Calor extremo está a acelerar o envelhecimento? Investigadores explicam

Estudo científico coloca calor excessivo junto dos fatores ambientais que reduzem o tempo de vida.

10 de março de 2025 às 18:41
Calor Foto: Getty Images
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Um estudo americano mostra que as pessoas que vivem em zonas que sofrem episódios de temperaturas extremas regularmente podem envelhecer mais rápido. 

O trabalho, publicado na revista científica Science Advances, concluiu que o processo molecular de expressão genética fica alterado durante várias semanas e até meses depois do corpo estar sujeito a temperaturas elevadas, avançou o El País

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O mecanismo concreto através do qual o termómetro influencia o envelhecimento ainda não é claro. Porém, há evidência científica suficiente para colocar o calor excessivo junto dos fatores ambientais que reduzem o tempo de vida. 

Poucas pessoas morrem devido a uma onda de calor. As pessoas que de facto morrem durante esses episódios, normalmente têm alguma condição médica prévia ou são pessoas idosas. Mas mesmo sem matar, o calor pode provocar vários danos, principalmente no organismo de pessoas com idade mais avançada. 

As investigadoras da Universidade do Sul da Califórnia, nos EUA, analisaram amostras de sangue de 3 686 pessoas americanas com mais de 56 anos.  

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Eunyong Choi e Jennifer Ailshire, duas das investigadoras da universidade americana, focaram-se na metilação do DNA, um processo bioquímico básico através do qual se adicionam marcas químicas ao DNA que servem como interruptores genéticos. O processo é um dos principais marcadores para determinar a idade biológica de uma pessoa, que nem sempre coincide com a cronológica. 

Através desta informação, desenvolveram-se vários relógios epigenéticos que apoiam os investigadores a medir o envelhecimento. 

“A metilação do DNA é um processo que regula a expressão genética, ou seja, ativa ou desativa os genes sem alterar o código genético em si”, explicou Choi, primeira autora do artigo científico. “Os fatores ambientais de stress, como o calor, a contaminação do ar e o stress psicológico, influenciam os padrões da metilação do DNA”, acrescentou. 

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A investigadora realçou que a exposição prolongada ao calor pode desencadear respostas de stress fisiológico, como inflamações, que podem provocar alterações na metilação do DNA. 

O estudo além de investigar o sangue de cada participante, comparou-o com os dados de temperatura e humidade dos locais de onde as pessoas são oriundas.  

“Os adultos idosos que vivem em áreas de calor extremo mostraram um envelhecimento biológico mais rápido em comparação com aqueles que vivem em áreas mais frias”, afirmou Choi. 

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A aceleração da idade epigenética está associada a um maior risco de doenças crónicas, como doenças cardiovasculares e à diabetes.  

A investigadora recorda que “se trata de um estudo observacional, o que significa que não podemos estabelecer uma causalidade definitiva”. Ainda assim, “a associação que observamos sugere que a exposição prolongada ao calor extremo pode contribuir para o envelhecimento acelerado a nível molecular”, conclui Choi. 

A primeira vez que se encontrou uma associação entre a exposição ao calor e a aceleração da idade epigenética foi num estudo do Centro Helmholtz de Munique, na Alemanha, publicado em 2023. 

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A equipa de investigadores analisou a metilação do ADN de 3 500 cidadãos da cidade alemã de Augsburgo a partir de amostras de sangue recolhidas sucessivamente, relacionando com a temperatura a cada quatro a oito semanas antes da extração. O estudo alemão também concluiu que quanto maior a temperatura, maior a aceleração do envelhecimento. 

“Não me surpreendem os resultados, já que no nosso estudo encontramos efeitos comparáveis”, afirmou Alexandra Schneider, responsável do grupo de investigação alemão. “Em geral, os resultados indicam que a aceleração epigenética do envelhecimento é um processo que reforça as associações observadas várias vezes entre altas temperaturas e a mortalidade ou doenças relacionadas com a idade”, acrescentou. 

Eunyong Choi não descarta a possibilidade de as pessoas produzirem um “certo grau de adaptação” às altas temperaturas, mas salienta que “isso não significa necessariamente que sejam imunes ao custo biológico da exposição crónica e extrema ao calor”. 

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