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Capa de 'Ar de Rock' recriada 45 anos depois. Todas as histórias escondidas do mais icónico disco do rock português

Rui Veloso, hoje com 68 anos, voltou a reencontrar-se com a criança de três anos da imagem original.

11 de outubro de 2025 às 01:30

Corria o mês de julho do ano de 1980 quando a editora Valentim de Carvalho lançou, com toda a pompa e circunstância, um disco com uma proposta nova e ousada: cantar rock em português. Hoje, ‘Ar de Rock’, o primeiro disco de Rui Veloso, é unanimemente visto como o álbum que serviu de ignição ao boom do rock português (entre outras, incluía as canções ‘Chico Fininho’, ‘Rapariguinha do Shopping’ ou ‘Sei de Uma Camponesa’).

Rui Veloso recria capa de 'Ar de Rock' com criança da foto original no Porto
Rui Veloso recria capa de 'Ar de Rock' com criança da foto original no Porto

Quarenta e cinco anos depois, a icónica capa desse disco foi agora recriada, no âmbito da exposição ‘Rui Veloso - Uma vida em 45 voltas’ que está patente no Arrábida Shopping, no Porto. Para a fotografia atual, Rui Veloso, hoje com 68 anos (à data tinha 22) voltou a reencontrar-se com, Bruno Salgado, a criança de três anos que dividiu consigo o protagonismo da capa. Tem hoje 48 anos e é CEO de uma empresa em Vila Nova de Gaia. “É filho de um casal de amigos meus que veio de Moçambique. O pai dele, o Jorge, até foi meu sócio num negócio que tive com o meu pai e o meu irmão”, viria a recordar recentemente Rui Veloso.

Recuperada foi também a carrinha usada na foto de 1980 que à data “era usada para transportar ferro e que estava nas docas de alcântara, numa altura em que havia para lá um monte de oficinas”, lembra o cantor. Foi descoberta agora pela curadora da exposição Sandra Barros Mateus. “Descobri que este carro estava na Maia nas mãos de um colecionador privado. Trata-se de um Hudson Series 58 Carrier Six ¾-Ton Pickup, de1946, que teve uma produção internacional limitada, com pouco mais de 3.000 exemplares”, revela, adiantando que a descoberta da viatura "foi uma surpresa para os dois".  

Gravado inteiramente em português, depois da editora ter convencido Carlos Tê [o autor das letras] a deixar o inglês, ‘Ar de Rock’ foi um  lugar estranho para muita gente nesses idos anos de 1980. Das onze canções, duas foram mesmo censuradas pela Rádio Renascença por causa da linguagem: ‘Bairro do Oriente’ e ‘Chico Fininho’. “Soube que foi mesmo a estrutura da igreja que os proibiu”, recorda o músico. 

O disco foi gravado e misturado em apenas 72 horas (“hoje há músicos que perdem mais do que esse tempo de volta de uma só canção”, observa Rui Veloso), mas apenas por uma questão de economia. "A questão é que, na altura, estar em estúdio era muito caro, até as fitas de gravação eram muito dispendiosas. Havia ainda o facto daquilo tudo ser um tiro no escuro. Ninguém sabia se o disco ia vender ou não. Se vendesse 4 ou 5 mil cópias a editora já ficava satisfeita. A verdade é que vendeu seis vezes mais do que isso e abriu uma série de portas". 

O processo de gravar um disco era de tal forma dispendioso naquela altura, que as próprios bobines originais do 'Ar de Rock' viriam a ser reutilizadas para gravar novos trabalhos. "Essa era uma prática corrente precisamente porque as fitas eram muito caras. Se não me engano, à data, cada uma custava entre 10 a 20 contos, o que era muito dinheiro. Salvo erro para o ‘Ar de Rock’ foram precisas três ou no máximo quatro fitas. Depois das gravações, ou a editora as comprava ou então elas voltavam para estúdio para voltarem a ser utilizadas. Ou seja gravavam-se outras coisas por cima. Eu sei que a Valentim de Carvalho foi sobejamente avisada de que iam ser desgravadas, mas os responsáveis não as quiserem comprar. Mas daí também não vem mal nenhum ao mundo, porque eu não gostaria de voltar a mexer nesse disco. Mexeria noutros mas nesse não", esclarece o cantor. 

Sobre a icónica capa ficam ainda dois pormenores curiosos: a fotografia, que foi originalmente tirada por Luís Vasconcelos, pai da hoje renomada artista plástica Joana Vasconcelos, nem sequer tinha sido feita para ser a capa de um disso. “Era para uma revista chamada ‘Rock Week’ que era do jornalista Luis Vita. Essa sessão é que foi aproveitada pela Valentim de Carvalho". 

Sobre a exposição que está no Arrábida Shopping, Sandra Barros Mateus diz que tem tido uma forte aceitação e que está a ser pensada para poder ser apresentada em outros pontos do país. "Vamos ver. Há hipóteses, mas depende de outros fatores". Para já estará patente até 21 de Outubro. "Ali, entre muitos outros objetos, está exposta, por exemplo, a primeira guitarra com que o Rui aprendeu a tocar com o seu pai, que é talvez, além da boina do BBKing, o elemento pelo qual o Rui tem mais carinho", diz. Exposto também está um dos muitos álbuns de recortes que a sua mãe fez da sua carreira.  

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