Marco Oliveira, Hugo Arán e Márcio Faraco partilham as suas canções.
Cada Um Canta Uma: três compositores com a guitarra na mão
O trio de guitarras, portuguesa, espanhola e brasileira, juntou-se a partir de uma residência artística que se realizou no mês de maio em Girona, na Catalunha. Marco Oliveira, Hugo Arán e Márcio Faraco criaram este projeto e apresentaram-no no Museu do Oriente, em Lisboa, e no Exib Música, em Setúbal. Cada um dos compositores tem a sua forma de se expressar na música, fizeram caminhos diferentes, mas juntos encontram uma conexão nas vozes e nas guitarras.
Marco Oliveira é lisboeta, músico e fadista, com três discos editados. O primeiro foi gravado em 2008 (Retrato), aos vinte anos de idade.
"Foi o primeiro passo, e foi decisivo para o que viria nos próximos discos. O segundo disco (Amor é água que corre) é mais autoral, em que começo a explorar essa expressão poética e a procurar essas influências todas. O terceiro disco (Ruas e Memórias), que gravei em 2021, foi um grande impulso, porque tive a oportunidade de conhecer um produtor que admiro imenso, José Mário Branco, e também Manuela de Freitas, que participou na direção interpretativa. Continua a ser, para mim, um dos grandes discos que já fiz em estúdio", diz Marco Oliveira.
O álbum Ruas e Memórias foi gravado em outubro e novembro de 2019, e foi o último trabalho que José Mário Branco produziu em estúdio.
"Foi um prazer imenso poder trabalhar, e ter essa sorte de conhecer o José Mário, trabalhar essas canções, também dentro desses fados tradicionais. E poder perceber o posicionamento de um artista tão grande, sobretudo o seu compromisso com a arte e a dedicação à música", recorda Marco Oliveira.
O guitarrista espanhol Hugo Arán, sempre procurou novos ritmos para a sua música, em especial a música que ia conhecendo do Brasil.
"No ano 2000, não tinha internet, mas comprava muitos discos. Conhecia os clássicos, Vinícius Morais, Tom Jobim, Chico Buarque, o Caetano. Essa foi a minha escola, mas na minha cidade não havia ninguém que me pudesse ensinar os ritmos da Bossa Nova ou do Samba, então fiz um caminho muito intuitivo. Fui tirando de ouvido, porque eu gostava muito das músicas, não existia youtube. Foi um processo muito bonito, chegar devagar, mas ao mesmo tempo um processo mais intuitivo, fiz muito essa música. Depois comecei a compor, primeiro imitava os meus ídolos, e depois de um tempo comecei a compor as minhas músicas", diz Hugo Arán, que também partiu em busca de outros ritmos sul-americanos: "Através do Brasil, que está tão perto do Uruguai e da Argentina, e também de África indiretamente, porque os ritmos africanos estão aí, no subsolo. Interessei-me pela Milonga, Candomblé, Tango, muitas músicas. Mas isso ficava muito longe da minha identidade, eu cresci com o Rock, inclusive com o Punk, porque escutava Pixies ou Nirvana. Depois peguei um caminho muito diferente".
Márcio Faraco, músico brasileiro, já parou de contar o número de discos que tem editados. Começou a tocar aos dez anos de idade, mas foi aos dezasseis que começou a levar a música mais a sério.
"Venho de uma família onde todo o mundo toca. A minha avó era professora de piano, o meu bisavô era um grande pianista, o meu trisavô era flautista. É muita gente tocando na família, então o instrumento entrou na minha vida como um brinquedo, como uma bola de futebol", lembra Márcio Faraco.
O cantor, na sua vasta discografia, trabalhou com alguns dos grandes nomes da música brasileira. "O primeiro encontro com Chico Buarque foi um ‘azar’. Me chamaram para organizar um programa para televisão francesa, fiz os arranjos, e o Chico Buarque estava lá. Foi assim que o encontrei, depois eu revelei para ele que eu era compositor, ele escutou as minhas músicas e me ajudou bastante. Então esse primeiro encontro foi ao acaso. Depois, eu sempre fui muito fã do Milton Nascimento, chamei o Milton para cantar comigo. Mas o meu encontro com ele também foi um acaso, foi uma entrevista que me fizeram e nos colocaram num hotel em Paris, para conversar. Foi assim que fiquei muito próximo dele, e acabámos tocando juntos, fizemos uma tournée. As coisas acontecem sem que eu calcule, na verdade, elas vão acontecendo. O meu caminho me leva até isso", revela Márcio Faraco.
A residência artística, na cidade de Girona, juntou os três cantautores.
Marco Oliveira: "Conheci o Hugo em Setúbal, quando estive numa feira de música, que se chama Exib. Nessa altura, já o Hugo tinha a ideia de juntar, em palco, três autores que cantam e escrevem, para partilhar as suas canções. E quando o Hugo falou com o Márcio Faraco, o Márcio falou de mim, eu tinha-o conhecido em Paris, no final de 2017".
Hugo Arán: "Conseguimos uma ajuda, uma bolsa do governo catalão, da La Marfá, Fizemos uma residência artística durante uma semana na cidade de Girona, onde compusemos este show os três, com músicas autorais, e também intervimos nas músicas uns dos outros. Foi uma semana muito intensa, onde comemos e bebemos muito, e tocámos muito também. Foi um trabalho muito bonito, gostei muito".
Márcio Faraco: "Eu tinha esse nome, Cada Um Canta Uma, guardado. Sempre pensei fazer um show, como se fosse em casa. Como se fosse na minha adolescência, em Brasília, onde a gente se sentava em baixo dos prédios e tocava violão. Cada um cantava uma música que tinha feito. Eu achava aquilo muito bom, e queria recuperar isso. O Hugo me ligou, falando que tinha o governo de Espanha que queria nos dar uma residência lá, se a gente quisesse construir um show. Eu falei: Olha, eu tenho um nome, e também tem uma pessoa, um português de que eu gosto muito, um grande compositor e cantor que é o Marco Oliveira. E estamos aqui os três. O Hugo, é um grande compositor e cantor também, espanhol".
Marco Oliveira: "De todas essas ideias juntas saiu um espectáculo. A residência, durante uma semana em Girona, foi especial, porque houve essa partilha na escolha de canções, e perceber como essas três, quatro canções, de cada um de nós, se conseguiriam cruzar, foi o momento em que percebemos que temos essa característica em comum. Somos compositores que compõem com a guitarra na mão. Exploramos muito através dos acordes e da harmonia da guitarra. E a partir daí percebemos que o espetáculo podia ser mesmo esse", informa Marco Oliveira.
Hugo Arán: "Fizemos um show de uma hora e meia onde falámos da origem das músicas e fizemos interpretações das músicas entre nós".
Márcio Faraco: "Estamos os três a fazer mais ou menos a mesma coisa, o mesmo trabalho. Só que cada um tem a sua identidade, a sua linguagem, porque um é português, um é brasileiro, e um espanhol. A gente se adaptou à linguagem de cada um, tem que se entender como funciona. A guitarra do Fado é diferente da guitarra do Samba, que é diferente da Milonga, mas a gente se adapta e aprende. Quando você é um compositor que defende o seu trabalho, você pensa muito em você. No caso de três compositores, você tem que ter muita humildade para poder ajudar o outro, escutar e se colocar atrás. É bom, muito bom", finaliza o cantautor brasileiro.
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