Há muito que se diz que a política do Governo Regional da Madeira coloca o desporto madeirense em franca vantagem para com a maioria das colectividades sedeadas no resto do território português.
Era prática comum sustentar qualquer feito conquistado por um clube da Região Autónoma da Madeira com o facto de correrem ‘rios de dinheiro’ para tal sucesso. Na verdade, nem todos os responsáveis desportivos que beneficiam desses subsídios governamentais conseguem ser engenhosos o suficiente para retirar os dividendos necessários, mas não é menos certo que estão realmente em situação de grande privilégio comparativamente com a realidade desportiva que vive o nosso país na actualidade: bancarrota. O Nacional, segundo classificado da Liga a par do FC Porto, é um dos beneficiados, mas tem o mérito de saber rentabilizar os apoios.
Numa altura em que é cada vez mais comum a existência de ordenados em atraso, penhoras, ameaças de rescisão colectiva, fecho de portas, entre outras situações advindas da crescente falta de dinheiro, a Madeira oferece, de facto, condições únicas para quem pretende fugir à insegurança salarial que se vive em muitos clubes nacionais. Na Madeira, os tectos salariais de Nacional e Marítimo estão ao nível de outros clubes do continente que se assumem como candidatos às competições europeias, o que equivale a dizer que, logo abaixo dos ‘grandes’, são dos que melhor pagam.
Outro ponto de desequilíbrio para a contratação dos diversos jogadores, quando em luta com outros emblemas, prende-se com o factor segurança, ou seja, ao contrário do que é usual noutras colectividades, os madeirenses têm fama de bons pagadores, o que não é estranho dado o plafom que ostentam.
NÚMEROS ATRACTIVOS
O CM consultou o Jornal Oficial da Região Autónoma da Madeira (JORAM) e teve acesso aos números que são auferidos pelas principais instituições desportivas regionais. Somas avultadas que indicam uma grande aposta do executivo madeirense no fenómeno desportivo, explicada também, como tem sido manifestamente divulgado pelo executivo no meio público, pela promoção da região através das conquistas desportivas.
Nacional e Marítimo, principais representantes do futebol madeirense, usufruem de uma subvenção pública no valor de aproximadamente 2,5 milhões de euros/anuais, ao que se soma outros apoios destinados a ‘patrocinar’ as actividades das colectividades no que diz respeito às suas deslocações quando em competições regionais, nacionais e internacionais, somando-se depois prémios por atingir determinados objectivos, tais como a Taça UEFA.
Ao todo, ambas as equipas deverão contar com um apoio governamental na ordem dos 3 milhões de euros, uma injecção de capital que lhes permite fugir de quaisquer perigos financeiros, desde que não cometam grandes loucuras. O apoio governamental é vital. Basta olhar para a situação da União da Madeira, colectividade que mormente está a competir num campeonato dito amador (II Divisão), recebe cerca de metade do que o executivo madeirense dispensa para os principais clubes madeirenses. É esta a realidade desportiva da Madeira, um verdadeiro paraíso para quem escolheu o desporto como profissão.
PRINCIPAIS SUBVENÇÕES PUBLICADAS NO JORNAL OFICIAL DA RAM
- Subvenções aos clubes e associações para suporte das suas actividades de competição regional, nacional e internacional: cerca de 7 500 000 euros.
- Clube Desportivo Nacional: 2 493 989 euros.
- Marítimo da Madeira Futebol, SAD: 2 493 989 euros.
- Clube Futebol União, Futebol, SAD: 1.246.995 euros.
- Clube Amigos do Basquete da Madeira, Basquetebol, SAD: 404 583 euros.
- Andebol masculino e feminino da divisão A1: 629 583 euros.
- Hóquei em patins do Porto Santo, SAD: 279 708 euros.
COMPLEXO DESPORTIVO CUSTA 20 MILHÕES; GOVERNO ENTRA COM 80%
O Nacional está prestes a iniciar a edificação do seu centro desportivo. Um complexo que se situará nos espaços circundantes ao Estádio eng.º Rui Alves e que englobará, para além do aumento da lotação do recinto para 5500 lugares, a construção de mais dois campos (um relvado e outro sintético). O custo da obra rondará os 20 milhões de euros, sendo que, como tem sido normal noutras situações, o Governo Regional, qual bom samaritano, encarregar-se-á de resolver 80% do custo total da obra. Os nacionalistas, esses, terão de pagar somente 20% e já determinaram mesmo como seria feita a divisão, isto é, o Nacional ficará com os encargos inerentes à configuração do sintético, enquanto o executivo madeirense terá de suportar tudo o resto. Um negócio apetecível, sem dúvida.
MELHORAR CONDIÇÕES DE TRABALHO
O presidente do Nacional, Rui Alves, está na origem da ascensão meteórica do clube no futebol português. O dirigente lidera um projecto que tem como grande finalidade unir o sucesso desportivo actual a um modelar centro de trabalho que constituirá um reforço substancial do património do clube. Os alvi-negros viram já aprovado pelo executivo madeirense um novel complexo que estará ultimado – pelo menos é essa a estimativa – no início da época 2007/08. Manuel Machado, actual técnico do Nacional, tem dito que as actuais condições de que dispõe o seu plantel são as mínimas exigíveis, até porque o clube é obrigado a andar com a ‘casa às costas’ à procura de outros locais de treino, em virtude de só possuir um relvado, o do estádio onde joga.
MANUTENÇÃO DOS RELVADOS PERDE APOIOS
Mormente o apoio quase incondicional do Governo Regional ao desporto, Alberto João Jardim, líder do executivo, já lançou o aviso de que existirão cortes a breve trecho, nomeadamente no que diz respeito às despesas extra do IDRAM (Instituto do Desporto da Região Autónoma da Madeira) que tem de custear os gastos adjacentes à manutenção dos diferentes relvados da ilha. Para Jardim, a verba atribuída aos clubes é mais do que suficiente para que os mesmos possam garantir as boas condições dos recintos, pelo que o futuro passará, depreende-se, pelo bloqueio destas ‘ajudas’ por parte do Governo.
EQUIPA PRAGMÁTICA QUE SABE O QUE QUER
A versão 2005/06 do conjunto madeirense é bem distinta das que lhe antecederam após o regresso ao escalão principal. Ao contrário das equipas comandadas por José Peseiro ou Casemiro Mior, o grupo de Manuel Machado pratica um futebol mais homogéneo e detalhado na sua componente táctica. Em épocas (bem) anteriores, os alvi-negros eram conectados a jogos com muitos golos e bons espectáculos, mas largas vezes acabavam por sair derrotados. Hoje, o Nacional é uma equipa com mais preocupações defensivas, mais adulta e com maior exigência competitiva.
A isto não é indiferente a acção do técnico Manuel Machado, que na época passada levou o Vitória de Guimarães à Taça UEFA. O treinador incutiu aos jogadores a competitividade necessária a uma Liga cada vez mais exigente. Os jogadores do Nacional sabem definitivamente o que lhes compete em termos individuais, mas a isto aliaram uma excelente noção colectiva.
Neste momento, a equipa tem 12 golos apontados, números satisfatórios, mas o seu grande mérito vai para a forma com que tem dificultado a aproximação às suas redes. Ao cabo de dez encontros, consentiu apenas quatro golos nas suas redes, números apenas suplantados pelo líder Sporting de Braga e pelo também surpreendente Vitória de Setúbal.
A derrota perante o FC Porto na Choupana é igualmente excepção na sua campanha, que regista três vitórias e dois empates na condição de visitante (amanhã volta a jogar fora de portas, frente ao Rio Ave).
A aposta de Rui Alves no técnico minhoto foi um autêntico sucesso. A sua experiência e pragmatismo, esta uma característica que tem sido bandeira da equipa dentro das quatro linhas, encaixaram que nem uma luva nas necessidades do plantel, que foi bem montado através do recurso ao mercado brasileiro (procedimento que tem tradições no Nacional) e também a jogadores com experiência no campeonato português, casos de Chainho e Miguelito. A média de idades da equipa é de 25,92 anos.
O argentino Ávalos é o líder do sector defensivo. Com 27 anos, chegou a uma fase da sua carreira em que pouco ou nada tem a aprender em termos tácticos, evidenciando uma maturidade bem acima da média. Mas, o duo do meio-campo formado por Bruno e Chainho é quem mais louros recolhe por este início de época verdadeiramente brilhante.
Aos 31 anos, o médio madeirense Bruno continua a brilhar nos palcos que um dia lhe levaram ao FC Porto, onde, e apesar de pouco utilizado, foi campeão nacional, venceu a Taça UEFA e a Taça de Portugal. Está mais maduro, complementando a sua condição técnica a um melhor posicionamento no terreno.
Já Chainho, recém-chegado do eterno rival, impôs a sua qualidade de forma imediata. O médio que fez carreira nas Antas tem sido preponderante no esquema táctico, utilizando o seu poder físico para garantir consistência ao miolo. E, na frente de ataque, o treinador Manuel Machado encontrou um goleador ‘escondido’.
André Pinto viveu mais de dois anos na sombra de Adriano. Chegou a ser emprestado, mas este ano soma já cinco golos na Liga. A forma silenciosa como se movimenta é a sua ‘arma’ predilecta e a equipa agradece.
A SINGULAR CLAQUE FEMININA
O Clube Desportivo Nacional usufrui do apoio – como a grande maioria dos clubes espalhados por todo o País – de claques organizadas. No entanto, o clube madeirense destaca-se dos restantes pelo facto de possuir uma claque feminina, composta por mulheres de todas as idades (a mais nova tem 15 anos e a mais velha 76).
Esta claque nasceu na época 1999/2000. (Dela faziam parte as mulheres de José Peseiro e Eduardinho, na altura técnicos do Nacional), sendo a grande impulsionadora da sua formação Manuela Marques, ex-mulher do presidente Rui Alves que actualmente desempenha funções no departamento de futebol feminino do clube.
Hoje fazem parte da claque 35 mulheres. Susana Farinha, irmã de Rui Sardinha, director-desportivo do Nacional, é a presidente da Comissão Directiva. “Além de estarmos a apoiar um clube de que gostamos imenso, creio que a nossa presença nos estádios é importante, até para mostrar que o futebol não é só para homens”, afirmou ao CM.
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