Os restos mortais de Farinelli, um dos mais famosos cantores de ópera castrados do século XVIII, foram exumados em Julho passado com o objectivo de reconstituir o seu perfil biológico.
Um grupo de investigadores italianos desenterrou a 12 de Julho os restos mortais do cantor (1705-1782), sepultados na cidade italiana de Bolonha. Através do osso do maxilar, vários dentes, parte do crânio e quase todos os ossos principais, os cientistas pretendem realizar um estudo antropológico para obter várias informações sobre Farinelli, castrado na infância para conservar a voz de soprano (ver caixa).
Gino Fornaciari, director científico do projecto que envolve as universidades italianas de Bolonha, Florença e Pisa e a britânica de York, explicou ao jornal espanhol ‘ABC’ que as investigações vão ser realizadas em três fases: “Após o processo de restauro dos ossos, que se prevê seja longo e árduo dado o estado de degradação, vamos efectuar um estudo antropológico para conhecer a altura, a actividade física, as características crânio-faciais, etc. de Farinelli”.
Posteriormente, os restos serão sujeitos a exames paleopatológicos, a fim de determinar as doenças de que o cantor sofreu e, por último, será efectuado um estudo químico do tecido ósseo a fim de se obter dados sobre a sua dieta alimentar.
Por detrás destes estudos esconde-se um outro objectivo: recolher informações sobre a excepcional voz que deu fama a Farinelli e o tornou no cantor exclusivo do rei Filipe V de Espanha. Aliás, a sua voz era o antidepressivo ideal para o monarca, que sofria de depressão crónica.
Os ossos principais do cantor são “longos e robustos, o que corresponde aos retratos oficiais de Farinelli, bem como à fama que os cantores ‘castrati’ tinham de ser invulgarmente altos”, adiantou Carlo Vitali, do Centro de Estudos Farinelli.
Esta entidade, responsável pela exumação, foi criada em 1998 em Bolonha para promover a investigação museológica, histórica, literária e artística relacionada com a figura do ‘castrato’ napolitano, que inspirou o filme ‘Farinelli’, do realizador belga Gérard Corbiau (1994).
Farinelli, de nome verdadeiro Carlo Broschi, nasceu a 24 de Janeiro de 1705, em Nápoles, Itália. Com sete ou oito anos, foi castrado para preservar a sua magnífica voz. Estudou no Conservatório sob a orientação de Nicola Porpora, um dos mais importantes professores de música da época.
Em 1720, cantou, pela primeira vez, em público. Dois anos mais tarde, estreou-se em Roma na peça ‘Eumene’ e obteve grande sucesso. Passou a cantar nas principais cortes europeias para diversos monarcas.
Aos 32 anos, pôs termo a uma carreira musical de sucesso e passou a cantar exclusivamente para os reis espanhóis Filipe V e Fernando VI. Além de cantar, tocava vários instrumentos e compôs diversas peças. Morreu em Bolonha a 15 de Julho de 1782.
AFONSO HENRIQUES E COLOMBO
Nos últimos meses, notícias sobre a exumação dos restos mortais de figuras históricas têm sido numerosas.
Este tipo de investigação é muito comum no estrangeiro mas não ainda em Portugal. Recorde-se a tentativa de exumação das ossadas do rei D. Afonso Henriques, sepultado em Coimbra. A investigação, liderada pela antropóloga forense e bióloga Eugénia Cunha, visava traçar o perfil biológico do primeiro rei de Portugal, mas a abertura do túmulo foi proibida à última hora pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR).
A autorização para o processo depende agora do Ministério da Cultura. Em Espanha, outra exumação famosa foi a de Cristóvão Colombo. Graças ao estudo ao ADN, ficou confirmado que os ossos que estão em Sevilha (foto) pertencem ao navegador, pondo fim a uma polémica que se arrastava há séculos.
HOMENS COM 'VOZ DE ANJOS'
Grandes estrelas do século XVIII, os ‘castrati’ eram homens que, na adolescência, haviam sido castrados para impedir que a voz se tornasse mais grave. De entre os mais famosos, contam-se Caffarelli, Porporino, Senesino, Bernacchi, Farinelli e Moreschi (o último, falecido em 1922).
Se inicialmente integravam apenas coros religiosos, depois foram usados em óperas porque às mulheres não era permitido cantar quer nos coros das igrejas quer em teatros. O ‘castrato’ tinha ‘voz de anjo’, fresca como a de uma criança mas com a força vocal de um homem, a mas maior parte não passava dos coros de igreja.
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