Terrorismo da Polícia Judiciária.
Vídeo: Reacção da imprensa à morte de Carlos Castro
Vídeo: Carlos Castro 1945-2011
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