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João Grande, dos Taxi: "A música mantém-nos num estado de juventude permanente."

Banda assinala 45 anos de carreira, este sábado no Coliseu de Lisboa e dia 14 no Coliseu do Porto.

08 de novembro de 2025 às 17:06

Eles são uma das mais icónicas bandas do rock português e estão a comemorar 45 anos de carreira. João Grande e Rui Taborda, os dois membros fundadores e resistentes dos Táxi, assinalam a data com dois concertos nos Coliseus, este sábado (8), em Lisboa, e dia 14 no Porto. O pretexto para uma entrevista ao vocalista, sobre o passado e o presente de um projeto que, em 1981, recebeu o primeiro disco de ouro do rock português.  

O que estão os Taxi a preparar para estes concertos nos Coliseus?

Das coisas que mais gosto é tocar ao vivo, independentemente de ser um Coliseu ou não. O palco é sempre algo muito especial para nós. Estes Coliseus são o início da celebração dos 45 anos e por isso vamos tocar músicas que já não tocamos há muito tempo e até algumas que nunca tocámos, como o 'Páginas Amarelas', o que só pelo título se pode ver o quão antiga a música é (risos). Vamos ter convidados surpresa, vamos ter metais, um coro infantil e algumas coisas fora de vulgar. Queremos que as pessoas que nos veem regularmente também sejam surpreendidas. 

Depois de tantos anos, ainda é preciso ensaiar ou isto já se faz de olhos fechados?

Não. Ensaiamos muito. Até nem ensaiamos tanto quanto eu gostaria. No início, quando começámos a tocar ensaiávamos diariamente 5 a 6 horas. Por isso é que éramos uma máquina absolutamente incrível. Mas também na altura estávamos devotados e dedicados exclusivamente a Taxi. Hoje temos uma nova formação e, por exemplo, um dos nossos guitarristas tem cinco bandas e o baterista tem outras três. E por isso é difícil conciliar concertos e ensaios. Ou seja, por mim os Taxi ainda ensaiavam muito mais. Criar automatismos é muito importante. 

Mas também tem a ideia de que hoje estão muito melhor do que estavam há 40 anos?

Sem dúvida. Neste momento estamos com o melhor som que tivemos até hoje, até porque temos um segundo guitarrista, coisa que eu defendi em muitos momentos. 

E que gozo é que isto tudo ainda lhe dá?

Eu não consigo perceber é essa do "ainda" (risos). Se não tivesse gozo nenhum nisto já me tinha ido embora. Eu costumo usar muito uma frase que o Frank Sinatra dizia: "Quando, no momento antes entrar em palco, não me sentir nervoso, eu arrumo as botas". E curiosamente, depois destes anos todos, sinto-me mais nervoso, não sei se é por responsabilidade, se é por causa do público que é diferente ou por causa das salas... Acho que nunca podemos achar que são favas contadas. 

Já que fala em público, o que acha que continua a manter as pessoas ligadas a bandas como os Taxi? É saudosismo ou é de facto a intemporalidade e a qualidade da música? 

Eu tenho um amigo que me diz que já não nos pode ouvir, porque tem crianças pequenas e a nossa música tem que estar a tocar em loop (risos). Mas respondendo à questão eu acho que há sim, para algumas pessoas algum saudosismo, porque nós fazemos-lhes lembrar uma época em que as pessoas eram mais descontraídas e ainda não tinham contas para pagar. Se calhar lembram-se de como eram felizes nessa altura. 

E o João também é saudosista daquele tempo?

Não, mas gosto muito de recordar momentos e locais onde fui emocionalmente feliz e isso faz parte da condição humana. 

O João Grande e o Rui Taborda são os membros fundadores e resistentes da formação original. O que é que ainda existe daqueles miúdos do Porto que um dia tiveram que vir a Lisboa gravar o seu primeiro disco?

Nós gostávamos muito de música e éramos completamente viciados em música. Para mim é a melhor coisa do mundo e eu até acho que o Rui ainda está nisto por causa de mim. Eu tenho três grandes paixões na  vida que são o amor, a música e as viagens. No que diz respeito à música eu acho que ainda estou mais apaixonado do que quando comecei. 

E como é que foi aquela fase inicial?

Lembro-me que quando acabávamos de ensaiar íamos para um café no Porto que era o Orfeu, onde se encontravam três grupos distintos, que por acaso se interligavam e que falavam muito uns com os outros. Era o grupo comunista, o grupo de futebol onde estava sempre o Pinto da Costa, o Pedroto e o Hernâni Gonçalves e depois havia ainda o grupo da música que éramos nós. Nós estávamos sempre a falar de música. Acho que eram vocações que tínhamos desde miúdos. Hoje, a música para mim traz-me muito aquela síndrome do Peter Pan, parece que não me deixa envelhecer e que me mantém sempre jovem. A música mantém-nos num estado de juventude permanente. 

O facto de hoje se encontrarem condições para tocar incomparavelmente diferentes, para melhor, das que existiam nos anos 80, também facilita as coisas?

Meu Deus! só de me lembrar das estradas...O que nós sofríamos. Nós vínhamos quase todos os fins de semana a Lisboa e eram cinco horas de caminho sem autoestrada. Ir a Viseu eram três horas e ir a Castelo Branco era como ir a Espanha. Hoje os palcos são incomparavelmente melhores, mas devo dizer que foi muito recentemente que tocámos no palco mais pequeno de sempre, na praia de Odeceixe. Nós temos muitas histórias para contar mas como costumo dizer, tudo o que aconteceu em Vegas, fica em Vegas. As histórias viveram-se e ficaram lá. 

O disco 'Taxi', de 1981, foi o primeiro disco de ouro do rock português. O que é se recorda da gravação desse disco?

Sim, foi o primeiro disco de ouro da música moderna portuguesa. Tenho uma recordação fantástica, até porque eu costumava muito perguntar-me se os músicos tinham habitualmente a noção quando estavam a gravar uma música que ia ser um hit. Pois eu tive, quando gravei o 'Chiclete'. Tive essa noção na cabine do estúdio. Ainda por cima nesse dia eu fazia anos e o Tozé Brito apareceu de surpresa no estúdio com um bolo enorme de morangos e natas e uma garrafa de champanhe. Para uns 'parolinhos' que tinham vindo do Porto para Lisboa foi inesquecível. Ainda hoje temos obrigatoriamente que tocar oito ou nove músicas desse disco, que tem dez. 

Depois dos Coliseus vão seguir-se mais datas?

Sim, nós temos já muitos contratos fechados para o ano e ainda recentemente fomos convidados para atuar no Rock In Rio do próximo ano. Vamos tocar a convite dos Xutos & Pontapés no dia das lendas. 

Esta segunda vida dos Táxi, depois de uma dura batalha legal, com os restantes membros da banda por causa do nome do projeto, está a correr melhor do que esperavam?

Sim, aquilo foi muito complicado, mas chegámos a um acordo e está tudo ultrapassado. Hoje, os cinco atuais músicos dão-se todos muito bem e isso é o mais importante. Depois temos uma equipa técnica de luxo e ao todo somos treze pessoas. Posso dizer que a nível musical estou a passar a melhor fase de sempre. O único senão é que apesar de termos músicas novas, as rádios não as passam, mas isso é um mal generalizado. Os projetos mais clássicos têm pouco espaço. Ainda há pouco tempo o Bryan Adams se queixava disso mesmo, mas em compensação temos os concertos cheios. 

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