Rui Veloso, hoje com 68 anos, voltou a reencontrar-se com a criança de três anos da imagem original.
1 / 4
Corria o mês de julho do ano de 1980 quando a editora Valentim de Carvalho lançou, com toda a pompa e circunstância, um disco com uma proposta nova e ousada: cantar rock em português. Hoje, ‘Ar de Rock’, o primeiro disco de Rui Veloso, é unanimemente visto como o álbum que serviu de ignição ao boom do rock português (entre outras, incluía as canções ‘Chico Fininho’, ‘Rapariguinha do Shopping’ ou ‘Sei de Uma Camponesa’).
Quarenta e cinco anos depois, a icónica capa desse disco foi agora recriada, no âmbito da exposição ‘Rui Veloso - Uma vida em 45 voltas’ que está patente no Arrábida Shopping, no Porto. Para a fotografia atual, Rui Veloso, hoje com 68 anos (à data tinha 22) voltou a reencontrar-se com, Bruno Salgado, a criança de três anos que dividiu consigo o protagonismo da capa. Tem hoje 48 anos e é CEO de uma empresa em Vila Nova de Gaia. “É filho de um casal de amigos meus que veio de Moçambique. O pai dele, o Jorge, até foi meu sócio num negócio que tive com o meu pai e o meu irmão”, viria a recordar recentemente Rui Veloso.
Recuperada foi também a carrinha usada na foto de 1980 que à data “era usada para transportar ferro e que estava nas docas de alcântara, numa altura em que havia para lá um monte de oficinas”, lembra o cantor. Foi descoberta agora pela curadora da exposição Sandra Barros Mateus. “Descobri que este carro estava na Maia nas mãos de um colecionador privado. Trata-se de um Hudson Series 58 Carrier Six ¾-Ton Pickup, de1946, que teve uma produção internacional limitada, com pouco mais de 3.000 exemplares”, revela, adiantando que a descoberta da viatura "foi uma surpresa para os dois".
Gravado inteiramente em português, depois da editora ter convencido Carlos Tê [o autor das letras] a deixar o inglês, ‘Ar de Rock’ foi um lugar estranho para muita gente nesses idos anos de 1980. Das onze canções, duas foram mesmo censuradas pela Rádio Renascença por causa da linguagem: ‘Bairro do Oriente’ e ‘Chico Fininho’. “Soube que foi mesmo a estrutura da igreja que os proibiu”, recorda o músico.
O disco foi gravado e misturado em apenas 72 horas (“hoje há músicos que perdem mais do que esse tempo de volta de uma só canção”, observa Rui Veloso), mas apenas por uma questão de economia. "A questão é que, na altura, estar em estúdio era muito caro, até as fitas de gravação eram muito dispendiosas. Havia ainda o facto daquilo tudo ser um tiro no escuro. Ninguém sabia se o disco ia vender ou não. Se vendesse 4 ou 5 mil cópias a editora já ficava satisfeita. A verdade é que vendeu seis vezes mais do que isso e abriu uma série de portas".
O processo de gravar um disco era de tal forma dispendioso naquela altura, que as próprios bobines originais do 'Ar de Rock' viriam a ser reutilizadas para gravar novos trabalhos. "Essa era uma prática corrente precisamente porque as fitas eram muito caras. Se não me engano, à data, cada uma custava entre 10 a 20 contos, o que era muito dinheiro. Salvo erro para o ‘Ar de Rock’ foram precisas três ou no máximo quatro fitas. Depois das gravações, ou a editora as comprava ou então elas voltavam para estúdio para voltarem a ser utilizadas. Ou seja gravavam-se outras coisas por cima. Eu sei que a Valentim de Carvalho foi sobejamente avisada de que iam ser desgravadas, mas os responsáveis não as quiserem comprar. Mas daí também não vem mal nenhum ao mundo, porque eu não gostaria de voltar a mexer nesse disco. Mexeria noutros mas nesse não", esclarece o cantor.
Sobre a icónica capa ficam ainda dois pormenores curiosos: a fotografia, que foi originalmente tirada por Luís Vasconcelos, pai da hoje renomada artista plástica Joana Vasconcelos, nem sequer tinha sido feita para ser a capa de um disso. “Era para uma revista chamada ‘Rock Week’ que era do jornalista Luis Vita. Essa sessão é que foi aproveitada pela Valentim de Carvalho".
Sobre a exposição que está no Arrábida Shopping, Sandra Barros Mateus diz que tem tido uma forte aceitação e que está a ser pensada para poder ser apresentada em outros pontos do país. "Vamos ver. Há hipóteses, mas depende de outros fatores". Para já estará patente até 21 de Outubro. "Ali, entre muitos outros objetos, está exposta, por exemplo, a primeira guitarra com que o Rui aprendeu a tocar com o seu pai, que é talvez, além da boina do BBKing, o elemento pelo qual o Rui tem mais carinho", diz. Exposto também está um dos muitos álbuns de recortes que a sua mãe fez da sua carreira.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.