Época taurina arrancou no Campo Pequeno

Salgueiro demonstrou pouca rotina.

15 de abril de 2016 às 18:34
Tauromaquia, Campo Pequeno, Lisboa, João Salgueiro Foto: João Miguel Rodrigues
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O Campo Pequeno, em Lisboa, inaugurou esta quinta-feira a época taurina com uma corrida com um cartel interessante, principalmente porque se anunciava o regresso à atividade de João Salgueiro. Mas a noite fria e chuvosa não motivou a "aficion" a sair de casa, e o Campo Pequeno registou meia praça. Foi, talvez, a casa mais fraca numa corrida de abertura de época desde a sua reabertura. A corrida foi fraca e insonsa, sendo que desta vez isso não aconteceu por falta de touros, mas sim por responsabilidade dos toureiros.

Abriu praça João Salgueiro, frente a um toiro da ganadaria de Pinto Barreiro, com 540 quilos, e que mostrou codícia no cavalo. Salgueiro nesta sua reaparição, depois de cerca de dois anos arredado das arenas portuguesas, demonstrou, como aliás seria lógico, pouca rotina e até falta de sítio. Depois as suas montadas fizeram o resto. Nervosos, complicativos e pouco toureados, os cavalos em nada ajudaram João Salgueiro neste seu regresso. Uma lide sem história e sem nada a recordar. Pedro Reinhart quis ajudar, mandou tocar a banda ao terceiro comprido, mas nem isso motivou a lide de João Salgueiro.

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Este primeiro toiro da noite foi pegado pelos rapazes de Moura, tendo sido cara o forcado Cláudio Pereira, que efetuou uma pega tecnicamente perfeita, com um toiro que não complicou, que foi pelo seu caminho, com o forcado a fechar-se bem e o grupo a ajudar de forma coesa. O Diretor de corrida autorizou a volta à arena para cavaleiro e forcado, sendo que João Salgueiro insatisfeito com a sua lide, apenas depois de ter sido chamado pelo público, veio aos médios agradecer e retirou-se. Num gesto de grande dignidade, o forcado Cláudio Pereira, agradeceu com o cavaleiro e entendeu em respeito para com João Salgueiro retirar-se e não dar a volta a que merecidamente tinha direito.

No segundo toiro de João Salgueiro, o quarto da corrida, um toiro de Murteira Grave com 530 kg, vimos mais do mesmo. Salgueiro queria mas não podia, porque as suas montadas pouco ou nada davam. Nunca conseguiram ir de frente para o toiro, dificultando imenso a vida ao cavaleiro. Com o decorrer da lide, ficava a sensação que a insegurança dos cavalos ia passando para Salgueiro, desmotivando-o e levando-o a defender-se imenso.

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Nesta noite no Campo Pequeno, nenhum dos aficionados que ali se deslocaram, viram algo com a marca de João Salgueiro.

Pedro Reinhart não mandou tocar a música, decisão compreendida pela "afición".

Na pega a este quarto toiro da noite, esteve o forcado Nuno Inácio, do Aposento da Moita. Pegou à segunda tentativa, uma pega rija com o grupo a ajudar bem.

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Volta apenas autorizada para o forcado, o qual com grande dignidade se limitou a agradecer nos médios.

João Teles Júnior foi claramente o triunfador da noite. No segundo da noite, defronte de um toiro de seu avô, Mestre David Ribeiro Teles, João Teles teve uma lide rigorosa, precisa, mas sem novidades, sem rasgos, uma lide típica de início de época. Tudo o que fez foi bem feito. Esteve toureio e lidou com classe. Soube ler o toiro, e inteligentemente saiu depois do terceiro curto, quando percebeu que o toiro tinha acabado e que começava a defender-se, vindo a menos. A partir daquele momento, dificilmente tiraria mais alguma coisa daquele toiro, podendo ainda estragar tudo o que tinha feito até aí. Decisão inteligente de um toureio jovem, mas maduro.

Este toiro foi pegado à primeira tentativa pelo forcado João Rodrigues do Aposento da Moita, numa pega rija, mas onde o grupo demorou a fechar, valendo a decisão e a garra do forcado da cara para a consumar à primeira tentativa.

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No seu segundo, o quinto da noite, João Teles Júnior enfrentou o mais pesado toiro da corrida, um Veiga Teixeira de 608 quilos. João Teles entendeu este toiro na perfeição. Depois de dois ferros compridos bem colocados, Teles Júnior muda de tércio e de montada. Foi buscar esse enorme toureiro chamado "Ojeda", e marcou a diferença. Em praça deixou de estar um cavaleiro e um cavalo, para passar a estar um conjunto formado por um homem e por um cavalo. A sintonia era perfeita e cada um sabia na perfeição o que o outro queria. Teles Júnior esteve soberbo perante o Veiga Teixeira, demonstrando saber a cada momento o que estava a fazer. As pausas entre ferros para deixar respirar a sua montada e principalmente o toiro, permitiram-lhe prolongar a lide e cravar 8 ferros. Para além da classe de João Teles Júnior, há que ressaltar a touraria do "Ojeda", que bem mereceu o carinho final do seu dono. Um único ponto a melhorar, o remate das lides. Os ferros cravados por João Teles ganhariam uma outra dimensão, se a sorte f

osse devidamente rematada.

Para a pega deste toiro saiu o forcado Valter Rico, cabo dos rapazes de Moura. Um pegão à primeiro tentativa. A um toiro duro, que derrotou, que entrou pelo grupo dentro, que tudo fez para tirar o forcado da cara, respondeu Valter Rico com categoria, decisão e muita garra. A pega da noite.

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Volta para os dois, com chamada aos médios para cavaleiro e forcado. A lide da noite.

Ao rejoneador espanhol Manuel Manzanares, calharam dois toiros da mesma ganadaria, a de Santa Maria. O primeiro com 512 quilos, foi bem recebido pelo toureiro que se dobrou bem com ele, tendo cravado dois bons ferros compridos. Pedro Reinhart mandou tocar a música ao primeiro ferro curto, sinal do bom trabalho do espanhol. Manuel Manzanares, muito bem montado, teve uma lide limpa, à boa maneira espanhola com muitos desplantes, boa brega e boa colocação dos ferros.

Pegou à primeira tentativa o forcado Rui Ameixa do Real Grupo de Moura, numa pega limpa, em que o forcado se fechou bem e onde o grupo se mostrou coeso a ajudar.

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No seu segundo toiro da noite, o sexto da corrida, as coisas já não correram tão bem a Manuela Manzanares. Perante um Santa Maria com 550 quilos, as coisas até começaram a correr bem ao espanhol, com um bom ferro comprido. Depois levou um toque violento na montada e nunca mais se reencontrou. Cravou mais quatro ferros curtos, mas a lide não teve a qualidade da primeira, não tendo, na opinião do Diretor da Corrida, merecido que a música tocasse.

Para a pega deste último da noite, avançou José Maria Bettencourt, que depois de sofrer um forte derrote na primeira tentativa, fechou-se com ganas de forcado á segunda, perante um toiro duro, consumando uma boa pega.

Volta apenas para o forcado. José Maria Bettencourt com enorme dignidade agradeceu nos médios e recusou-se a dar a volta por respeito ao cavaleiro.

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Desta noite de toiros, para recordar as lides de João Teles Júnior, principalmente a sua segunda, e a presença dos forcados.

Uma corrida típica de início de época, com todos os intervenientes, à exceção de João Teles Júnior e do cavalo "Ojeda" à procura de forma.

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