Luís Portugal fala dos espetáculos de celebração já dia 24 no Porto (Casa da Música) e dia 12 de dezembro em Lisboa (CCB)
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O que estão a preparar para estes concertos, em Lisboa e Porto?
Nós já não tocamos no Porto e em Lisboa, em nome próprio, desde 2013 e achámos que estes 45 anos, por serem uma data redonda, eram o motivo ideal para o fazer, ainda por cima em salas emblemáticas como a Casa da Música (Porto) e o CCB (Lisboa). O que vamos fazer é revisitar o nosso trabalho discográfico destes anos todos com algumas novas roupagens e uma banda mais alargada. O que queremos é tocar para os nossos fãs, mas também para aqueles que nos vão descobrindo. Temos percebido nos concertos que há público que vem ter connosco de uma faixa etária que ainda não era nascida quando tínhamos maior atividade. Mas isso só mostra a intemporalidade da nossa música.
E como é subir atualmente ao palco, numa altura em que nenhum de vocês é mais um adolescente e a idade já é outra?
Se não tivéssemos gosto em subir a palco, ver o público à nossa frente e a relação que ainda conseguimos estabelecer, provavelmente já tínhamos desistido. Já não vamos para novos, é certo, mas o gosto e o prazer em fazer isto ainda continua a ser muito grande. Em 2013, depois de termos feito os coliseus dissemos que íamos cessar a nossa atividade, mas as coisas têm funcionado tão bem que ainda aqui estamos em 2025.
Que noção tem desta linha temporal de 45 anos e como é que olha para ela?
Se isto fosse uma coisa sofrida, talvez olhássemos para estes 45 anos de forma diferente e sentíssemos o peso dos anos, mas a verdade é que ainda temos um gosto enorme nos concertos e até nos ensaios.
E quando tem que voltar àquele início, quais são as memórias mais vivas que lhe ocorrem?
Ui são tantas! Foram muitos milhares de quilómetros feitos durante estes anos todos. Inicialmente, as coisas eram muito naifs, não tinham nada a ver com o que se passa hoje, até em termos técnicos. O circuito de salas que temos hoje é incomparável. Antigamente, os únicos concertos que podíamos fazer fora do Porto e Lisboa, eram as festas de finalistas dos liceus e das escolas. No verão ainda apareciam mais umas coisas por causa das festas populares, mas não existiam festivais nem nada.
Daquela altura chegam histórias verdadeiramente insólitas e bizarras. Os Jafumega também devem ter várias!
Chegámos a fazer concertos em carrinhas de caixa aberta (risos). Mas lembro-me de uma situação muito caricata, para os lados Fundão, acho que em S.Jorge da Beira. Fomos convidados para a festa local e quando chegámos lá, verificámos que não havia luz elétrica na aldeia toda. Eles deviam estar à espera de um rancho folclórico e aparecemos nós (risos). Então, ficámos a pernoitar nesse dia no Fundão enquanto eles foram alugar um gerador. Mas o problema não ficou por ali. É que o gerador não aguentava a potência que era necessária e os teclados e os amplificadores de guitarra quase que não arrancavam. Acabámos com um som distorcido e muito arrastado. Uma coisa horrível. Mas tivemos mesmo que tocar se não éramos trucidados. Nós que até já tínhamos o nosso projeto de luz para os concertos, nem sequer o podemos montar. Tivemos que ficar com as luzes da festa por cima do palco. Uma outra vez fomos convidados para tocar em Viseu e quando lá chegámos, em vez de encontrarmos uma salão, encontrámos uma casa em obras. Ainda tudo em tijolo e com o chão por acabar. Isto já para não falar de quando tínhamos que ir tocar a Bragança e estávamos obrigados a sair quase um dia antes. E com partida do Porto (risos). Ir ao Alentejo ou Algarve era quase impensável. Mas acho que quem passou por isto é que dá valor ao que foi aquele tempo em que andámos a partir pedra para que a música portuguesa chegasse onde chegou hoje.
E acha que as novas gerações de músicos reconhecem o que vocês passaram lá atrás?
Eu acho que não. Hoje é impensável fazer o paralelismo entre as condições que existem atualmente e os que tínhamos nos anos 80. Nós gravámos, por exemplo, o nosso primeiro disco, 'Estamos Aí', cantado em inglês, num único dia porque alugar um estúdio era caro e por isso tivemos que rentabilizar. Entrámos no estúdio de manhã e acabámos ao final do dia. Aquilo era quase um live.
Depois desse tal disco em inglês, o verdadeiro sucesso dos Jafumega rebenta em 1982, com um disco homónimo. Vocês estavam preparados para aquela atenção que vos deram?
Acho que não estávamos nós e não estava ninguém. Quando lançámos esse primeiro disco em inglês ainda não se tinha dado o boom do rock português. Foi depois do 'Chico Fininho', do Rui Veloso, que começou a necessidade de escrever e cantar rock em português. Nós ficámos um bocado alarmados, porque as nossas influências eram anglo-saxónicas Quando a editora nos disse que tínhamos que começar a escrever em português ficámos assustados: E agora? E então recorremos ao Carlos Tê que foi das primeiras pessoas a escrever para nós, juntamente com o José Soares Martins que era um amigo do Tê que este nos tinha apresentado. Trabalhavam ambos no Banco de Portugal. E foi a partir daí que começámos com o nosso percurso mais visível do grande público. Mas nunca tivemos à espera do êxito que tivemos.
Mas lidaram bem com isso?
Sim, fomos crescendo musicalmente, embora todos nós, sobretudo a parte mais instrumental da banda, já tinham alguns anos de estrada.
No início dos anos 80, ali na antecâmara do tal boom do rock português, sentiram que estava a nascer alguma coisa nova?
Sim, até porque a televisão e a rádio começaram a passar música portuguesa, coisa que até então não acontecia, a não ser com a chamada música ligeira. A música pop ou a música moderna não tinha grande espaço. Até surgiram programas só dedicados ao novo movimento como o 'Viva a Música' que passava só videoclipes de música portuguesa, coisa que pouco antes era impensável. As coisas começaram a ganhar uma importância tal que percebemos que estávamos a fazer parte de algo culturalmente relevante no país. E o que é certo é que até hoje ainda não parou.
Vocês que estiveram presentes no auge da indústria e do mercado da música, sobretudo no que toca à venda de discos, ainda vale a pena gravar?
Pelo gozo que dá sim, mas financeiramente não. Para alguns artistas internacionais e de dimensão mundial ainda é rentável, mas o disco físico já é hoje um objeto de coleção.
Depois do fim dos Jafumega em 1986 por onde tem andado desde então?
Pessoalmente fiz filhos (risos) e abrandei um bocadinho a parte musical. Eu sou de Vila Real, mas vivi sempre no Porto desde a altura de estudante e foi nessa fase que conheci os restantes elementos do grupo. A partir daí, como tinha alguns anos de faculdade de arquitetura, acabei por ir dar aulas de geometria descritiva. Lembro-me que no início de cada ano letivo os miúdos entravam na sala de aula, pediam desculpa e voltavam a sair porque achavam que se tinham enganado e que aquilo era a aula de canto coral ou de música. Depois de alguns anos a dar aulas, recebi um convite para voltar a cantar na RTP, nos programas da manhã e o bichinho como esteve sempre cá dentro começou outra vez a pôr-se à espreita. Depois fiz dois discos a solo mas sem preocupação de carreira. Mas como nós nos encontrávamos quase sempre nos mesmo tascos e dizíamos sempre que para o ano nos voltaríamos a encontrar, chegou um dia me que dissemos vamos alugar os Coliseus que assim já não podemos recuar. Voltámos então em 2013 e desde então temos feito os espetáculos que queremos. Vamos mantendo acesa esta chama.
Mas neste momento qual é a sua principal atividade?
Eu sou programador cultural no município de Estarreja e Oliveira de Azemeis e continuo por isso sempre ligado à cultura.
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