A jornalista Ana Paula Almeida acaba de publicar mais um romance, o quatro da sua carreira literária. 'Corações Re-Partidos' é um policial com intriga amorosa que nos conta a história de um homem que, depois de morto, se descobre ser polígamo.
Correio da Manhã – Este romance, que cruza o género policial com a intriga amorosa, tem um tema curioso: a poligamia. Um homem casado com duas mulheres, morre, num assalto. Inspirou-se numa história verídica para o escrever?
Ana Paula Almeida – Se não aconteceu podia ter acontecido... É curioso que, depois do livro ter saído, telefonaram-me a dizer que um senhor já velhote, no Alentejo, tinha duas mulheres ao mesmo tempo. Ao que parece, elas descobriram e primeiro foi um sarilho mas agora vivem os três juntinhos, no monte. Uma vendedora da FNAC também me disse que só tinha conhecido a filha do marido quando este morreu, há dois anos. Agora trata-a como filha, porque “a moça não tem culpa”. Na editora perguntaram-me se a trama tinha alguma coisa a ver com o taxista de Alvalade que tinha sido assassinado em janeiro… Isto mostra bem que, afinal, há muitos casos destes. Dissimulados ou às claras, de norte a sul do País.
– Acontece-lhe ter ideias para escrever a partir de acontecimentos que testemunha como jornalista?
– Num dos meus livros, ‘Códigos de Silêncio’ [D.Quixote, 4ª edição], recorri algumas vezes a factos e a pessoas que fui conhecendo ao longo de 30 anos de carreira e que surgem pontualmente em várias das vinte e duas histórias que o compõem. Neste isso acontece menos, mas sim, reconheço que alguns dos acontecimentos que mais me impressionaram enquanto jornalista possam, consciente ou inconscientemente, passar para a folha em branco.
– Algum caso específico que a tenha marcado mais?
– Trabalhei vários anos no programa ‘Casos de Polícia’, da Sic. Neste livro está implícito um elogio à nossa Polícia Judiciária, que considero uma das melhores do Mundo. De uma forma geral, marcam-me os casos de mulheres vítimas de violência doméstica, de mulheres que não conseguem ter filhos, de mães-coragem, famílias mono-parentais, homens maquiavélicos, gente frívola e libertina, crianças maltratadas, investigações e perseguições policiais. O ‘bas fond’ da sociedade, no fundo, o paraíso artificial das drogas, as festas mundanas, a moda, o glamour e viagens às sete partidas do Mundo. Como é que isto pode não tocar? Não só como jornalistas, mas também como seres humanos.
– Qual é a sua maior fonte de inspiração? Como lhe surgem as histórias que decide levar ao papel?
– Escrevo desde miúda. Não resisto à escrita, por prazer e por paixão. A maior fonte de inspiração é a vida e as pessoas. As que me rodeiam, as que se cruzam de raspão mas conseguem tocar-me de alguma forma. Também as paisagens idílicas e os locais inóspitos, aromas, sabores… Outros escritores, músicas, histórias que mexem comigo…
– Quanto tempo demorou a escrita deste livro?
– Demorei bastante tempo a redigi-lo e a passá-lo para computador (sim, ainda escrevo tudo à mão primeiro!). Como tenho muito pouco tempo livre, só a altas horas da noite é que consigo ter paz para escrever. O livro é sempre um parto moroso, sensível e difícil, pelo menos para mim. Tenho de estar muito segura. Até ao último dia estou a burilar a história, a apagar, a reescrever e corrigir. Acho que teria sempre alterações para fazer. As personagens têm tanto para dar...
– A quem destina esta obra? Não parece ser um livro estritamente feminino, já que as personagens principais, em torno das quais gira a maior parte da narrativa, são dois homens...
– Não me considero uma escritora só porque publiquei quatro livros… Serei sempre, acima de tudo, uma jornalista que gosta de escrever histórias, se possível de formas diferentes. Eu gosto muito do Universo feminino, transversal nas obras que já publiquei, mas sim, tem razão, este não é um livro estritamente para mulheres. É um romance policial repleto de histórias de amor, traição, vida, morte e vida para além da morte. Tenho recebido diversos elogios de muitos homens com profissões bem distintas, talvez por se identificarem com parte da história, ou com alguns dos pensamentos e atitudes, seja do morto seja do polícia...
– E as leitoras, que lhe dizem?
– Preferem a componente mais humorística e o tom que tentei dar à história... Dizem que não é nada lamechas, que se lê depressa, com avidez e curiosidade, e alguns leitores já me disseram que se fartaram de rir com algumas das tiradas do morto.
– Há uma faceta paranormal na acção de 'Corações Repartidos', que é também a história de uma grande amizade que se forja entre um detective e um homem que já morreu.
– A vertente mais esotérica e misteriosa faz parte do cenário colorido e reforça a relação quase paranormal entre o morto e um dos inspetores da Judiciária. Se o inspector não tivesse um laivo de mediunidade, não receberia as mensagens do outro, que são uma alavanca importante e bem disposta ao longo da história.
– Aconteceu porque acredita em fantasmas?
– Creio em Deus. Sou uma mulher de Fé e acredito que há vida para além da vida. E acho que, embora seja invisível, ela pode (pre)sentir-se de várias formas, através de vários sinais. Temos de resolver, dizer e fazer tudo enquanto pudermos, com os pés assentes na terra, para não deixar mágoas, pontas soltas, projectos ou amores por concretizar.
– O Fernando Dacosta diz que este livro podia dar uma peça de teatro ou um filme. Teve essa noção ao escrever?
– O Manuel Fonseca, da Guerra & Paz, o Moita Flores, a Moema Silva e muitas outras pessoas me têm dito o mesmo. Que este livro tem história, garra, ritmo, suspense, uma narrativa enxuta com amor, paixão, traição e morte, todos os ingredientes para um filme. Não o fiz de forma intencional, deliberada, senão teria escrito um argumento ou uma peça de teatro. Mas escrevi-o de forma vertiginosa, com frases curtas, com várias cenas a acontecer em simultâneo, por que também é assim a vida, veloz, não pára. Tudo acontece em 72 horas, mas já há um filme com esse título. Assim sendo, argumento, realizador, atores, cenários e boa vontade já há. Falta o dinheiro... Mas pode ser que um dia destes alguém se decida a adaptar os ‘Corações Re-partidos’ ao palco, à TV ou à tela. Quem sabe?
– Enquanto escritora, qual seria a sua melhor recompensa?
– Enquanto escritora quero apenas cativar quem me lê, que os leitores passem um bom bocado, que desfrutem, consigam “viajar, perder países”, aprender algo, sonhar, recuperar memórias, relaxar, emocionar-se... sorrir. Procuro dar um beijo no coração, transmitir alguma esperança e otimismo. Haverá sempre momentos duros que parecem intermináveis mas depois também existem outros melhores, mais suaves. É preciso acreditar, ter alguma serenidade, ter esperança. A vida é um carrocel, uma viagem de ida com muitas reviravoltas... Quem me conhece sabe que vejo sempre o copo meio cheio e quero que essa mensagem também passe nas entrelinhas, a vida tem sempre de ser vivida a cem por cento e com paixão... Porque, como digo neste livro, “Nunca se ouve o tiro que nos mata”.
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