Os povos chamam-lhe "trasgos". São seres de pequena estatura, rebeldes e dotados de poderes sobrenaturais (espíritos, segundo crenças religiosas), que coabitam na memória dos idosos das montanhas de Trás-os-Montes onde o investigador Alexandre Parafita os identificou como fazendo parte da cultura popular e do imaginário.
Durante vários anos percorreu diversos concelhos da região, de Miranda do Douro a Mirandela, de Sabrosa a Macedo de Cavaleiros, onde encontrou pessoas que lhe contaram histórias de "trasgos".
Ao CM, Alexandre Parafita (Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade da Beira Interior), de 50 anos, explica que "o património de um povo se constrói através da preservação da sua memória oral". Os 'trasgos' são praticamente desconhecidos nas sociedades modernas. A sobrevivência destes seres míticos rurais permanece circunscrita a uma cultura popular estritamente oral, tradicionalmente subalternizada".
No livro "Diabos, diabritos e outros mafarricos" (colecção "Contos e Lendas de Tradição Oral" da Texto Editora), o escritor apresenta ao público infantil um conjunto de histórias, ilustradas por Fátima Buco, cujas personagens são alguns seres míticos rurais, com relevo para o "trasgo".
Em algumas zonas de Trás-os-Montes ainda hoje há quem acredite nos "trasgos", espécie de espíritos caseiros, invisíveis a maioria das vezes, que fazem judiarias às mulheres no interior das habitações: remexem nos louceiros, partem a loiça, movem mobília, atiram pedras aos vidros, espalham a cinza e despejam os sacos dos cereais e das nozes. Inofensivas para os humanos, estas criaturas apenas se entretêm a pregar-lhes sustos, sobretudo à noite.
De acordo com as velhas crenças religiosas, os "trasgos" são meninos que morreram sem serem baptizados e cujo espírito regressa depois à casa onde viveu ou para junto de antigos familiares. Diz o povo que ninguém os pode levar a mal pois, tendo morrido de tenra idade, também não têm culpa por não terem sido baptizados.
Um idoso de uma aldeia de Vinhais disse a Alexandre Parafita, que, na sua mocidade, "na casa onde morava, todas as noites se sentia um 'trasgo' e ninguém se aborrecia com ele, pois pensava-se que era um tio-avô que tinha morrido ao nascer naquela casa".
OS CONTOS, AS LENDAS E OS MITOS RECOLHIDOS
Pelo tipo de travessuras atribuídas aos "trasgos", é costume, em Trás- -os-Montes, dizer-se aos garotos travessos: "Está-me quieto, seu trasgo!". Na aldeia de Agrochão, Vinhais, o "trasgo" é também conhecido por "garoto das cebolas" ou "menino de vermelho". Manuela Gândara, professora descendente de Agrochão, explicou ao CM que ainda hoje se diz na aldeia aos rapazes travessos: "És pior do que o menino de vermelho". Também na aldeia de Fradizela, Mirandela, segundo outra professora, Maria José Pires Morais, reza a tradição que os 'trasgos' se deitavam em cima do peito das pessoas quando estas dormiam. Se, ao acordar esta lhe apanhasse o gorro vermelho podia pedir o que quisesse.
FANTÁSTICO E MARAVILHOSO
É uma constante a presença do fantástico e do maravilhoso popular nos contos, lendas e mitos recolhidos e estudados por Alexandre Parafita.
Trás-os-Montes continua a ser povoada por histórias de encantar - e de arrepiar - sobre almas penadas vagueando nos planaltos, bruxas dançando nas clareiras, vozes nocturnas nos cemitérios, vultos que se espojam nas encruzilhadas, encontros sombrios entre mortos e vivos e vinganças do Além.
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