Antigo jornalista e colunista do CM tinha 83 anos.
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O jornalista Armando Baptista-Bastos, colunista do Correio da Manhã, morreu esta terça-feira aos 83 anos.
Armando Esteves Pereira, diretor do CM e da CMTV, recorda "príncipe da escrita"
O escritor estava internado há quase dois meses no serviço de pneumologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Baptista-Bastos é autor de mais de duas dezenas de livros, entre os mais recentes cite-se "A Bolsa da Avó Palhaça", o livro de crónicas "A Cara da Gente" e "As Bicicletas em Setembro".
Baptista-Bastos publicou mais de uma dezena de títulos de ficção, entre os quais "Cão Velho entre Flores" (1974), "A Colina de Cristal" (1987), "O Cavalo a Tinta-da-China" (1995) e "No Interior da Tua Ausência" (2002).
Entre outros meios de comunicação social, trabalhou nos jornais A República, O Século e Diário Popular, e na Rádio e Televisão Portuguesa.
Em 2006, recebeu os prémios de Crónica da Sociedade da Língua Portuguesa, João Carreira Bom, e do Clube Literário do Porto. Nesse ano, em declarações à agência Lusa, afirmou que "a crónica, que é um compromisso entre a notícia e o conto e um produto de altíssima expressão literária, típico da imprensa escrita, está hoje arredada dos jornais".
Na opinião de Baptista-Bastos, "os jornais estão sobretudo atentos à politiqueira e à politiquice" e têm "opinião a mais e má opinião, muito uniforme e aparentemente plural", o que já o levou a deixar de ler alguns colunistas, "por fastio, por enfado".
O autor, que na altura escrevia crónicas para as revistas do Montepio e a Tempo Livre, da Fundação Inatel, afirmou que, excetuando "exemplos raros, escreve-se muito mal nos jornais, que atravessam uma crise dramática e já não conseguem surpreender os leitores".
O autor, que achava o fado "execrável", mudou de opinião e em 1998 publicou "Fado Falado", com prefácio de José Saramago e fotos de José Santos, no qual reuniu 26 conversas com pessoas do fado, entre elas Amália Rodrigues, António Rocha, Beatriz da Conceição, Argentina Santos, António Chaínho, Raul Nery, Mísia, Camané, Carlos do Carmo, Carlos Zel, Fernanda Maria, Fernando Maurício, Fontes Rocha, Frutuoso França, Gabino Ferreira, João Ferreira-Rosa, Joel Pina, Jorge Tuna, Luís Goes, Fernando Machado Soares e Mário Pacheco.
Mário Zambujal elogia "grande prosador e escritor"Armando Baptista-Bastos foi "um grande prosador, grande cronista, jornalista e escritor de muita qualidade", disse à agência Lusa o jornalista e escritor Mário Zambujal, seu amigo há mais de 50 anos.
Baptista-Bastos foi "um brilhante polemista, um homem de esquerda, acentuadamente, de esquerda sempre, se teve filiação partidária foi algo muito longínqua, era um combatente", prosseguiu Mário Zambujal. "O 25 de Abril de 1974, tenho a certeza, foi a maior alegria da vida do Baptista-Bastos", afirmou.
Entre os seus títulos literários, Zambujal citou os romances "A Colina Cristal" e "No Interior da Tua Ausência", referindo que Baptista-Bastos "escreveu até ao fim, até que a doença o dominou".
Mário Zambujal lembrou os tempos em que os dois trabalhavam na rua Luz Soriano, no Bairro Alto, em Lisboa, referindo que Baptista-Bastos começou cedo a ter nome no jornalismo.
"Um grande criador e cultor da Língua Portuguesa"
O escritor e jornalista Fernando Dacosta disse que Armando Baptista-Bastos foi "um grande criador e cultor da Língua portuguesa".
Baptista-Bastos "foi das pessoas que mais me influenciou pela criatividade da sua escrita, era um jornalista que dizia que não havia diferença entre jornalismo e literatura, e que o jornalismo era uma disciplina da literatura", disse.
Baptista-Bastos "sempre se bateu pela alta qualidade da escrita", afirmou Fernando Dacosta, que acrescentou: "Lembro-me que [os escritores] Natália Correia e Jorge de Sena diziam que liam tudo o que Baptista-Bastos escrevia, livros e coisas dos jornais, porque ele era um recriador da língua portuguesa".
"Foi de facto uma figura de referência e, quando comecei nos jornais, fui muito sensibilizado, sobretudo pelos textos dos Batista-Bastos", disse, salientado que "é uma referência de alta qualidade do jornalismo português, não só do ponto de vista estético como ético".
Na questão ética, Baptista-Bastos "era muito exigente, e era fundamental para ele - e diga-se que não há uma estética que não contenha uma ética".
"Ele foi um grande criador e cultor da Língua Portuguesa, e um grande escritor da atualidade", rematou.
Presidente da República lamenta morte de jornalista e escritor
O Presidente da República lamentou a morte do jornalista, escritor e cronista Armando Baptista-Bastos, considerando que "não havia outro nome tão facilmente identificável com a história da imprensa portuguesa".
Numa nota divulgada na página da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa apresenta as suas condolências à família de Baptista-Bastos, que morreu hoje, em Lisboa, aos 83 anos.
"Não havia outro nome tão facilmente identificável com a história da imprensa portuguesa, com O Século, o República, o Diário Popular, o Diário de Notícias, entre muito outros jornais e revistas", lê-se na mensagem do chefe de Estado.
Marcelo Rebelo de Sousa descreve as crónicas de Baptista-Bastos como "buriladas, vernáculas, veementes" e recorda as suas "entrevistas conversadas que também fizeram escola na televisão", as reportagens e a crítica de cinema.
"Deixou igualmente uma significativa produção romanesca, politicamente alinhada com o neorrealismo, mas mais depurada, e que tão depressa se ocupava da boémia lisboeta como de um lirismo magoado e das vicissitudes da História", refere.
O Presidente da República lembra ainda Baptista-Bastos como "convicto oposicionista", que continuou "do contra" em democracia, "comprometido mas livre".
"Era, além do mais, uma personagem viva do imaginário português, como poucos jornalistas conseguiram ser, um português antigo, às vezes zangado, mas fraterno e comovido", acrescenta.
Ministro da Cultura manifesta pesar pela morte do jornalista
O ministro da Cultura manifestou o seu pesar pela morte do escritor e jornalista Armando Baptista-Bastos, com o ministro da Cultura, Luís Castro Mendes, a considerar que se tratou de "grande perda para a cultura portuguesa".
"Figura incontornável do jornalismo português, romancista e ensaísta, natural de Lisboa, Baptista-Bastos iniciou a sua carreira profissional aos 19 anos no jornal O Século. Em 1953 assinou a coluna de crítica 'Comentário de Cinema', n' O Século Ilustrado, iniciando um estilo jornalístico inovador, polémico e extremamente atual que o haveria de caracterizar para sempre", pode ler-se na nota de pesar do ministro Luís Filipe Castro mendes.
O governante recordou que Baptista-Bastos "pertenceu aos quadros redatoriais de diversos jornais e títulos e recebeu inúmeros prémios", como o Prémio Feira do Livro (1966), o Prémio Artur Portela (1978), o Prémio Nacional de Reportagem/Prémio Gazeta (1985), o Prémio Casa da Imprensa (1986), o Prémio «O Melhor Jornalista do Ano» (1980 e 1983), o Prémio Pen Clube (1987) e o Prémio Cidade de Lisboa (1987), exemplificou.
"Fernando Dacosta considerou a sua obra sobre jornalismo 'As Palavras dos Outros' como 'uma referência obrigatória na profissão'", enquanto Luiz Pacheco qualificou a mesma obra como "Jornalismo feito literatura" e "ascendendo ao plano da literatura: na contenção irónica, na sua capacidade de denúncia e intervenção, obrigando-nos à exploração psicológica dos tipos, no humor dos circunlóquios, principalmente no poder de síntese", referiu ainda o ministro.
Câmara diz que se"esfuma" imagem de uma "Lisboa boémia"
A Câmara de Lisboa lamentou que a morte de Baptista-Bastos faça "esfumar-se mais um pouco" a "Lisboa boémia do Bairro Alto, dos jornais e das tertúlias", que o escritor e jornalista representava.
A autarquia da capital expressou hoje as condolências à família e amigos e lembrou que Baptista-Bastos era um "filho orgulhoso da Ajuda, freguesia da cidade onde nasceu e viveu" e que "descreveu nos livros ou nas páginas dos jornais por onde passou e onde escreveu crónicas, artigos, reportagens".
"As suas palavras, essas, não se esfumam e hão de permanecer vivas nas páginas dos livros, no papel dos recortes de jornal ou na internet", considerou o município num comunicado.
A autarquia classificou Baptista-Bastos como "antifascista, figura incontornável da cultura portuguesa (os seus livros integraram listas de leitura obrigatória no ensino), mestre do jornalismo" e destacou o "importante legado" deixado pelo premiado escritor e jornalista.
A Câmara de Lisboa junta-se assim ao ministro da Cultura na manifestação de pesar pela morte do escritor e jornalista, que foi classificada por Luís Castro Mendes como uma "grande perda para a cultura portuguesa".
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