Associação lembra que exibição de cinema é questão de negócio e rentabilidade

Distritos de Beja, Bragança e Portalegre não têm exibição comercial de cinema, regular, diversificada e diária.

19 de setembro de 2025 às 12:41
Sala de cinema Foto: Getty Images
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O encerramento de cinemas e a ausência de exibição comercial regular em várias capitais de distrito são uma questão de rentabilidade, porque "isto é um negócio", lembrou à Lusa o diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas Cinematográficas (APEC).

"É uma atividade comercial. Obviamente, os exibidores fazem análises de rentabilidade e é natural que abram alguns [cinemas] e fechem outros", explicou Fernando Ventura, que dirige a associação que representa as maiores exibidoras de cinema do país, como a NOS Lusomundo Cinemas, a UCI Cinemas e a Cineplace.

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A agência Lusa noticiou esta semana que os distritos de Beja, Bragança e Portalegre não têm exibição comercial de cinema, regular, diversificada e diária, e que há complexos de cinema no país, dentro de centros comerciais, que poderão fechar algumas salas, nomeadamente nos distritos de Braga e Porto.

De acordo com a Inspeção-Geral das Atividades Culturais (IGAC), o Arrábida Shopping, em Vila Nova de Gaia, foi autorizado a desafetar a atividade cinematográfica em nove das 20 salas do centro comercial, por questões de "viabilidade económica".

No Arrábida Shopping funciona o maior complexo de salas de cinema do país, com 20 ecrãs, gerido pela UCI Cinemas, mas os proprietários do centro comercial pediram este ano a desafetação de nove salas, ficando a funcionar as restantes 11.

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De acordo com a IGAC, este ano também foram feitos pedidos de desafetação de outras salas de cinema em centros comerciais em Viana do Castelo e em Braga, que pertencem à Sonae Sierra.

Em Viana do Castelo, o Ministério da Cultura autorizou a desafetação de quatro salas no Estação Viana Shopping, que são exploradas pela exibidora Cineplace.

Sobre estes cinemas, em agosto, fonte oficial da Sonae Sierra disse à Lusa que "de momento" manteria a atividade habitual, mas admitiu que "está em constante análise de diferentes oportunidades dentro da gestão do seu ativo".

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Em Braga, no centro comercial Nova Arcada, foi feito um pedido "para afetação a atividade de natureza diferente de seis das 12 salas", que também são geridas pela Cineplace, mas o processo ainda se encontra em instrução, disse fonte da IGAC.

Estas decisões "têm a ver, sobretudo, com questões de rentabilidade muitas vezes associadas à população da zona, aos custos envolvidos com os locais, com os arrendamentos, com alguma quebra na vinda dos espectadores", enumerou o diretor-geral da APEC.

De acordo com o Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), em 2024 existiam 563 salas de cinema, das quais 172 estavam concentradas na região de Lisboa, 166 na região norte e 122 na região centro. As restantes 38 estavam na região do Alentejo, 36 na do Algarve, 15 nos Açores e 14 na Madeira.

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Em 2024, 11,8 milhões de espectadores viram cinema numa sala, totalizando 73,3 milhões de euros de receita, mas são valores que ainda estão abaixo dos obtidos em 2019, antes da pandemia da covid-19. Nesse ano, o ICA contabilizou 15,5 milhões de entradas e 83,1 milhões de euros de receita de bilheteira.

A NOS Lusomundo Cinemas é a líder de mercado, com 218 salas de cinema, seguindo-se a Cineplace (67 salas), e a UCI Cinemas (42 salas), predominantemente situadas em contexto de centro comercial.

"Há salas que estão abertas e quase que não dá para pagar a eletricidade e isto é um problema. [...] De vez em quando, o público não vem tanto, não há assim tantos espectadores, e muitas vezes os complexos, as salas não são rentáveis e leva alguns fechos", disse Fernando Ventura.

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Quando questionado porque é que as maiores exibidoras não abrem mais salas de cinema fora dos centros comerciais, o responsável da APEC respondeu: "É tudo uma questão de economia. Há cálculo, há razões económicas que levam a que seja melhor ter salas em complexos do que estar a fazer isoladamente, mas há exibidores que têm".

A APEC reconhece que "é um jogo muito complexo" conseguir captar espectadores, escolher semanalmente os filmes para os cinemas e fazer com que as exibidoras tenham lucro.

"Há muitos filmes a sair para o mercado semanalmente e não há quantidade salas, e mesmo se houvesse, depois não há público. É algo complexo. Os filmes não podem ficar muito tempo, se ficarem muito tempo não têm espectadores", explicou.

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Quanto à ausência de oferta comercial em todas as capitais de distrito, até por questões de serviço público de oferta cultural, a associação diz que faltam "condições económicas e gente suficiente que permita manter um espaço permanente e que seja rentável para o exibidor".

"A rentabilidade dos cinemas não se faz por casos pontuais, faz-se por se manter regularidade", reforçou.

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