O guitarrista português está de volta aos blues no ano em que comemora 20 anos de uma carreira cheia de êxitos e desânimos
O guitarrista português Joel Xavier está de volta aos blues no ano em que comemora 20 anos de uma carreira cheia de êxitos e desânimos.
- O Joel Xavier está a completar vinte anos de carreira e está também de regresso aos blues, que foi como tudo começou. Foi a forma que encontrou para comemorar?
- Sim. Em Dezembro do ano passado, fui convidado para fazer o festival de blues de Viana do Castelo e as coisas correram tão bem que decidi ir para a estrada. Há uns 17 anos que já não tocava blues, que foi uma coisa que fiz nos primeiros três anos de carreira. É engraçado porque agora dá-me uma nostalgia positiva [risos].
- Porque é que tinha abandonado os blues?
- Não tinha propriamente abandonado. Apenas evoluí como músico. Do blues passei para a música latina, depois para o jazz, depois comecei a compor, depois passei pelo fado e pelo acústico, e o blues foi ficando para trás.
- É difícil vingar no mercado como instrumentista a solo?
- É, claro que sim, porque se trata de algo muito menos comercial.
- A primeira vez que viajou para os EUA foi logo considerado um dos cinco melhores guitarristas do ano. No entanto, por cá, nunca lhe deram esse valor. Nunca sentiu que Portugal era demasiado pequeno para si?
- Não. Eu não acho que Portugal seja pequeno. A mentalidade é que é pequena. Há pessoas que ainda fecham as portas, não percebo bem porquê. É difícil rodar o País. Há locais onde eu toquei com salas cheias e que só voltei a repetir dez anos depois. Em França, por exemplo, se tocar hoje com sucesso, contratam-me logo para voltar no ano seguinte. Depois há o problema do mercado. Não existem programas de televisão sobre música, revistas especializadas ou rádios atentas ao que se está a fazer.
- Isso nunca o desmoralizou?
- Já, muitas vezes.
- Mas alguma vez pensou em abandonar Portugal?
- Sim, já pensei em sair daqui. Aliás, eu cheguei a ir para fora. Vivi em Nova Iorque, Miami, Cuba e Barcelona. Mas o mais difícil disto é conseguir manter a sanidade mental. Por isso é que, a determinada altura, decidi abraçar o ioga e o tai chi, que muito me têm ajudado. Se não fosse isso, talvez já tivesse dado um murro na mesa e desistido da música.
- Nunca se zangou com a guitarra?
- Já tive momentos em que não pego nela, mas zangar-me verdadeiramente com a guitarra nunca aconteceu [risos]. O que sucede às vezes é achar que estou a trabalhar muito e que não vale a pena. Já estive meses sem pegar na guitarra.
- Já alguma vez pensou: "E se eu tivesse nascido nos EUA?"
- Claro que já me fiz essa pergunta, sobretudo quando já fui tão elogiado por lá, mas a verdade é que isso não aconteceu [risos]. Acredito que as coisas têm uma razão de ser, e acho que deve haver um sentido para eu ter nascido em Portugal. É muito difícil ser músico neste país, sobretudo quando se quer ser bom.
- Porquê?
- Porque para se ser bom tem de se praticar muito, só que para se praticar muito não se pode fazer mais nada na vida. Ora, como em Portugal é muito difícil a música dar dinheiro para viver, os músicos acabam por ter de arranjar outras actividades. Se o Cristiano Ronaldo não treinasse todos os dias, também não jogava como joga ao fim-de-semana.
- E no seu caso, dá para viver exclusivamente da música?
- Vai dando, mas há alturas em que é muito difícil. A única coisa que ainda me faz andar cá são as pessoas que vão aos meus concertos, que aparecem com os meus discos antigos, que no fim vão falar comigo e que conhecem a minha vida toda.
- Qual foi o maior elogio que recebeu até hoje?
- Foi do Ron Carter (contrabaixista), que já trabalhou com nomes como Miles Davis ou Jorge Benson, que depois de ter tocado comigo num estúdio em Nova Iorque me disse que aquela tinha sido uma das sessões que mais o tinha preenchido musicalmente na sua carreira. Na altura, disse-lhe que ele só estava a ser simpático e então ele perguntou-me: "É preciso eu escrever?" Esse elogio está impresso num dos meus discos.
- O Joel Xavier começou por tocar órgão em miúdo. Como é que apareceu a guitarra?
- Mudei para a guitarra porque não gostava de aprender aquelas musiquinhas que se aprendiam nas escolas. Um dia descobri uns ‘vinis’ de blues do meu pai e comecei a tentar tirar as notas. Só que no órgão aquilo não soava igual. Por isso comecei a fartar-me e desisti. Uma vez, na escola, conheci uma pessoa que tocava blues e fiquei fascinado. Fui para casa e pedi uma guitarra de presente. Fiquei viciado aos 15 anos. Recordo-me que recebi a guitarra no início do Verão e fiquei as férias todas enfiado em casa a tocar. Chegava a tocar 18 horas por dia. Um ano depois, já estava a gravar para a Polygram.
- Já havia músicos na família?
- Não. Não tinha ninguém que tocasse na família, nunca tive ninguém que me ensinasse e nunca recebi aulas. A guitarra foi uma paixão.
- E como é que os seus pais viram essa sua paixão?
- Eles sempre estiveram presentes e sempre me apoiaram. Mesmo na altura da faculdade, em que era difícil conciliar as coisas, eles sempre estiveram presentes. Costumavam dizer: antes um músico feliz do que um engenheiro frustrado.
- Já trabalhou com alguns dos maiores músicos do Mundo. Quem falta?
- Já toquei com quase toda a gente com quem gostaria de tocar. Assim de repente, acho que me falta o George Benson.
- Nunca tentou uma aproximação?
- Nunca aconteceu, mas já me cruzei com ele casualmente num estúdio em Nova Iorque. Conhecemo-nos no elevador e tivemos uma conversa de 15 segundos. Depois apertámos as mãos e nunca mais nos voltámos a cruzar [risos]. Quem sabe se um dia nos encontramos outra vez.
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