Alpinistas portugueses alcançam o topo de uma encosta dos Himalaias nunca antes escalada.
Um inspetor da Polícia Judiciária, um arquiteto, um programador de software e, sim, um alpinista profissional conquistaram uma montanha dos Himalaias nunca antes escalada. 520 anos depois de Vasco da Gama ter seguido o histórico itinerário por mar, quatro portugueses partiram na senda do caminho – em estilo alpino – para a Índia. 6196 metros de ascensão vertical inédita, sem direito a padrão nem a bandeira portuguesa quando atingido o seu cume, mas que por ser território virgem mereceu a honra do batismo. Nasceu no final de agosto, em pleno noroeste gelado do subcontinente indiano: ‘Shan-Ri’ – o cume do Leopardo das Neves.
Tiago Faneca, 45 anos, inspetor da PJ, faz alpinismo há mais de 15 anos. Já galgou montanhas no Peru (Andes), em Marrocos (Atlas), nos Alpes franceses e suíços; nos Pirenéus. A seleção dos Himalaias foi natural para quem, pela dimensão da dificuldade, procurava uma experiência em ambiente extremo e remoto. "A ideia antiga" acabaria moldada pelas mãos calejadas do profissional do grupo.
Paulo Roxo, 50 anos, havia visitado a região em outubro do ano passado. Regressado da viagem, o alpinista português idealizou a expedição, convidou três entusiastas da modalidade e delineou ao pormenor a epopeia que levaria o grupo ao maciço indiano. A formação do quarteto de novos descobridores lusos fechou-se com a chegada de João Lopes, 48 anos, arquiteto, e de Pedro Costa, 26 anos, programador de software.
"Os horários que tenho tornam a preparação física um pouco caótica e obrigam-me a ser criativo no dia a dia. Por outro lado, a exigência física e intelectual da minha profissão e as condições em que é exercida deixam-me com grande resistência mental, essencial ao alpinismo. Metade do treino fica feito", conta o inspetor. Nas horas livres – que dedica à natação, ao ciclismo e à corrida -, Tiago Faneca apura a condição física em provas esporádicas de triatlo e escalando de quando em vez "a nossa serrinha da Estrela".
Caminhada ao frio
19 de agosto. Começava a expedição sonhada com a saída da cidade de Leh. O ‘trek’ original previa o desvio da rota comercial de Markha Valley, na região Leste de Ladakh, parte do estado indiano de Jammu e Caxemira. A dita caminhada longa, que cruzava o vale em terreno montanhoso, culminou com uma ascensão de dois dias que os levaria até ao Campo Base, estacionado em sítio remoto – Male –, a 4400 metros de altitude. Aquele era "o melhor local para explorar o glaciar que tínhamos em mente", explica Tiago Faneca.
O grupo seguiu com dez cavalos, carregados com mais de 500 kg de equipamento: uma tenda-cozinha, uma tenda de campanha e comida; equipamento pessoal de escalada para utilização acima do campo base - tendas ‘minimalistas’, sacos-cama e comida liofilizada -; material de segurança para rocha e gelo: ‘friends’, entaladores e parafusos de gelo. No campo base pernoitavam com três nativos - cozinheiro, responsável pelos cavalos e ajudante.
Entregues a si mesmos, seguiam completamente autónomos a partir daquele acampamento.
Atingir o cume a 6196 m resultaria num recorde de altitude para os "alpinistas ocasionais". A meteorologia poupou-os. Nunca ficaram expostos a temperaturas extremas ou a ventos fortes. As dificuldades estavam na vertente gelada de 60º de inclinação, de aresta exposta.
No dia do ataque ao cume, 31 de agosto, o grupo madrugou e já antes das 4h percorria o glaciar que, por conta da lua cheia, estava claro à vista. Três horas depois do início da marcha, estavam de frente para a parede de gelo que queriam subir. Um último esforço e, às 14h30 locais, atingiam o topo.
Registaram o momento em fotografia e em poucos minutos estavam a preparar o regresso. "Entre a escalada da parte vertical, a aresta, a chegada ao cume e a descida, trabalhámos mais de 18 horas seguidas", conta o inspetor da PJ. O dia seguinte reservava-lhes o complicado retorno ao campo base – no total percorreram 1220 m em 4h30.
Tiago esclarece que "existem diferenças relevantes entre escalar uma montanha virgem e outra que já tenha sido escalada". O relato de vias e percursos de montanhas conhecidas facilita a escolha do equipamento e a antecipação de dificuldades. "Escalar uma montanha virgem implica superar o desafio de não ter ideia dos obstáculos que a montanha tem para nós. Estas montanhas estão em locais remotos, longe de qualquer apoio e apresentam dificuldades técnicas desconhecidas. Não têm livro de instruções", conta o inspetor alpinista.
O cume não tinha apelido. Agora passou a figurar nos mapas como ‘Shan-ri’ (‘Leopardo das Neves’, em dialeto Ladakh), em homenagem ao animal misterioso, objeto do folclore local, há pouco retirado da lista de espécies em perigo de extinção. "Resolvemos fazê-lo ainda em Ladakh com a ajuda do nosso cozinheiro", revela Tiago. O imaginário contará um pretexto diferente: o perfil da montanha assemelha-se, afinal, ao dorso de um leopardo deitado.
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