‘El Chapo’ escapou duas vezes da prisão. Agora será difícil...
Pinga-amor e egocêntrico, liderou o maior cartel de drogas do Mundo.
A 19 de janeiro de 2001, Joaquim ‘El Chapo’ Guzman fugiu da prisão de máxima segurança de Puente Grande, em Jalisco, no México, vestido com um uniforme de polícia, depois de um guarda lhe ter aberto a porta (embora durante anos tenha circulado o mito de que teria fugido dentro de um cesto de roupa suja).
Catorze anos mais tarde, o maior narcotraficante do Mundo – ainda mais poderoso do que o colombiano Pablo Escobar – repetia idêntica façanha, mas na prisão de El Altiplano, também no seu país de origem, desta feita através de um túnel com um quilómetro e meio de comprimento e dez de profundidade, que ligava o chuveiro da cadeia ao interior de uma casa em obras, sem sequer precisar de rastejar.
Viria a ser capturado em 2016 e extraditado para os Estados Unidos em 2017, onde agora foi condenado. O mexicano que muitos consideram o maior criminoso do século XXI e outros tantos uma lenda foi considerado culpado de dez crimes – incluindo homicídios, violação de menores, tráfico de droga, branqueamento de capitais, posse de arma ilegal e participação criminal no Cartel de Sinaloa, do qual foi líder durante mais de 20 anos.
Deverá cumprir a pena numa prisão de segurança máxima no Colorado, nos Estados Unidos, de onde nunca ninguém conseguiu escapar. Conhecida como ADX e apelidada de ‘Alcatraz das Montanhas Rochosas’, a cadeia foi descrita por um antigo guarda como o mais próximo do inferno que conhece, um lugar onde moram 400 presos mas onde estes nunca se cruzam nos corredores.
Ali, ‘El Chapo’ – alcunha que quer dizer ‘baixinho’ e lhe foi atribuída por causa da sua estatura (1 metro e 64) – vai estar fechado vinte e três horas por dia numa cela pequena com um estrado e um colchão de espuma fino, um três em um que combina duche, sanita e unidade de água potável.
No exíguo espaço que também alberga Dzhokhar Tsarnaev, o bombista da maratona de Boston, uma televisão passa, em contínuo circuito fechado para os detidos, aulas de psicologia, educação, controlo da raiva e alfabetização.
Analfabeto
O filho "praticamente analfabeto" de María Consuelo Loera Pérez, uma mulher pobre que guardava gado em La Tuna, aldeia perdida na Sierra Madre, estado de Sinaloa, na zona noroeste do México, nasceu a 4 de abril de 1957 e teve dez irmãos.
Na infância chegou a vender laranjas e compotas para ajudar a família, mas viria a iniciar-se no pequeno tráfico aos 15 anos, antes de se tornar o maior fornecedor de droga dos EUA, dono e senhor do tráfico de cocaína, heroína, marijuana e metanfetaminas.
"Não havia trabalho, a forma que tinha de comprar comida e sobreviver era cultivar e vender papoilas e marijuana", contou ‘El Chapo’ a Sean Penn numa insólita entrevista à revista ‘Rolling Stone’, em janeiro de 2016, numa altura em que estava escondido na selva mexicana.
Com uma fortuna avaliada em mil milhões de euros, o narcotraficante de 61 anos figurava anualmente na lista dos mais ricos da ‘Forbes’, mas era também o homem mais procurado pelos Estados Unidos, a seguir a Osama Bin Laden. Embora em Sinaloa, o seu estado natal, o barão da droga tenha cultivado uma certa imagem de Robin dos Bosques (o fora da lei que roubava aos ricos para dar aos pobres), ‘El Chapo’ era considerado impiedoso com rivais e traidores e, segundo perícias psiquiátricas, "manipulador e egocêntrico".
Segundo uma criminologista que o entrevistou, o mexicano que muitos consideram o homem mais perigoso do Mundo é também viciado em sexo. Na prisão de El Altiplano – de onde escapou pelo túnel escavado na zona do chuveiro –"tinha que consumir estimulantes para poder ter sexo todos os dias. Recebia a visita da esposa – uma antiga rainha de concursos de beleza no México – mas também de prostitutas e de outras mulheres da prisão".
Foi aliás a queda pelo sexo oposto que levou à sua captura em 2016. O mexicano era fã da atriz de telenovelas Kate del Castillo e foi a curiosidade em conhecê-la que o levou a quebrar algumas normas de segurança, que culminaram na sua detenção.
O pinga-amor tem 23 filhos reconhecidos, mas não é só na paternidade que os números impressionam: este verdadeiro mestre do disfarce controla ou tem poder sobre 3500 empresas em quatro continentes, segundo o especialista em lavagem de dinheiro mexicano Edgardo Buscaglia.
Só a 25 de junho, quando o juiz ler a sentença, saberá se fica na prisão até ao fim dos seus dias – a menos que consiga escapar.
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