page view

Logo CStudio

Icone informativo

C•Studio é a marca que representa a área de Conteúdos Patrocinados do universo Medialivre.
Aqui as marcas podem contar as suas histórias e experiências.

“Reciclar mais e melhor tem de continuar a ser um desígnio nacional”

A propósito do prémio “Junta-te ao Gervásio”, Ana Trigo Morais, CEO e administradora-delegada da Sociedade Ponto Verde, responde às perguntas sobre o passado, o presente e o futuro da reciclagem em Portugal.

25 de maio de 2022 às 14:12

No final da década de 90, descartar o lixo pela janela do automóvel era uma ação comum e reciclar era uma palavra que (quase) não constava no dicionário. Foi assim que o prestável chimpanzé Gervásio chegou para ensinar a separar o papel, o plástico e o vidro no ecoponto azul, amarelo e verde, respetivamente. Uma campanha publicitária tão disruptiva como memorável da Sociedade Ponto Verde (SPV) que convenceu os portugueses a reciclar e, mais de 20 anos depois, os resultados estão à vista: em 1998, foram enviadas para reciclagem 1500 toneladas de embalagens e, em 2021, 435 mil toneladas. Dados de 2021 adiantam que nove em cada dez portugueses participam na reciclagem, mas ainda há um longo caminho a percorrer. As ambiciosas metas europeias de reciclagem estabelecidas para 2025 continuam a exigir mais empenho de todos os agentes envolvidos. Motivos suficientes para o Gervásio reaparecer feito de materiais reciclados com uma nova missão para a economia circular: inovar, evoluir, reciclar. Em entrevista, Ana Trigo Morais, CEO e administradora-delegada da Sociedade Ponto Verde, realça o papel de autarquias, cidadãos e Governo na construção de mais projetos sustentáveis que beneficiem as comunidades e a importância de promover a reciclagem de uma forma mais próxima dos cidadãos através de iniciativas como o prémio "Junta-te ao Gervásio".

Faz agora 20 anos que o Gervásio veio sacudir as consciências e chamar a atenção dos portugueses para a reciclagem. O que mudou nestes anos nos hábitos de reciclagem dos portugueses?

A emergência climática acelerou todo o processo e instrumentos como o Pacto Ecológico Europeu mostram que o caminho para a economia circular e para um modelo de sociedade que evite ao máximo o recurso a combustíveis fósseis é irreversível. Nesta "nova economia" que estamos a construir, a reciclagem será um dos elementos fundamentais.

A mudança nos hábitos de reciclagem dos portugueses foi acompanhada pela evolução da capacidade de reciclagem do País e das empresas?

Os mais de 70 mil ecopontos que existem hoje por todo o País são um bom exemplo desta evolução. Os dados mais recentes relativos à recolha seletiva de embalagens também mostram uma evolução positiva. Como referi, em 2021, foram encaminhadas mais de 435 mil toneladas para reciclagem, o que representa um aumentou de 6,4%, face ao ano anterior. E o primeiro trimestre de 2022 registou também uma evolução positiva comparativamente com o período homólogo, com mais de 105 mil toneladas de embalagens encaminhadas para reciclagem.

São números positivos, mas que não podem fazer esquecer que Portugal, em termos globais, ainda está longe de cumprir as metas europeias. Se nas embalagens a situação é favorável – é o único fluxo de resíduos urbanos a cumprir as metas da reciclagem (55%) e até a ultrapassá-las em alguns materiais, como é o caso do plástico e do papel-cartão –, nas restantes rubricas o País está abaixo dos valores exigidos pelas autoridades europeias. Reciclar mais e melhor tem de continuar a ser um desígnio nacional.

Na nova campanha, o próprio Gervásio é já feito de materiais reciclados, num "exemplo vivo" de redução, reutilização e reciclagem. Nestes 20 anos, que evolução se registou nas empresas e nas organizações para integrar os três R nos seus modelos de negócio?

O conceito de economia circular afirmou-se como uma resposta à crise ambiental e climática. Em que fase está Portugal nesta evolução? Que passos falta dar?

Os próximos tempos serão decisivos para cumprir com as metas e isso requer não só políticas públicas inovadoras e sustentáveis, mas também a permanente mobilização das pessoas para a reciclagem. Ou seja, temos de fazer mais, em menos tempo. Os próximos passos nesta evolução, que é irreversível, passam, por exemplo, pela necessidade de evoluir para fontes de financiamento que envolvam novos sistemas de tarifas como o PAYT (pay as you throw – pague por aquilo que deita fora) e de diferenciar, em termos de valorização financeira, o grau de reciclabilidade das embalagens, estimulando a inovação e penalizando as que são mais difíceis de reciclar.

O prémio "Junta-te ao Gervásio" dá uma grande atenção às iniciativas locais, à economia social e à cidadania. Porquê este foco no local e esta preocupação em estar presente em quase todo o território nacional?

Fora das grandes cidades, como estamos de infraestruturas, processos e métodos de recolha seletiva e tratamento biológico e mecânico em detrimento dos aterros? Qual o papel da sociedade civil na afirmação de novos hábitos de reciclagem fora das cidades?

Um dos pontos mais críticos que terão de ser resolvidos é o dos aterros pois continuam a aumentar as quantidades de resíduos aí depositados, ao invés da inversão necessária, o que não só é nocivo para o ambiente como impacta no cumprimento das metas de reciclagem.

As necessidades associadas à transição ambiental e à descarbonização da economia são centrais na estratégia europeia para o futuro e nos Planos de Recuperação e Resiliência associados. Existe aqui uma oportunidade real para Portugal dar um grande salto em termos ambientais?

O Plano de Recuperação e Resiliência é uma oportunidade para concretizar uma reindustrialização verde e acelerar a digitalização e a inovação na reciclagem. Mas há outras oportunidades – como o Plano da Neutralidade Carbónica, por exemplo – que poderão contribuir para Portugal dar esse grande salto. Temos uma oportunidade única de chegarmos ao "pelotão" da frente e esperemos que os poderes públicos, com o apoio das empresas, possam mobilizar o país para esta missão. A SPV integra, desde já, dois consórcios que passaram a primeira fase de seleção das agendas mobilizadoras do Plano de Recuperação e Resiliência.

Qual é a visão da Sociedade Ponto Verde para o futuro próximo e como se posiciona face a estas oportunidades?

No relatório de auditoria à gestão dos resíduos urbanos de plástico do Tribunal de Contas vem referido que "a grande exigência dos objetivos de reciclagem de resíduos urbanos para 2025, 2030 e 2035 impõe a necessidade de políticas urgentes e transformadoras sobre sistemas que têm evidenciado pouco potencial de progresso". Uma dessas políticas passa pela revisão do modelo de financiamento do sistema de gestão de resíduos, sendo fundamental encontrar novas formas de colaboração entre toda a cadeia de valor deste setor. A SPV posiciona-se como mobilizadora e impulsionadora de mais investimento, mais inovação e Investigação & Desenvolvimento para a reciclagem, combinando a vertente da cidadania ambiental com a responsabilidade social das empresas, abrangendo a dimensão ambiental, social e económica.

A gestão de resíduos (aí incluindo a redução e a valorização de resíduos) e a economia circular constituem, com efeito, elementos essenciais para o desenvolvimento sustentável e foram acolhidos na Agenda 2030 das Nações Unidas. Deles se destacam as metas de, até 2030, reduzir substancialmente a geração de resíduos por meio da prevenção, preparação para reutilização e reciclagem e de, até 2025, prevenir e reduzir significativamente os detritos marinhos, incluindo a densidade dos plásticos flutuantes.

Ouça a Correio da Manhã Rádio nas frequências - Lisboa 90.4 // Porto 94.8