Chefe do departamento médico do Sporting desde 2011, é capitão do Exército e fez campanha no Afeganistão.
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No Estádio Nacional, naquele fim de tarde de 20 de Maio de 2018, os adeptos do Aves festejavam o momento histórico (a primeira conquista da Taça de Portugal), enquanto os do Sporting abandonavam as bancadas tristes, cabisbaixos, a chorar.Foi nesse momento de grande comoção – até por tudo o que tinha acontecido na última semana no reino do leão, abatido pelo terramoto que foram a perda do 2º lugar (e possível acesso à Liga dos Campeões) e o ataque dos ultras da Juve Leo
No Estádio Nacional, naquele fim de tarde de 20 de Maio de 2018, os adeptos do Aves festejavam o momento histórico (a primeira conquista da Taça de Portugal), enquanto os do Sporting abandonavam as bancadas tristes, cabisbaixos, a chorar. Foi nesse momento de grande comoção – até por tudo o que tinha acontecido na última semana no reino do leão, abatido pelo terramoto que foram a perda do 2º lugar (e possível acesso à Liga dos Campeões) e o ataque dos ultras da Juve Leo
O dia seguinte à derrota na Taça de Portugal foi, como acontece sempre que o clube perde, de grande tristeza para Frederico Varandas. "Para mim não existe o dia de folga em que desligo do Sporting. Quando perco, fico em casa fechado, não falo com ninguém. Não consigo desligar a ficha. Essa parte irracional em relação ao Sporting, que é a única na minha vida, mantenho-a. Mas sempre fora da área profissional", contou em 2016, numa entrevista ao jornal do clube.
Quatro dias depois do desaire na Taça, fez então a intenção de candidatura, falando em "episódios desviantes" e que não se revia na "faceta autocrática e sectária" do presidente, Bruno de Carvalho, que nessa altura anunciou mais uma vez que não se demitia da liderança do clube (acabando por ser destituído numa Assembleia Geral extraordinária). Frederico Varandas especificou: "Entendo que as pessoas devem e têm de estar do lado do bem. E o lado do bem, neste momento, é tomar conta do Sporting, tratar o Sporting. E acredito que quem quer o bem do Sporting vai estar comigo. Seja jogador, seja sócio, seja o que for", disse o médico, de 38 anos.
A intenção de candidatura, publicada no Instagram, mereceu várias manifestações de apoio, em especial de actuais e antigos jogadores do clube. O italiano Piccini, muito castigado por lesões, meteu um coração verde, Bruno Fernandes meteu palmas e ex-jogadores, como Schelotto, João Pereira, João Mário, Tobias Figueiredo ou André Santos meteram um "gosto".
O médico foi sempre muito bem visto no seio do plantel. Frederico Varandas recebeu todos os créditos pela rápida recuperação de alguns jogadores, como foram os casos de Bas Dost e Fábio Coentrão na última época. Meticuloso, um dos seus segredos prende-se com o compromisso e capacidade de sacrifício que pede aos atletas, afastando as "pieguices".
Aliás, foi na sua clínica de reabilitação em Lisboa, a ComCorpus Clinic, que vários jogadores se prepararam para a final da Taça de Portugal, em Maio, depois de os atletas se recusarem a voltar à Academia de Alcochete, onde foram atacados e agredidos por um grupo de 50 elementos supostamente pertencentes à claque Juve Leo. Foi o caso de Bruno Fernandes, Palhinha e Daniel Podence.
A rapidez com que se demarcou da direcção presidida por Bruno de Carvalho valeu-lhe críticas durante a campanha eleitoral. Mas aos que o
Especialista em medicina desportiva Frederico Varandas é especialista em medicina desportiva e reabilitação e também capitão do Exército (patente que tem desde 2009). Entrou para a Faculdade de Medicina de Lisboa e para a Academia Militar em 1998. Em 2005, concluiu a licenciatura em Medicina na Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa e a Formação Complementar em Saúde Militar pela Academia Militar. Chegou ao Sporting em 2011, durante a presidência de Godinho Lopes, provavelmente por influência do seu irmão, João Pedro Varandas, que foi vogal do Conselho Diretivo nesse mandato. João Pedro, advogado, trabalha diretamente com Rogério Alves, outro potencial candidato à presidência leonina.
O agora presidente leonino entrou no futebol em 2007, pela mão de Carlos Carvalhal, na altura treinador do Vitória de Setúbal. Esteve em Setúbal quatro anos, até se mudar para o Sporting, mas pelo meio viveu uma experiência intensa, em Cabul e Kandahar, no Afeganistão, onde esteve em missão durante seis meses, em 2008. "Foi uma experiência humana muito rica, mas com muitos feridos civis e militares", contou ao jornal Record, explicando que escapou a uma investida dos talibãs graças à ajuda dos Comandos. "Felizmente, após os seis meses, os 158 militares portugueses regressaram todos vivos".
Relato do Sporting no meio do deserto Foi também no Afeganistão que viveu uma história curiosa relacionada com o seu amor ao Sporting, na véspera da final da Taça de Portugal de 2008, entre Sporting e FC Porto (que os leões ganharam no prolongamento, com dois golos de Rodrigo Tiuí). Ele lembrou o episódio nessa entrevista ao jornal do Sporting:
"Estávamos em Kandahar, no meio do deserto, só com os talibãs, e perguntei se conseguíamos apanhar o relato. Nesse dia estávamos em alerta máximo porque os serviços secretos afegãos avisaram-nos de um possível ataque que poderíamos sofrer. Retirámos toda a gente e só ficaram os necessários para combate, nos quais se incluíam o médico e o enfermeiro. Saímos das tendas porque poderiam ser atacadas e ficámos num sítio, refugiados, quietos e em silêncio obrigatório. Sem luzes, sem nada. Fui à mochila, com o jogo quase a começar, agarrei no rádio e passados uns minutos estávamos a ouvir a Antena 1. Dos 130 homens, metade estava ali junto a mim a ouvir o relato. Costumo dizer que, pela primeira vez, afegãos e talibãs ouviram o rugido do leão. Nunca esquecerei esse dia".
"Achei que ia lá ficar", confessou o médico. "Ninguém percebe o que é nunca mais passarmos a ver a vida da mesma maneira. Muda-nos completamente, para sempre. Aqui temos noção de coisas - ter não sei quantos lesionados, bater no carro, etc - que julgamos que são problemas, mas depois pegamos numa mochila, agarramos numa G3, metemos um capacete, vamos para Kandahar e aí entendemos o que são mesmo problemas".
Numa entrevista a O Jogo, confessou: "A minha paixão sempre foi o futebol, sempre joguei na rua, era louco por futebol. Lembro-me de ver o Euro84 na TV. Vejo futebol, Fórmula 1, NBA, campeonato de mundo de surf, adoro râguebi. Futebol de todas as ligas europeias. Até tenho problemas com a minha namorada, porque eu sou capaz de passar um dia inteiro a ver desporto. Tenho um vício. A minha mãe diz-me que se não trabalhasse, ficava em casa o dia todo. Lutas, Volta a França, tudo".
Aliás, nessa mesma entrevista deixa um dado curioso: "Sabe quem tem mais cultura de futebol? Eu e o Paulinho [roupeiro]. Nem o Jorge Jesus ou o Octávio Machado sabiam tanto. Sei a equipa da Alemanha do Mundial 90. Do Sporting, lembro-me da equipa dos 7-1, sei-a toda. E a da meia-final da Taça UEFA com Marinho Peres. Nos estágios, a equipa técnica e jogadores faziam concursos entre mim e o Paulinho".
No Sporting, onde chegou em 2011, Frederico Varandas começou por ser médico da equipa júnior de futebol, mas dali a dois meses, devido à saída de José Gomes Pereira, passou a liderar o departamento clínico do clube.
Em 2015, o treinador Leonardo Jardim tentou levá-lo para o Mónaco, mas ele declinou – na altura estava na sua "cadeira de sonho". Agora chegou à cadeira do poder, naquelas que foram as eleições mais concorridas de sempre no Sporting, com 22.510 votantes. E Frederico Varandas sofre pelo Sporting desde criança. Aliás, a ligação aos leões começou logo com 3 anos, quando praticava ginástica no clube. "A relação que tenho com o clube, muitas vezes as pessoas não a entendem. É como se fizesse parte de mim. Como tenho os meus pais, a minha namorada, os meus amigos, tenho o Sporting. Não existe a minha vida sem o Sporting".
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