Exclusivo. Mais de 100 embalagens foram encontradas “abandonadas à morte” no contentor indiferenciado. Movimento das Embalagens Unidas fala em “tragédia anunciada”. Testemunha sobrevivente descreve momento de pânico.
09 de dezembro de 2025 às 08:14Numa noite que ativistas classificam como “uma das mais sombrias da história da reciclagem em Portugal”, mais de uma centena de embalagens foram descobertas no contentor indiferenciado, sem qualquer hipótese de terem uma segunda vida. O alerta foi dado pelo MEU – Movimento das Embalagens Unidas, que denuncia um “massacre silencioso” com origem na negligência humana. No local, o cenário descreve-se como “dantesco”. E há uma sobrevivente que exige justiça.
Encostada a um ecoponto amarelo, ainda amarrotada e visivelmente abalada, Maria Caixa da Silva, uma pequena caixa de entregas, tenta recompor-se. Foi a única embalagem a conseguir escapar ao que descreve como “uma verdadeira carnificina”.
“Vi tudo. Estávamos mais de cem. Fomos atiradas sem piedade para o indiferenciado. Eu gritava, mas ninguém ouvia… Pensei que ia morrer ali”, contou, com a voz trémula. “As outras… ficaram para trás. Não tiveram hipótese.”
Ao seu lado, outros membros do recém-formado movimento seguravam cartazes improvisados: “Justiça para as 100!” e “A nossa paciência tem limites”.
A equipa que se deslocou ao local após denúncia anónima encontrou o que foi descrito como “um cenário de horror”: embalagens de cartão, plástico e vidro misturadas no contentor indiferenciado, muitas já esmagadas, outras completamente inutilizadas, sem qualquer hipótese de reciclagem.
O MEU confirma que foi a maior tragédia do ano.
“Isto não é um acidente. É resultado de anos de má informação e falta de cuidado. Hoje foram 100 vidas perdidas. Amanhã podem ser mais”, afirmou uma porta-voz do movimento, identificada apenas como Dona Lixia, uma embalagem de lixívia que tem assumido papel ativo na mobilização digital das últimas semanas.
O movimento nasceu após meses de relatos de embalagens descartadas incorretamente. Tudo começou com rumores nas redes sociais, vídeos que mostravam embalagens “a falar”, a reclamar direitos e a denunciar maus tratos.
Poucos acreditaram. Até ao massacre de ontem.
Segundo a análise feita pelo MEU, o problema repete-se diariamente: embalagens colocadas no ecoponto errado ou abandonadas no contentor indiferenciado, condenadas à destruição.
“Nós existimos para sermos recicladas. Reciclas, logo existo, é o que dizemos sempre. Mas continuam a tratar-nos como lixo sem valor”, reforçou Pack Boy, pacote adolescente que se tornou um símbolo do movimento nas redes sociais.
Especialistas alertam que este comportamento representa não apenas um problema ambiental, mas também um desperdício de recursos que poderia ser evitado com gestos simples.
Horas após a descoberta da tragédia, milhares de embalagens “saíram à rua” num protesto digital que rapidamente viralizou. Vídeos mostram embalagens a desfilar com faixas como “Direitos Iguais para Todos, Reciclagem Já” e “Vazias mas não Vencidas”.
O MEU garante que a manifestação é apenas o início.
“Outras embalagens já estão mobilizadas. Se a situação continuar, podemos ter confrontos com os resíduos do contentor indiferenciado. Não queremos isso, mas estamos prontas para lutar”, adverte Dona Lixia.
A mobilização tem recebido crescente apoio da opinião pública, sobretudo entre os consumidores mais jovens que acompanham o fenómeno nas redes sociais.
O MEU pede agora uma ação imediata para impedir novos incidentes. Segundo o movimento, a solução é “simples, conhecida e ao alcance de todos”: colocar cada embalagem no seu ecoponto – azul para papel/cartão, amarelo para plástico/metal/embalagens ECAL (cartão para alimentos líquidos) e verde para vidro.
“Não queremos mais mártires. Queremos uma segunda vida. Queremos existir”, implora Maria Caixa da Silva, enquanto recupera forças junto ao ecoponto que lhe salvou a vida.
Num país onde a reciclagem continua abaixo do desejável, esta “tragédia das embalagens” pode tornar-se ponto de viragem, se a população escutar o que estas vozes, outrora invisíveis, têm finalmente a dizer.
Evite novos massacres: recicle corretamente. Salve uma embalagem hoje.