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Bruno de Carvalho apela ao fim dos processos disciplinares

Antigo presidente do Sporting afirma que nunca quis ser um "líder populista".

28 de junho de 2018 às 13:20

Bruno de Carvalho, destituído da presidência do Sporting, apelou esta quinta-feira ao fim do processo disciplinar de que é alvo por parte do clube, reclamando "liberdade" para se candidatar às eleições de 08 de setembro.

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Bruno de Carvalho apela ao fim dos processos disciplinares

"Apelo novamente para que parem com os processos disciplinares em curso e que deixem aos sportinguistas a liberdade de se candidatarem e aos outros de poderem escolher quem querem, no próximo dia 08 de setembro, a liderar o clube, incluindo o último presidente e o seu CD [Conselho Diretivo], se tal for a nossa decisão", escreveu hoje Bruno de Carvalho na sua página no Facebook.

Bruno de Carvalho, o vice-presidente Carlos Vieira e os vogais Rui Caeiro, Alexandre Godinho, José Quintela, Luís Gestas e Luís Roque foram suspensos pela Comissão de Fiscalização nomeada pela Mesa da Assembleia Geral do Sporting e deveriam ter respondido até quarta-feira às notas de culpa dos respetivos processos disciplinares.

"O meu desejo é simples, que se acabe com este processo disciplinar e se permita aos sportinguistas ouvirem todos os que quiserem falar e decidirem o futuro do clube e SAD. E neste momento é muito importante não provocar mais fragmentações do universo leonino. Vamos encarar cada lista com o respeito que merece, pois querer servir o clube não é um 'crime', mas sim um ato de paixão", lê-se na publicação do ex-presidente.

No sábado, numa assembleia geral que reuniu quase 15 mil sócios, a destituição do CD liderado por Bruno de Carvalho foi aprovada com 71% dos votos, na sequência de uma crise iniciada com a perda do segundo lugar da I Liga de futebol e com a invasão da Academia do Sporting, em Alcochete, por cerca de 40 adeptos que agrediram jogadores e elementos da equipa técnica.

"Vamos ter a humildade de reconhecer as nossas virtudes e os nossos defeitos. Vamos ter a humildade de receber de braços abertos todos os que queiram apresentar o seu projeto para o Sporting (...). A demonstração de que somos um grande clube em tudo é deixar todos, os que assim o quiserem, sem decisões de 'secretaria' contrárias, ir a eleições e ver o seu projeto ser aprovado ou reprovado por quem manda: os associados", acrescentou.

Até novas eleições para os órgãos sociais, a liderança do clube está a cargo de uma Comissão de Gestão presidida por Artur Torres Pereira, que por sua vez nomeou José Sousa Cintra, antigo presidente do Sporting, para presidir à SAD.

Leia o post na íntegra:

"Hoje foi o primeiro dia em que consegui despir a camisola de Presidente do Sporting CP.

Olhar para trás e de forma calma olhar para tudo.

Tenho de começar logo com um primeiro agradecimento especial aos quase 30% que votaram na nossa não destituição. Nem vale mais discutir se foram mais ou não. Vale a pena agradecer, do fundo do coração, a estes Sportinguistas que mostraram toda a sua confiança, gratidão, carinho e reconhecimento pelo trabalho feito e que estava a continuar a ser realizado.

Depois um enorme agradecimento aos 6 Leais companheiros de Direcção e ao Fernando Carvalho, guerreiro resistente do CFD.

E estes 5 anos? Do popular ao populista. Do discurso - forma versus conteúdo - às tomadas de posição. Forma construtiva ou destrutiva de agir.

Nunca quis ser um Líder populista. Um demagogo de frases feitas, que age para seu benefício e que quer levar as massas por promessas ocas mas apelativas.

Pelo contrário, sempre quis ser um Líder popular, com os pés assentes na terra, com um discurso mobilizador que voltasse a devolver o orgulho e respeito a um Clube que estava adormecido, resignado e sem energia.

E aqui acho que começou um pouco a confusão entre ser popular ou populista.

Era fundamental ter um discurso forte para "acordar" os Sportinguistas e lhes devolver a crença de que podiamos de facto voltar a ser o Grande Sporting! Um discurso ambicioso, virado para dentro e para fora, demostrando ao Mundo que estávamos aqui para vencer tudo e exigir de volta o que tinhamos perdido: Respeito.

Isto abriu uma guerra geracional que não era de todo o pretendido. Temos uma geração que conseguiu ter a sorte de ver um Sporting CP a ser o crónico vencedor e sem precisar de ter um discurso de "combate". Esta geração conseguiu ver o Sporting CP vencer com a possibilidade de ter um discurso "estadista". Depois temos uma geração que pouco ou nada viu o Sporting CP ganhar. Que estava habituada a ser gozada, com o Sporting CP a ser considerado um Clube amigo e simpático. Uma geração que quer ser feliz.

Estas gerações distintas não têm de estar antagonizadas. Têm todos apenas de perceber e entender os desafios do Séc. XXI para um Clube que, dos grandes, era o mais pequeno e o mais endividado.

A minha pressa de devolver alegrias ao Universo Sportinguista pode ter sido entendida por alguns como accão de um populista e que dividiu as gerações. Mas nunca foi essa a minha intenção. Prometemos um Clube que voltasse a ser a Maior Potência Desportiva Nacional e conseguimos esta época provar isso, de forma inequívoca. Voltar a ser um Clube de ADN eclético e fizémos o Pavilhão. Que se podia ser competitivo no futebol e manter a maioria da SAD (e com lucros constantes). Isto não são tiques de um populista, são actos de uma equipa que se quis de matriz popular e que cumpriu sempre as suas promessas, conseguindo uma mobilização nunca vista no Clube, com a Missão Pavilhão, a unificação da Curva Sul no Estádio e estarmos quase na meta dos 180.000 Associados.

Mas confesso que se olhar bem, se olhar profundamente, a pressa com que tudo foi feito, o trabalho 24h/24h que não permitiu um sentido mais diplomático de actuação, pode ter deixado uma imagem errada a muitas pessoas. Fui pouco hábil na diplomacia, pois não tinha mãos a medir num trabalho e objectivo de recuperação desportiva, financeira, de imagem, que tem uma dimensão de necessidade e de empenho que ninguém imagina.

O discurso? A vontade de fazer sempre mais, e mais e mais, levou a que o discurso não fosse moderado. E era necessário ter tido a habilidade de não criar desgaste e ruptura com esse discurso. Mas a verdade é que, quanto mais sucesso mais e maiores os ataques sofridos. Quanto mais ataques mais necessidade de defender o Clube com unhas e dentes. Quanto mais se defendou o Clube com unhas e dentes mais o discurso começou a parecer destrutivo, belicista, nunca apaziguador... Um ditador arrogante mas afinal era só um Líder apaixonado e disposto a dar a vida pelo nosso Clube. Mas o discurso levou a que muitos Sportinguistas se afastassem, mesmo não percebendo o porquê... Nem eu percebi, até esta reflexão. Afinal, o conteúdo era aparentemente 100% correcto, os objectivos até estavam a ser cumpridos (excepção ao futebol sênior profissional), o sucesso ia aumentando, mas com isso também a imagem de um ditador, belicista e incapaz de se proteger. As minhas tomadas de posição nunca quiseram refletir o que sou na realidade, mas tão somente o que, dia a dia, tinha de ir superando para resolver todos os problemas herdados e os constantes obstáculos que nos eram colocados. Foco total no trabalho e foco 0 no tratamento da imagem pessoal / política / institucional do Presidente. Sempre acreditei que os resultados tudo superassem, até porque todo o discurso e tomadas de posição eram para o Clube chegar ao sucesso. O Clube chegou ao sucesso e a minha imagem pessoal ficou totalmente deturpada ao olhos de muitos. E são as pessoas que têm culpa? Algumas ajudaram, alguma comunicação social contribuiu, mas o maior culpado fui eu que, na busca constante da Glória do Clube, me esqueci de mim próprio e da forma que deveria projectar a minha imagem.

O meu desejo é simples, que se acabe com este processo disciplinar e se permita aos Sportinguistas ouvirem todos os que quiserem falar e decidirem o futuro do Clube e SAD.

E neste momento é muito importante não provocar mais fragmentações do Universo Leonino! Vamos encarar cada lista com o respeito que merece, pois querer servir o Clube não é um "crime" mas sim um acto de paixão.

Vamos ter a humildade de reconhecer as nossas virtudes e os nossos defeitos. Vamos ter a humildade de receber de braços abertos todos os que queiram apresentar o seu projecto para o Sporting CP.

Apelo novamente para que parem com os processos disciplinares em curso, e que deixem aos Sportinguistas a liberdade de se candidatarem e aos outros de poderem escolher quem querem, no próximo dia 8 de Setembro, a liderar o Clube, incluindo o último Presidente e o seu CD, se tal for a nossa decisão.

A demonstração que somos um Grande Clube em tudo é deixar todos, os que assim o quiserem, sem decisões de "secretaria" contrárias, ir a eleições e ver o seu projecto ser aprovado ou reprovado por quem manda: os Associados.

Já agora importa realçar que os Sportinguistas, no máximo, teriam decidido na última AG que queriam novas eleições e não que fossemos suspensos ou expulsos de associados, e com isso afastados das mesmas.

Somos um país livre e democrático e por isso deixemos a liberdade de candidatura e voto aos sportinguistas.

Foi bom poder fazer este exercício claro sobre 5 anos, onde afinal existiram mesmo falhas que lamento, que apesar de achar que são de pormenor a verdade é que contribuí para muitos erros de percepção e de raciocínio, que são legítimos e devem ser respeitados e devidamente ponderados.

Obrigado por 5 anos de puro prazer e orgulho em servirmos o Clube que amamos e a família que adoptámos como nossa: os Sportinguistas!"

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