O escritor voltou à feira do livro, um ano depois de sofrer um enfarte agudo do miocárdio. Fala abertamente sofre a forma como passou a encarar a vida e não poupa a classe política
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De caneta na mão, Francisco Moita Flores, de 70 anos, assina mais uma obra na Feira do Livro de Lisboa. A leitora está contente: o escritor de eleição está ali, à sua frente, vivo. "Continue a escrever. Por muitos anos!", diz com o livro na mão. "Obrigado minha querida", responde o escritor com um ar tranquilo. Mas não foi sempre assim. Afinal "morreu" há um ano, naquele mesmo local. "Os primeiros momentos foram difíceis no regresso. Fiquei muito perturbado e percebi que muito do que estava a sentir era medo. Andei ali às voltas da cadeira onde tudo aconteceu, como um cão", diz, a rir. "Mas consegui com muitas borboletas no estômago", conclui com um claro sorriso no rosto.
Em 2022, ali mesmo, sem qualquer aviso, sofreu um enfarte agudo do miocárdio. "Estive morte e ressuscitaram-me. Tive a sorte de estarem aqui três médicos: Diogo Cavaco, Joana Figueira e Joana Goulão. É o momento limite: morrer e ressuscitar. Não foi ao terceiro dia, foi ao terceiro minuto"
Uma história que não é inventada, não tem personagens imaginárias: tem testemunhos. Para dar o grito de alerta para a situação escreveu em tempo recorde o "Um Enfarte no Alto do Parque" para alertar: apenas cinco por cento destas situações fora do hospital termina como esta história. E isso faz mudar muita coisa: "a comida, a adrenalina, o cigarro", enumera. Esteve internado várias semanas no hospital. E quando saiu confessa que fechou capítulos que estavam em aberto. "Resolvi alguns assuntos pessoais que estavam pendentes. Ficaram resolvidos dois meses depois. Morrer retira a possibilidade de dizer adeus a alguém, de dar um abraço, de garantir um beijo, uma palavra amiga, de deixar as saudades àqueles que amamos. Quis pôr muitas dessas coisas em dia para que se voltar a acontecer haver muitos desses beijos, abraços, palavras que não foram ditas, estão ditas e estão atuais", refere.
Não tinha medo da morte, hoje também não. Mas dá mais valor a todos os momentos. "Vivi sempre com a morte. Agora passei a ter um respeito diferente por este grande e fantástico mundo de viver e estar vivo. Um profundo respeito e uma grande alegria de estar aqui", acrescenta.
Para o futuro considera que é importante todos saberem esta história para aumentar a sobrevivência nestas mortes súbitas. "É importante alastrar aquilo que foi feito para me salvar. As pessoas deviam conhecer e saber fazer o suporte básico de vida e ter os procedimentos corretos. Não é preciso ser médico ou enfermeiro. Todos deviam saber reanimar alguém", conclui.
A vida deu "uma volta de 120 graus", diz-nos Moita Flores, mas a visão clara do mundo em que vivemos não mudou um grau. Considera que ainda "somos um país inculto" e que apesar da Feira do Livro ser uma grande festa, "é uma pequena parcela. Não é por acaso que fechou [para os festejos do Benfica]", refere com algum desconforto. Não perdoa a classe política. "É um problema endémico. A consciência do espetáculo, da paixão, da exacerbação dos sentimentos vale mais do que ler um livro. Vale mais do que estar numa grande Feira como esta"
"A criatura que se diz ministro da Cultura"
"A criatura que se diz ministro da Cultura"Moita Flores não perdoa ao presidente da Câmara de Lisboa, ao Presidente da República e a "esse senhor, essa criatura que se diz ministro da Cultura [Adão e Silva] que permitiram isso. Nenhum Governo está interessado em resolver. Estão interessados em propaganda".
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