Vou ali ao multibanco levantar bitcoins
Cláudio Castro desenhou a primeira máquina ATM de bitcoins, a moeda virtual do momento
A notícia do ‘New York Post’ sobre a primeira caixa ATM da moeda virtual bitcoin, apresentada em Las Vegas, faltava o fundamental: o nome de Cláudio Castro, o designer que a criou – apesar de em Portugal ainda não haver mercado para as moedas digitais. O português, de 33 anos, foi descoberto online e contratado por e-mail pela Lamassu, uma start-up norte-americana que tem comercializado as caixas automáticas em vários países.
DINHEIRO COM PASSWORD
A bitcoin usa a tecnologia ‘ponto a ponto’ – arquitetura de redes de computadores – para operar sem nenhuma autoridade central ou banco a controlar a moeda ou as transações. Os utilizadores do sistema descarregam uma carteira de bitcoin para uma aplicação móvel e colocam uma password. Um código QR (código de barras bidimensional) aparece. Ao comprimirem, depois, um telemóvel contra a caixa ATM, o código QR é digitalizado. Em seguida, metem dinheiro (real) na máquina e, rapidamente, esta, em troca, envia bitcoins para o telefone móvel. Só não dá para fazer o processo inverso. Mesmo existindo "projetos em simultâneo e similares", a caixa automática desenhada por Cláudio é "pioneira", pela "simplicidade, portabilidade e reduzida dimensão". "O meu trabalho passa por desenhar o exterior da caixa e todos os componentes internos, que vão segurar ou fixar os seus componentes", explica Cláudio Castro.
Era suposto que o designer natural da Trofa apenas desenhasse a caixa ATM. A ideia era que fosse produzida nos EUA. Mas Cláudio conseguiu convencer os americanos do contrário: todas as peças, à exceção do software e dos sistemas elétricos, são portuguesas – quatro empresas do Norte do País estão envolvidas na ‘obra’.
"Fiz força para que a produção fosse feita cá, de forma a poder dar emprego a vários operários." É o que tem acontecido, embora – e apesar de serem exímios na construção da máquina de moedas virtuais – "não entendam bem o conceito. Já lhes expliquei que as bitcoins são uma espécie de crédito virtual, mas eles acham muito estranho". Habituados a fazer equipamentos elétricos mais convencionais, os trabalhadores da oficina de Vila Nova de Famalicão ainda têm muita curiosidade sobre o multibanco em que estão a trabalhar há seis meses: demoram cerca de quatro semanas a montar cada máquina. Já Cláudio, que queria perceber o funcionamento deste crédito virtual, comprou "um telemóvel e uma cerveja online, a empresas que já aceitam bitcoins".
Mas também passou por uma fase de desconfiança. No início, os americanos quiseram pagar-lhe em bitcoins, mas ele preferiu em euros. Agora já recebe na moeda digital. Na transferência em bitcoins (feita através do site BitPay) não há comissões a pagar e em segundos tem o dinheiro em euros (o site faz logo a conversão). O Banco de Portugal emitiu no ano passado um comunicado em que dizia que "a falta de um enquadramento jurídico não torna ilegal o uso de bitcoins, mas que esta moeda virtual não pode ser considerada moeda segura, visto que não há certeza da sua aceitação como meio de pagamento".
Mas a bitcoin – acredita Cláudio – permite "uma maior globalização do mercado financeiro, simplificando as transações comerciais". D
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