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LITURGIA DE PESO PARA 15 MIL

Foi em tons negros e pesados que se fez a noite de despedida do Festival da Ilha do Ermal, o último da temporada estival. Slipknot e Dimmu Borgir, proporcionaram os concertos por que todos há muito ansiavam, numa jornada em que as excepções ao peso foram Jon Spencer Blues Explosion e os lusos Parkinsons.

21 de agosto de 2002 às 21:25

O primeiro ultrapassou receios face ao sucedido na véspera com os Nickelback e ofereceu um concerto rock no seu estado mais puro: selvagem, primitivo, tingido de blues e sempre com o “feedback” à espreita.

Os lusos-londrinos, por seu lado, deram tudo e não viram o desejado "par de mamas" pedido pelo vocalista no final do concerto. Uma hora em palco e uma actuação insane mas muito competente bastaram, no entanto, para inflamar pequenos focos de agitação na plateia, então ainda a meio gás e pouco receptiva para rock esgalhado.

Era peso o que mais se pedia e nem mesmo o “strip” integral do vocalista despertou grandes estrilhos. "Está a ir mal (Ermal) ou a ir bem?" lançou a meio do concerto surpreendido pela apatia quase generalizada.

CELEBRAÇÃO NEGRA

O último dia do festival foi também o mais concorrido, com cerca de 15 mil a invadirem um terreno impecavelmente limpo de objectos. Para evitar repetições da véspera, a segurança foi reforçada - maior minúcia na revista, elementos misturados na multidão, etc. -, havendo mesmo quem se encarregasse apenas de apanhar garrafas. Ainda assim, algumas cruzaram o ar.

Aos portugueses Painstruck (que substituiam Andrew W. K.) coube a tarefa de abrir a jornada. Thrash-speed metal debitado com fúria para satisfação das escassas dezenas que se deram ao trabalho de guardar lugar o mais cedo possível.

Melhor estiveram os não menos brutais Mindlock, banda de Faro com apenas um EP mas argumentos de peso de sobra para vingar.

Após o interlúdio punk-rock de Spencer e Parkinsons, foi a vez dos muito esperados - pelo menos a avaliar pelo número de “t-shirts” -, Dimmu Borgir, que proporcionaram alguns dos momentos musicais mais belos de todo o evento. Uma celebração negra, orquestral, épica a tempos, mas sinistramente empolgante e temperada com muito "old material".

"SALTAR, SALTAR"

Em início de uma curta digressão europeia que lhes permite "estar juntos por uns tempos", segundo confessou Clown em conversa com o Correio da Manhã, os Slipknot saciaram por completo o apetite da multidão, num concerto em que Corey Taylor, o vocalista, se expressou em português por inúmeras ocasiões.

"Slipknot ama Portugal", "Saltar Saltar", "muito obrigado", "Esta música chama-se", "estiquem o dedo do meio no ar", foram frases disparadas pelo vocalista ao longo de toda a prestação. Brutal, um motim decibélico de princípio ao fim alimentado por temas do novo álbum, "Iowa", ou recuperados ao passado mais 'free'.

"Purity", a sucessão "New Abortion", "My Plague" e "Heretic Anthem" e, já em encore, "SIC" e "Surfacing" (com o vocalista envolvido na bandeira portuguesa) foram momentos altos de uma actuação que fez jus às expectativas.

O duro Ermal terminou e em grande, e com ele a temporada 2002 de festivais rock. Para o ano há mais.

ASSALTOS A TENDAS

Além do triste espectáculo de apedrejamento aos Nickelback - que os levou a abandonar o palco no início do concerto -, a segunda noite de Festival no Ermal ficou também marcada pelo elevado número de assaltos a tendas, apesar da segurança existente no local. No dia seguinte, os assaltos eram o tema de conversa entre os campistas, alguns dos quais haviam sido “despidos” de tudo, outros apenas de telemóveis, mochilas e pertences mais ou menos indispensáveis.

CLOWN: "AGARRAR A OPORTUNIDADE"

Pouco antes de subirem ao palco, os Slipknot receberam os jornalistas e ao CM coube "o palhaço". Personagem complexa que vive para a banda, “sem ela não teria família", Clown tem consciência de que desempenha um papel "complicado" no grupo. Que, diz, "sabe quando vai acabar". "Mais do que fazer carreira ou andar para aí 15 anos a gravar discos, o importante é agarrar a oportunidade. Saberemos quando esse dia chegar", disse. Para o louco percussionista, os recentes projectos paralelos em que estão envolvidos vários membros do grupo são "um sinal de que vamos chegar lá (ao final) mais cedo do que pensávamos". Comunicador e afável, Clown adiantou que a banda está de facto a trabalhar num novo disco, que não se sabe quando sairá. Quanto ao conteúdo, poderá passar por uma das "três áreas do nosso som, heavy, alguma melodia e experiências. Vamos ver no que resulta", disse antes de se referir à sua mais recente aventura, a montagem do DVD, "que sairá a 31 de Outubro. Vai ser diferente de tudo o que já se viu, com hipótese de escolha de uma de 49 câmaras, efeitos e sobretudo movimento”, confessou o músico na casa dos 30, que disse precisar também de "limpar a mente". Planeia escrever um livro, que poderá levar o título "Porque não consigo dizer nada que não a verdade?".

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