Este não foi um ano estimulante no teatro português. A contestação aos apoios pontuais – ou à falta deles – assinalou o momento mais quente de 2005, ano em que os artistas brasileiros voltaram a marcar presença nos nossos palcos (Paulo Autran, Christiane Torloni, Marília Pêra...) e continuaram a multiplicar-se as produções comerciais com gente conhecida do pequeno ecrã.
Teresa Guilherme lançou-se na produção teatral e estreou-se como actriz em ‘A Partilha’, Virgílio Castelo encenou ‘O Método Gronholm’ (interpretado por António Pedro Cerdeira, Maria João Bastos, José Boavida e Marco Delgado) e Tozé Martinho fundou uma nova companhia e andou por todo o lado com a comédia ‘Pijama para Seis’.
A grande desilusão, no capítulo comercial, foi o desastroso ‘É Tudo Mentira’, que juntou no palco Rute Marques e Miguel Melo (participantes na ‘Quinta das Celebridades’), em volta de um texto abaixo dos mínimos.
No ano em que o Teatro Experimental de Cascais comemorou 40 anos de vida, o Nobel distinguiu novamente uma grande personalidade do teatro (o britânico Harold Pinter), e Filipe La Féria estreou mais um musical (‘A Canção de Lisboa’). O actor José Pedro Gomes pregou-nos um susto ao ser operado de urgência a um aneurisma, mas, pouco depois, estreava, na Casa do Artista, ‘Coçar Onde é Preciso’, revelando um sentido de humor intacto.
Este foi também o ano de alguns regressos: Nicolau Breyner voltou aos palcos com ‘Esta Noite Choveu Prata’, com que percorreu o País de norte a sul, e Vítor Espadinha interpretou um homossexual divertido em ‘Acredita, Estou Possuído’.
Celso Cleto voltou a pôr Sofia Alves na ribalta com o espectáculo ‘Socorro! Estou Grávida’, estreado no Teatro Mundial, e Almeno Gonçalves decidiu assentar arraiais naquele antigo cinema de Lisboa, com o firme propósito de conquistar mais um espaço de teatro para a cidade.
Quem perdeu a casa foram os Artistas Unidos: no princípio do Verão deixaram o Teatro Taborda, que ocupavam temporariamente, para assumirem a condição de sem-abrigo. Há meio ano que andam com a casa às costas. Este foi, ainda, o ano em que tivemos de dizer adeus a dois grandes vultos teatrais: o actor Canto e Castro e a actriz Isabel de Castro. As últimas palmas são para eles.
VIOLÊNCIA NA COMUNA
Foi um dos grandes espectáculos de 2005, até pela pertinência do tema. ‘Robert Zucco’, peça do francês Bernard-Marie Koltès (1948-1989), inspira-se na história verídica de um jovem que, de um momento para o outro e sem nada que o faça prever, começa a matar, numa escalada de violência tão descontrolada quanto inexplicável. João Mota transformou o texto num espectáculo marcante e inesquecível. Em 15 cenas distintas, pôs uma máquina de cena a funcionar perfeitamente. João Tempera, Margarida Carpinteiro, Álvaro Correia, Carlos Paulo e Ana Lúcia Palminha interpretaram, brilhantemente, as personagens.
O 'SANGUE' DA CORNUCÓPIA
Num ano particularmente feliz na história da Cornucópia, destaca-se o excelente ‘Sangue no Pescoço do Gato’, de Fassbinder. Luís Miguel Cintra assinou mais um espectáculo brilhante, aqui um trabalho que nos fala da incompreensão. A acção gira à volta de um extraterrestre que tenta apropriar-se da linguagem humana, roubando frases aqui e ali e repetindo-as fora de contexto. O espectáculo devolve-nos, como um espelho, o reflexo de nós próprios e revela, de forma eloquente, a convencionalidade da comunicação entre as pessoas. Rita Loureiro, Rita Blanco, Rita Durão e António Fonseca integraram um elenco impecável.
"GENIALMENTE ENCENADO" (SÓNIA TAVARES - VOCALISTA DOS THE GIFT)
“‘Sangue no Pescoço do Gato’, de Fassbinder, genialmente encenado por Luís Miguel Cintra, que admiro profundamente, e interpretado por um elenco carismático. Esteve na Cornucópia.”
"BELÍSSIMO TEXTO" (NICOLAU BREYNER - ACTOR DE TEATRO, CINEMA E TELEVISÃO)
“‘Esta Noite Choveu Prata’ é um belíssimo texto do Pedro Bloch e foi um excelente exercício para mim, como actor, por representar três papéis tão distintos. Deu-me muito prazer fazer esta peça.”
"TEMA BEM ESCOLHIDO" (NUNO LIMA DE CARVALHO - DIRECTOR GALERIA DO CASINO ESTORIL)
“‘Karamel’, com Vítor de Sousa e Hugo Sequeira. Teatro de que se gosta, uma fórmula teatral sem exigência de grandes recursos mas com um tema bem escolhido e excelentes interpretações.”
"A LISBOA DO MEU CORAÇÃO" (FILIPE LA FÉRIA - ENCENADOR E PRODUTOR TEATRAL)
“‘A Canção de Lisboa’. A Lisboa do meu coração e do coração de todos os portugueses, posta em cena no Politeama com um grupo de actores, cantores, bailarinos, músicos e técnicos de excepção.”
"PRODUTO INESQUECÍVEL" (MÁRIO CLÁUDIO - ESCRITOR)
“A melhor peça foi, seguramente, ‘Copenhaga’, de Michael Frayne, encenada por João Lourenço no Teatro Aberto, e que constituiu um produto verdadeiramente inesquecível.”
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