Ephemera expõe em Lisboa espólio de Sá Carneiro que "muda a história de Portugal"
Exposição tem curadoria e textos do do historiador e ex-deputado do PSD, José Pacheco Pereira e pode ser visitada até 31 de janeiro.
O Arquivo Ephemera inaugura esta quinta-feira, em Lisboa, a exposição "Francisco Sá Carneiro e a Construção da Democracia Portuguesa", que apresenta o espólio do antigo primeiro-ministro, com documentos que, para o curador José Pacheco Pereira, "mudam a história de Portugal".
A exposição, com curadoria e textos do historiador e ex-deputado social-democrata José Pacheco Pereira, foi apresentada no Porto a 23 de abril deste ano e é inaugurada na capital no "Lisboa social Mitra", às 15h00. Tem como objetivo dar a conhecer o espólio de Sá Carneiro, composto, entre outros, por manuscritos, correspondência, notas de reuniões e agendas pessoais.
À agência Lusa, Pacheco Pereira explica que grande parte deste espólio "estava escondido" na casa da antiga secretária de Sá Carneiro, Conceição Monteiro, porque o antigo primeiro-ministro "não tinha grande confiança em deixar os seus papéis no partido".
A documentação acompanha a vida de Sá Carneiro desde a sua participação na Ala Liberal, durante o Estado Novo, passando pela fundação do PPD/PSD e pelo processo de consolidação democrática e inclui registos dos seus últimos dias de vida.
Pacheco Pereira diz que o caráter inédito deste conjunto documental "muda a história de Portugal", referindo, como exemplos, o papel dos sociais-democratas no PREC e no 25 de Novembro ou a intenção do então PPD de integrar a Internacional Socialista - aspetos da história do partido que são hoje "ignorados", lamenta.
"O PPD tentou entrar na Internacional Socialista. Isso é tratado como uma alínea. Não é verdade. A documentação mostra a enorme importância que Sá Carneiro e os dirigentes do PPD deram à entrada na Internacional Socialista. Mostra como a maioria dos partidos socialistas e os trabalhistas na Europa queriam o PPD na Internacional e como Mário Soares boicotou essa entrada", explica Pacheco Pereira.
O social-democrata sublinha ainda que há nesta exposição "muita documentação sobre o 25 de Novembro", a existência de um serviço secreto de informações no PSD "completamente desconhecido", os conflitos internos do partido, bem como "as grandes campanhas contra Sá Carneiro conduzidas pelo PS, PCP e CGTP.
Em relação ao 25 de Novembro, o social-democrata refere que a documentação existente não suporta o que diz ser a "enorme falcatrua das comemorações" dessa data promovida pelo atual Governo PSD/CDS-PP.
Pacheco Pereira recorda também que foi orquestrada uma campanha "abjeta, da responsabilidade do Partido Socialista, a pretexto do seu divórcio e da sua relação com Snu Abecassis".
Este espólio, conta o historiador, foi doado à Ephemera por Conceição Monteiro depois de uma conversa de ambos, enquanto deputados, em que a secretária de Sá Carneiro o questionou sobre se "queria uns papéis" do fundador do então PPD.
"Quando fui a casa dela para começar a trazer aquilo, que eu pensava que era uma ou duas pastas, era tudo, a vida toda de Sá Carneiro. Desde antes do 25 de Abril até o dia da morte, há coisas do dia da morte", lembra.
Pacheco Pereira diz tratar-se de 12 metros de documentação e lamenta que não haja mais investigação académica sobre estes e outros documentos do Ephemera. Lamenta também que a academia tenha "falta de imaginação" e acabe por focar-se de uma forma exaustiva em "temas da moda" como o racismo, as questões LGBTQI+ e o feminismo.
A exposição poderá ser visitada até 31 de janeiro, com entrada gratuita, de terça a sexta-feira, das 14 às 18 horas, e aos sábados, domingos e feriados das 10 às 18 horas.
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