Arquipélago tornou-se um destino para mulheres que viajam com a expectativa - explícita ou implícita - de ter relacionamentos com homens locais.
Um vídeo de apenas alguns segundos de duração que acumulou milhões de visualizações no TikTok divulga uma 'descoberta pessoal' de uma jovem espanhola - a beleza dos homens cabo-verdianos - abrindo a caixa de pandora de uma realidade desconfortável sobre o turismo sexual feminino.
"Antes de vir para cá [Cabo Verde] as pessoas com quem eu conversava diziam: 'Bem, toda a gente é muito bonita lá'. E eu pensava: 'Talvez eles sejam superbonitos, mas não fazem o meu estilo'. E parece que a maioria das pessoas de Espanha acaba por ficar com um cabo-verdiano aqui. Parece que este é o único lugar com uma taxa maior de prostitutos do que de prostitutas", disse a jovem em frente à câmara do telemóvel.
"Cheguei aqui sem me importar e... [finge desmaiar na cama]. Eles são perfeitos! Vi quatro miúdos da nossa idade e têm a pele perfeita, os lábios perfeitos, os olhos, o sorriso, os dentes, os braços, o corpo".
Nos comentários, emojis de fogo, frases em tom de brincadeira e piadas sobre viajar ao arquipélago. Nada parece estar fora do lugar e, à primeira vista, é mais um conteúdo viral sobre destinos 'da moda' para grupos de amigos em busca de praia, festas e um toque de exotismo.
Mas, de acordo com o jornal El Español, os vídeos escondem um fenómeno tabu: o turismo sexual feminino. Cabo Verde tornou-se um destino, nos últimos anos, para mulheres, muitas delas espanholas, que viajam com a expectativa - explícita ou implícita - de ter relacionamentos com homens locais, principalmente adolescentes.
"Há mulheres que vêm especificamente em busca de sexo com homens jovens. Outras não dizem, mas fazem. E há aquelas que se apegam emocionalmente e mantêm esses relacionamentos à distância, enviando dinheiro todos os meses", explica Milagros García López ao jornal El Español, uma freira espanhola com mais de duas décadas de experiência em Mindelo, a capital cultural do país.
A ilha do Sal, com os seus resorts à beira-mar e casas noturnas, é o centro de muitos desses encontros.
Os pacotes turísticos acessíveis, o clima agradável o ano todo e a promessa de lazer sem complicações atraiu muitas jovens espanholas. O que não é anunciado em catálogos é a proximidade de rapazes locais, muitos em situação precária, dispostos a serem acompanhantes ocasionais ou permanentes em troca de dinheiro, presentes ou até de um bilhete de avião.
"Para muitos jovens, estar com um turista significa ter as despesas cobertas por alguns meses, poder continuar a estudar ou ajudar em casa", diz uma agente humanitária espanhola.
Diversas ONGs locais trabalham para ajudar as vítimas, especialmente meninas e adolescentes, que são as mais afetadas, e relatam que os recursos são insuficientes. E a situação não se limita a homens que buscam mulheres jovens, havendo também o caso inverso. "Mas quase ninguém quer falar sobre isso", acrescenta a agente.
Um relatório da ONG local Morabi já apontava em 2023 a presença de "relações de troca entre mulheres estrangeiras e adolescentes do sexo masculino no Sal e no Mindelo".
Nem todos os relacionamentos entre turistas e moradores de Cabo Verde envolvem exploração sexual. No entanto, os limites confundem-se quando prevalece a desigualdade extrema. "Muitas dessas mulheres não se veem como clientes da prostituição. Elas acham que conheceram alguém especial nas férias. Mas quando pagas a conta do hotel, compras presentes ou envias dinheiro todos os meses, estás a participar numa relação desigual", explica a investigadora Yolanda Cruz, que estudou o turismo sexual na África Ocidental, ao jornal El Español.
O turismo sexual continua a ser um tema tabu. Reconhecer o problema significa, para as autoridades locais, admitir a incapacidade de proteger os jovens vulneráveis. Para os turistas, colocaria em causa viagens consideradas inocentes ou até românticas. Para os media europeus, significa abordar a realidade de que também há mulheres ocidentais a participar em dinâmicas de consumo sexual que se alimentam da pobreza, tal como os homens fazem.
Por trás de cada viagem à Ilha do Sal, há uma história que não cabe num TikTok de 15 segundos.
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