page view

Anita Guerreiro deixou-nos como queria, "sem reconhecer o fim"

Fadista e atriz tinha 89 e residia na Casa do Artista.

08 de dezembro de 2025 às 01:30

Simpática, bem disposta, com um sentido de humor surpreendente e uma autenticidade que desconcertava. Era assim Anita Guerreiro, a fadista para sempre associada ao tema ‘Cheira Bem, Cheira a Lisboa’ e que morreu este domingo, em Lisboa, aos 89 anos. Nascida Bebiana Guerreiro Rocha Cardinali, em Lisboa, a 13 de novembro de 1936, cedo se percebeu que tinha uma voz fora de série. Começou a cantar em público com sete anos e em 1952 concorreu ao ‘Tribunal da Canção’, de onde o produtor Marques Vidal a retirou para a levar a outros voos: foi cantar para o Café Luso, adotando então o nome artístico de Anita Guerreiro. Foi um instantinho até chegar ao teatro. Estreou-se na Revista ‘Ó Zé Aperta o Laço’, da companhia Eugénio Salvador, e seguiram-se dezenas de espetáculos onde entrou quer como atriz quer como fadista e onde foi muito aplaudida. Tanto assim que em 1970 recebeu o Prémio Estêvão Amarante para Melhor Artista de Revista.

No Parque Mayer, chegou a fundar a sua própria casa de fados, a Adega da Anita, já que, em paralelo com a carreira teatral, continuou o seu percurso no fado e gravou grandes êxitos como ‘Sou Tua’, ‘Lição de Amor’ ou ‘Calçadinha Portuguesa’.

Depois de um interregno na década de 1980 – altura em que atuou sobretudo no estrangeiro – voltou para brilhar na televisão. Como atriz, vimo-la em séries e novelas como ‘Roseira Brava’, ‘Batanetes’ ou ‘Super Pai’, entre tantos, tantos outros. Mulher dos sete ofícios, foi ainda Madrinha das Marchas Populares de diversos Bairros de Lisboa – uma presença que se fazia notar. “Fui madrinha de quase todos os bairros e fui sempre tão acarinhada, as pessoas trataram-se sempre tão bem, que acabava aquilo quase sempre a chorar”, chegou a revelar, em entrevista a Manuel Luís Goucha.

Anita Guerreiro morreu pouco depois da meia-noite deste domingo, na Casa do Artista, onde residia desde 2018. Morreu, no sono, como queria, “sem reconhecer o fim”. “Peço-o muitas vezes. Ai Deus, leva-me mas não me faças sofrer.”

QUERIA SER MILIONÁRIA

Anita Guerreiro disse um dia que “se não fosse artista queria ser milionária”. Foi rica em reconhecimento, pois além de aplausos, colecionou prémios. Entre eles, a Medalha de Mérito Grau Ouro, atribuída pelo município de Lisboa por ocasião dos 50 anos de carreira. Em comunicado, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa lamentou a morte de uma artista que se destacou pela “simpatia e popularidade” e que “marcou gerações”.

Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?

Envie para geral@cmjornal.pt

o que achou desta notícia?

concordam consigo

Logo CM

Newsletter - Exclusivos

As suas notícias acompanhadas ao detalhe.

Mais Lidas

Ouça a Correio da Manhã Rádio nas frequências - Lisboa 90.4 // Porto 94.8