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Alunos a brilhar com o professor a ver

A nova época de futebol começou como tinha acabado a anterior: com o FC Porto a vencer o V. de Setúbal e a levar uma taça para casa. Mudou o resultado – em Maio, no Jamor, na Taça de Portugal, ficou-se pelo 1-0; ontem, em Leiria, para a Supertaça, chegou aos 3-0, muito graças à inspiração dada à equipa portista pelos jovens Anderson e Vieirinha – mas manteve-se presente o espírito que ambas as equipas já tinham mostrado na época passada.

20 de agosto de 2006 às 00:00

Com Jesualdo Ferreira na bancada e Rui Barros ainda sentado no banco, o FC Porto apareceu disposto no 3x4x3 de Adriaanse, com forte aposta na segurança de passe. A equipa tinha em Anderson um dínamo capaz de a carregar para a frente mas falhavam-lhe os desequilibradores nas alas: Alan pouco se viu e Quaresma surgiu sem velocidade para sair dos lances nem inspiração nas trivelas: acabou por ser substituído por Vieirinha, após uma cotovelada em Hugo que lhe valeu um cartão amarelo benévolo.

Mesmo assim, apesar de uma superioridade sadina nas estatísticas até ao intervalo (6-4 em remates; 5-3 em cantos), nesse período pertenceram ao FC Porto as melhores ocasiões de golo. E em minutos seguidos: primeiro, aos 16’, Adriano deixou Alan em posição de remate, mas este acertou em Marco Tábuas; depois, aos 17’, Anderson aproveitou uma escorregadela de Adalto para isolar Meireles, mas este não passou o guarda-redes.

O V. de Setúbal mantinha o 4x3x3 e a aposta na solidariedade atrás e na rapidez do contra-ataque, muito devido à objectividade do caloiro Ademar e à exuberância física de Varela, mas não conseguia entrar na área com perigo. A ocasião em que esteve mais perto do golo foi num livre lateral de Adalto que Pepe cortou na direcção da própria baliza e Helton defendeu para canto (aos 19’). Mas mesmo no seu melhor período, a equipa de Hélio Sousa mostrava um atabalhoamento comprometedor nas proximidades da baliza de Marco Tábuas. Binho, Sandro e Adalto raramente seguravam o meio-campo portista e, ainda no primeiro tempo, Hugo assinou dois deslizes que ameaçavam tragédia no confronto directo com Adriano. Foi, aliás, o que sucedeu aos 53’: o FC Porto entrara muito melhor no segundo tempo e, num canto de Meireles, Hugo e Auri ficaram-se ambos por meios-cortes de cabeça, deixando a bola à mercê de Adriano, que marcou em pontapé de bicicleta.

A perder, Hélio ainda tentou virar o jogo, trocando Adalto por um ponta-de-lança (Fonseca) e mudando para um 4x2x3x1 com Varela nas costas do atacante açoriano. Contudo, o meio-campo mostrou-se incapaz de continuar a levar a bola para a frente. E foi o FC Porto que voltou a marcar, aos 75’, por Anderson, a concluir um ataque rápido com uma troca de pés só ao alcance de um ambidestro puro; e nos descontos, por Vieirinha, num vistoso remate de fora da área.

FIGURA: ANDERSON

Na primeira parte, já tinha sido o melhor do FC Porto, conseguindo carregar a equipa para a frente graças à sua criatividade e, sobretudo, à resistência que mostra com a bola nos pés e que o torna tão difícil de desarmar e derrubar. No segundo tempo, foi a inspiração da equipa na construção do resultado, conseguindo um golo só ao alcance de um ambidextro puro.

POSITIVO: A ALEGRIA DOS MIÚDOS

Além de ter um matador de área já perfeitamente adaptado (Adriano), a maior diferença entre este FC Porto e o que ganhava a maioria dos jogos por 1-0, na época passada, é a alegria de jogar transmitida à equipa pelos miúdos. Com Anderson, há uma quantidade de soluções técnicas na zona de meio-campo que a equipa não tinha quando jogava com dois pontas-de-lança e apenas acumulava médios utilitários. Com Vieirinha, aparece a sensação de que vale a pena arriscar o um para um em cada lance. O maior desafio de Jesualdo Ferreira é manter a vitalidade dada à equipa por esta injecção de sangue novo sem perder o rigor e a segurança de troca de bola que ela tinha na época passada. E não é preciso mudar de esquema táctico.

NEGATIVO: QUARESMA A DEMORAR

Se no ano passado a grande virtude do FC Porto esteve nos extremos, este ano eles começaram por desiludir. Quaresma, em especial, surgiu sem velocidade a sair dos lances e a insistir em truques já gastos e em simulações que podem levá--lo a alguns dissabores. O próprio teve a sensação de que o jogo estava a correr-lhe mal e, depois do refúgio nos lances individuais, acabou por perder a compostura, entrando de cotovelo à frente numa disputa aérea com Hugo, abrindo o sobrolho ao antigo colega no Sporting. Viu um amarelo e foi imediatamente substituído por Vieirinha. Igualmente mal estiveram Cech (irregular no passe, que é imagem de marca da equipa) e Ibson (sem a profundidade de Meireles e, por isso, o maior candidato a ceder o lugar a Lucho).

FIGURA: ADEMAR

Foi a melhor surpresa deste V. Setúbal, pelo descaramento e pela objectividade que deu à equipa no flanco direito. Não durou o jogo todo – na segunda parte desapareceu e acabou substituído por Mário Carlos, aos 67’ – mas o facto de a própria equipa ter nessa altura deixado de ameaçar a baliza de Helton já diz algo da sua influência no jogo sadino.

POSITIVO: MEIO JOGO DE ILUSÃO

Durou 45 minutos a ideia de que o V. de Setúbal podia discutir o jogo com o FC Porto. Muito graças à objectividade de Ademar, que deu profundidade à equipa na direita, e à capacidade de segurar a bola e ganhar lances divididos de Varela, o ponta-de-lança de referência, os sadinos conseguiram na primeira parte chegar com frequência perto da baliza de Helton. Contudo, não tão perto como seria necessário, pois raramente levaram os seus contra-ataques até ao interior da área e abusaram do remate de longe como solução. No segundo tempo, mesmo com quatro avançados, a equipa já nem chegou perto, sendo bloqueada na zona intermédia: aí, faltou-lhe um meio-campo capaz de assegurar a ligação de sectores.

NEGATIVO: CENTRAIS E BINHO

O médio-centro não foi a melhor opção nem para segurar Anderson, a quem fez uma marcação apertada, nem para distribuir jogo. Para tal faltava um jogador à imagem do que foi Hélio:mais rápido a pensar e melhor a passar. Os centrais, com destaque para Hugo – que trouxe com ele de Alvalade a infelicidade de ver um deslize ligado ao resultado – não foram imponentes na disputa de bola. Já no primeiro tempo se tinham atabalhoado por um par de vezes; no segundo foram incapazes de tirar da área um canto, fazendo minicortes de cabeça e permitindo a Adriano abrir o marcador. Foi o princípio do fim para o Vitória, que a partir desse momento, manietado em campo e a perder, foi incapaz de reentrar no jogo e se limitou a tentar controlar danos.

PLENO DE RUI BARROS

A breve passagem de Rui Barros pelo comando técnico do FC Porto, após a renúncia ao cargo de Co Adriaanse, foi marcada pelo sucesso, com três vitórias em três jogos. O treinador interino era um homem feliz no final do encontro. “Foi uma vitória muito importante porque começamos a época da melhor maneira”, afirmou revelando que vai encontrar-se com Jesualdo Ferreira amanhã para dar “todas as informações necessárias sobre o plantel.”

Local: estádio Dr. Magalhães Pessoa, em Leiria (8.890 espectadores)

Árbitro: Pedro Proença

FC PORTO: Helton, Bosingwa, Pepe, Cech,

Paulo Assunção, Raul Meireles, Ibson, Quaresma (Vieirinha, 71m), Alan, Anderson (Jorginho, 88m) e Adriano (Lisandro Lopez, 81m). Treinador: Rui Barros.

VITÓRIA DE SETÚBAL: Marco Tábuas, Janício, Auri, Hugo, Nandinho, Binho, Sandro, Adalto (Fonseca, 62m), Ademar (Mário Carlos, 67m), Lourenço (Labarthe, 76m) e Varela. Treinador: Hélio Sousa.

Marcador: 1-0, Adriano (53m); 2-0, Anderson (75m); 3-0, Vieirinha (90m).

Acção disciplinar: Amarelos - Adalto (42m), Quaresma (69m), Paulo Assunção (73m) e Hugo (80m).

PEDRO EMANUEL APOIOU

Amparado por duas canadianas, Pedro Emanuel não deixou de dar apoio aos seus companheiros, em Leiria. Hélder Postiga também não faltou.

ESTREIA DE VIEIRINHA

Vieirinha estreou-se ontem a marcar oficialmente pelo FC Porto. “Trabalho para ser opção e este pode ser o ano da minha afirmação”, disse.

NO BRAÇO DE JOÃO PINTO

A braçadeira de treinador foi ontem envergada por João Pinto, apesar de o técnico principal do FC Porto ter sido mais uma vez Rui Barros.

TÉCNICOS EM OMBROS

A dupla Rui Barros/João Pinto foi carregada em ombros pelos jogadores durante os festejos com a taça. Um sinal do bom relacionamento.

NÚMERO 15 PARA TODOS

Os jogadores do FC Porto receberam o troféu todos com o número 15 nas costas, em sinal da 15.ª Supertaça conquistada. Sinal de confiança.

HISTORIAL DO TROFÉU: VENCEDORES

1978/79 - BOAVISTA

1979/80 - BENFICA

1980/81 - FC PORTO

1981/82 - SPORTING

1982/83 - FC PORTO

1983/84 - FC PORTO

1984/85 - BENFICA

1985/86 - FC PORTO

1986/87 - SPORTING

1987/88 - GUIMARÃES

1988/89 - BENFICA

1989/90 - FC PORTO

1990/91 - FC PORTO

1991/92 - BOAVISTA

1992/93 - FC PORTO

1993/94 - FC PORTO

1994/95 - SPORTING

1995/96 - FC PORTO

1996/97 - BOAVISTA

1997/98 - FC PORTO

1998/99 - FC PORTO

1999/2000 - SPORTING

2000/2001 - FC PORTO

2001/2002 - SPORTING

2002/2003 - FC PORTO

2003/2004 - FC PORTO

2004/2005 - BENFICA

2006/2007 - FC PORTO

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