Está sem trabalho e não sai muito de casa. Depois de ter visto o seu nome envolvido no processo da Casa Pia resolveu falar para desmentir categoricamente esse envolvimento, que, diz, vai provar em tribunal. Uma entrevista onde recorda também a sua atribulada passagem por Alvalade, onde sentiu o seu trabalho boicotado.
Correio da Manhã – Neste momento está parado. Qual pensa que vai ser o seu futuro profissional?
Carlos Manuel – Neste momento estou a pensar mais no estrangeiro. E devo dizer que desde que estou parado, tive já alguns convites, nomeadamente de clubes africanos. E até de alguns portugueses que não vou citar.
– Não terá ido cedo de mais para o Sporting?
– Hoje acho que sim. Fui treinador do Sporting com 39 anos. Hoje, com mais maturidade, penso que foi um erro. Mas na altura, e tendo em conta a conversa que tive com o então presidente, José Roquette, achei que não era. Foi-me proposto um projecto a médio prazo, com uma forte aposta na formação. Como objectivo imediato apenas me foi pedido a qualificação para a Taça UEFA, o que conseguimos. Verifiquei depois de sair que algumas ideias expressas no documento orientador que tinha deixado em Alvalade acabou por ser seguido pelo treinador que entrou [Josic].
– O que é que correu mal no Sporting?
– O plantel era composto por 32 jogadores , um número elevadíssimo – e isso gerou sérios problemas no grupo de trabalho. Ainda por cima, tudo aquilo que acontecia era imediatamente passado aos jornalistas.
– Admite hoje que havia jogadores que nunca o reconheceram como treinador?
– Alguns. Mas também tive jogadores que me apoiaram: o Simão, o Caneira, o Pataca, o Vidigal, o Tiago ou o Nélson.
– Mas veteranos como Oceano ou Pedro Barbosa nunca o aceitaram...
– Não vou citar nomes. Mas a verdade é que sofria provocações diárias. Tinha por exemplo um jogador que, por diversas vezes, fez questão de me dizer que só estava na disposição de treinar com o pé esquerdo. Evidentemente que tinha que comunicar o caso à SAD. Recebi como resposta que o melhor era tentar rentabilizar o jogador. Perante isto é evidente que o treinador fica fragilizado. Imagine o que é treinar o Sporting aos 39 anos e três meses depois de lá estar ter como único desejo sair?!
– Que jogador era esse?
– O Lang.
– Não teve o apoio dos dirigentes?
– Vou dar-lhe um exemplo: Eu pedi três jogadores – Alenitchev, Giovanella e Pauleta – e quando referi estes nomes a um dos administradores da SAD ele perguntou-me se o Pauleta era jogador para o Sporting! Limitei-me a responder que se ele achava o Pauleta impróprio para o Sporting eu aconselhava então a contratação do Raul. E ele ainda respondeu que para o Raul não havia dinheiro que cheguasse. Está a ver o nível de conhecimento, tanto mais que o Pauleta na altura podia ser contratado por um valor baixo.
– O administrador era o Paulo Abreu?
– Era. Devo dizer-lhe que sem incluir nisto a instituição que me merece todo o respeito, os seis meses que treinei o Sporting foram os seis meses mais terríveis de toda a minha vida profissional. Mas também tive momentos muito compensadores, nomeadamente quando treinei o Estoril, Salgueiros e Campomaiorense. Havia uma sintonia perfeita entre técnico, jogadores e dirigentes, o que nunca aconteceu no Sporting.
– Depois do Sporting, ficou mais difícil para si arranjar emprego?
– Ficou. Repare, eu cheguei ao topo e depois disso, realmente, as coisas ficaram mais difíceis.
– Acha que há ‘lobby’ no mercado de treinadores?
– Não vou tão longe. O País é pequeno e nós, treinadores, somos muitos. Mas também julgo que hoje em dia não há grandes diferenças entre os treinadores. Com a globalização, o acesso à informação democratizou-se.
– O facto de ser um treinador capaz de ir jantar com os jogadores sem marcar distâncias tem-no prejudicado?
– A liberdade que eu dou no trabalho paga-se em responsabilidade. Hoje, no FC Porto, ninguém criticará o Mourinho se ele for jantar com os seus atletas. E porquê? Porque ganha os jogos. As críticas a esse tipo de atitudes só surgem quando as coisas correm mal. Ser treinador é uma paixão que às vezes é difícil de entender tendo em conta a maneira como somos criticados pelo público.
– Porque razão acha que está, neste momento, sem trabalho?
– Provavelmente porque há mais treinadores por aí. Mas também me revolto quando ouço o presidente do Belenenses dizer que contratou um estrangeiro porque em Portugal não há treinadores capazes para o clube, exceptuando o Jaime Pacheco. Isso não é verdade e o tiro pode sair-lhe pela culatra.
– Diz-se que é muito amigo de Pinto da Costa...
– Sou amigo dele, de facto, e julgo que o sentimento é recíproco. Alias, quando ainda estava no Barreirense disse-me um dirigente que uma das primeiras pessoas a reparar em mim como jogador foi Pinto da Costa.
PORTUGAL TEM TREINADORES PARA LUGAR DE SCOLARI
– Foi um nome importante da Selecção Nacional. O que pensa do actual seleccionador?
– Acredito que vai fazer um bom trabalho. Acho que é muito competente. Mas também acho que Portugal tem treinadores capazes de ocuparem aquele lugar. O Mourinho e o Carlos Queiroz são dois deles.
– Que jogadores convocava para o Europeu?
– Não vou dizer nomes. Penso que o mais importante é sabermos todos que Portugal não tem a melhor selecção da Europa. Temos é que estar unidos e se isso acontecer poderemos fazer um bom trabalho.
– A inclusão de estrangeiros naturalizados incomoda-o?
– Não é a primeira vez. No meu tempo, o mesmo aconteceu com o jogador Celso, do FC Porto.
– Vítor Baía é seleccionável?
– Eu acredito que o Vítor Baía ainda vai ser convocado para o Europeu. Mas se o seleccionador decidir o contrário teremos que aceitar. Do meu ponto de vista, Baía tem valor para estar na selecção. Mas são os treinadores que estabelecem os critérios, pagando depois com responsabilidade essa autonomia.
– Não acha que ao deixar Baía de fora o seleccionador corre riscos maiores?
– Os mesmos que correu por não convocar Romário, por exemplo. Os critérios são dele, a responsabilidade é dele. É um homem corajoso.
– Era capaz de não convocar um grande jogador se suspeitasse que ele prejudicaria o ambiente de balneário?
– Era. O carácter dos jogadores é muito importante.
– Teria utilizado Figo no Mundial da Coreia tendo em conta a má forma do jogador naquela altura?
– Figo, só pelo nome, atemoriza o adversário. O problema desse Mundial terá sido falta de organização. Depois do Mundial de 86 procurou-se mais e melhor organização. Mas ainda não estamos no ponto certo.
– Quer comparar a sua geração com a de Figo e Rui Costa?
– Acho que a minha foi uma óptima geração. Mas as comparações são sempre perigosas e, muitas vezes, injustas. Basta dizer que os métodos do meu tempo não são tão eficazes como os que agora os treinadores utilizam. Por outro lado, o futebol não era o mesmo. Jogar no estrangeiro, como forma de aprendizagem, era muito mais difícil. Mas creio que estamos a falar de duas boas gerações.
Nome: Carlos Manuel Correia dos Santos
Naturalidade: Moita
Nacionalidade: Portuguesa
Data de Nascimento: 15 de Janeiro de 1958
Estado Civil: Casado
Clubes que representou como jogador: CUF; Barreirense; Benfica; Sion (Suíça); Sporting; Boavista e Estoril.
Clubes que representou como treinador: Estoril; Salgueiros; Sporting; Sp. Braga; Campomaiorense; Santa Clara.
PALMARÉS COMO JOGADOR:
Campeonatos nacionais: 80/81; 82/83; 83/84 e 86/87 (Benfica).
Taças de Portugal: 79/80; 80/81; 82/83; 84/85; 85/86 e 86/87 (Benfica) e 91/92 (Boavista).
Supertaça: 80/81 e 85/86, (Benfica).
Finalista da Taça UEFA em 82/83 pelo Benfica.
Internacionalizações A: 42 (18V; 6E; 18D).
Golos na Selecção A: Oito.
Melhor classificação num Europeu: 3.º (Euro’84)
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.