É acusado de pedofilia em ‘A Caça’, no filme de Thomas Vinterberg, numa interpretação intensa que lhe valeu o prémio de interpretação, o ano passado, no festival de Cannes. O conhecido ator dinamarquês assume o papel de Lucas, professor num infantário, perseguido por todos após por ter sido indicado por uma criança como autor de um abuso sexual.
Passa a viver um inferno onde ninguém acredita na sua inocência. Um papel e um filme impressionantes.
Correio da Manhã – Disse um dia que refletia sempre algo de si em cada personagem que interpretava. O que acha que tem de si na personagem do Lucas?
Mads Mikkelsen – O tipo de pessoa que nunca tocaria em crianças (risos). A sério, de uma certa forma ele é capaz de ser um pouco mais civilizado que eu. Possivelmente, teria confrontado essa situação de uma forma mais agressiva. Ele é um homem civilizado e acha que tudo não passa de um erro que será depressa corrigido. Só que acaba por tomar o efeito de uma bola de neve.
– Acha que ao representar Lucas consegue compreender o tipo de comportamento adequado a uma situação delicada como esta?
– Não sei, talvez seja algo que possamos encontrar em quem nos rodeia, na nossa família, amigos. Por exemplo, eu conheço pessoas como ele. Muitos amigos meus, teriam seguido esse caminho mais civilizado.
– O filme parece ser também um comentário sobre a intolerância. Pela forma como a comunidade reage de uma forma colectiva e cega?
– Temos sempre ter em conta que é um caso que envolve uma criança. Se ele fosse acusado de roubar um banco a reação seria diferente. Tratando-se de uma acusação de pedofilia é naturalmente muito pior e motiva reações imprevisíveis. Quando li o guião compreendi bem a reação de todas as personagens. E não sabia o que fazer com a minha revolta.
– A verdade é que nos últimos anos tem existido uma maior sensibilidade para o abuso sexual de crianças. Acha que pode originar um ambiente de alguma paranóia?
– Paranóia é uma boa palavra, mas não se esqueça que estamos a lidar com aquilo que mais amamos neste mundo – os nossos filhos. É aí que residem todos os nossos medos.
– E o facto de ser pai, não o afectou ao interpretar este papel?
– Não, não. Acho que teria sentido o mesmo se não fosse pai. O tema é complicado e não deixou de ser complicado por isso.
– No entanto, o filme levanta uma questão interessante, pois é dito que as crianças falam sempre verdade. No entanto, muitas vezes sucede precisamente o oposto. São capazes de inventar histórias...
– A verdade é que muita gente pensa assim, baseados certamente em casos concretos. No entanto, a base da psicologia infantil é assente no pressuposto de que contam a verdade. Sobretudo no diz respeito a abusos.
– O Mads tem já uma enorme carreira. Lembra-se do que o levou a querer ser ator?
– Para encurtar a história, diria que fui ginasta e participei num musical onde tinha de fazer qualquer coisa. Entretanto, a coreógrafa perguntou-me se queria aprender a dançar. E descobri que ficava fascinado com o drama da dança. Mas não com a estética. Por isso, pensei em aplicar-me apenas na parte dramática. E daí segui para a escola de representação.
– Sente que aproveitou alguma coisa da dança?
– Acho que acaba por estar sempre presente. No fundo, a perceção dos movimentos do meu corpo.
– Em termos de carreira, como concilia as ofertas de trabalho que tem nos Estados Unidos, por exemplo, e o que faz na Dinamarca?
– Tem sido uma viagem bonita no sentido que me tem permitido participar em tipos de filmes diferentes. Divirto-me imenso quando trabalho nos EUA, mas não acho que o poderia fazer a tempo inteiro. Ou o mesmo diria deste tipo de dramas. A ideia é variar o mais possível. Faz tudo parte do mesmo trabalho.
– Até que ponto o seu trabalho com o Thomas Vinterberg (realizador de ‘A Festa’) ainda recebe alguma influência do movimento Dogma?
– Por acaso, devo dizer que nunca fui um fã incondicional do lado mais radical de Dogma. No sentido que se precisamos de uma luz, porque não poderemos usá-la?... (risos) Em todo o caso, foi algo importante para diversos realizadores retomarem o estímulo pelo trabalho. Foi bom por muitas razões. E para os jovens realizadores acho que será sempre interessante.
– O Mads tem uma carreira já longa. Lembra-se do momento em que algo mudou e entrou no rumo certo?
– Acho que logo que comecei... (risos) Mas quando andávamos todos – eu, o Thomas (Vinterberg), a Susanne Bier, o Lars von Trier – a começar a nossa carreira e a perceber o que queríamos fazer. É claro que tudo mudou entretanto. Esse começo foi decisivo.
– Até que ponto ‘Casino Royal’ foi importante para si?
– É claro que ajudou a recebeu melhores papéis e oportunidades e trabalhar fora. É algo que se aprende muito. Mas entrar num filme de James Bond deixa sempre uma marca.
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