Ficava numa quinta em Carnaxide e os alunos eram quase todos americanos, cujos pais vieram construir a ponte.
Fora dos portões da ‘Casa Branca’ não havia nada de verdadeiramente excitante a registar: uma quinta de um casal dinamarquês radicado em Portugal que lhe estava encostada, as garagens da transportadora de Carnaxide mais acima e ainda um hospital onde se tratava problemas graves de alcoolismo. Mas naquele tempo pouca diferença fazia porque os alunos não tinham autorização para vaguear fora dos muros da St. Columban’s School, a escola americana de elite que nasceu em 1956 pela mão de um professor irlandês e onde Bryan Adams estudou entre os nove e os doze anos – de meados de 1966 a finais de 1970 – altura em que viveu em Portugal. "A minha escola. Uma quinta remodelada nos arredores de Lisboa", publicou o cantor no Facebook, junto com uma fotografia a preto-e-branco da instituição, numa ode à nostalgia em que aproveitou para lembrar os fãs portugueses dos concertos que por cá vai realizar: amanhã e terça-feira, em Lisboa e Gondomar.
LEVA DE AMERICANOS
Naquele tempo, aquilo que os estudantes viam de Linda-a-Pastora – uma localidade da freguesia de Carnaxide e Queijas, no concelho de Oeiras – era filtrado pelas janelas do autocarro que os levava e trazia de e para Cascais e o Estoril (onde a maioria morava), adolescentes estrangeiros à margem de um País pobre e atrasado que vivia em ditadura antes do 25 de Abril.
A primeira morada da escola não foi a ‘Casa Branca’, mas um apartamento em Pedrouços que em dois anos letivos se tornou pequeno para a quantidade de alunos que surgiram. "O diretor, Anthony McKenna, era professor do St. Julian’s School (em Carcavelos) mas saiu porque estava à espera de ser nomeado reitor – o que nunca aconteceu e o deixou zangado – na mesma altura em que a obra da ponte Salazar, sobre o Tejo (hoje ponte 25 de Abril) foi adjudicada a uma empresa norte-americana", a United States Steel Export Company, recorda László Hubay Cebrian, um dos primeiros 16 alunos da escola, filho de um casal que se exilou no Estoril, depois da II Guerra Mundial, e antigo presidente da The Walt Disney Company Portugal e Iberia.
"Como toda a parte técnica e de engenharia vinha dos Estados Unidos, McKenna percebeu que a população americana na zona ia aumentar brutalmente, pelo que apostou numa escola dirigida aos filhos desses trabalhadores, o que foi financeiramente a melhor coisa que ele fez. Sei que era muito cara. À luz daquela época, a propina da escola era fora do padrão português porque baseava-se nos americanos que tinham um poder económico completamente diferente do Portugal daquela época. Depois disso, a escola conquistou uma reputação muito positiva dentro da comunidade americana e por isso começámos a ter filhos de outros embaixadores a frequentá-la", caso de Bryan Adams, filho do coronel Conrad Adams, que tinha funções de adido para a emigração na embaixada do Canadá. Uma das suas comissões de serviço trouxe-o até Portugal e com ele vieram a mulher e os dois filhos, Bruce e Bryan. A família viveu em Birre, em Cascais, numa moradia conhecida como ‘Casa dos Três Choupos’. László Cebrian foi professor da estrela rock no ano letivo de 1969-70, altura em que o diretor pediu ajuda ao ex-aluno, que estivera uma temporada fora a jogar futebol, para lecionar Matemática e Educação Física a duas turmas, de quinto e sexto ano. "Lembro-me do nome dele mas não tenho recordações. Só quando ele se tornou conhecido é que associei que tinha sido professor" de Adams.
Reza a história que o aluno Bryan preferia Inglês e Estudos Sociais em vez da Matemática que László lecionava – e que era mais tímido do que extrovertido.
"O Bryan e o meu irmão Paul eram da mesma turma – lembro-me que tinham os dois uma franjinha loira. Davam-se bem mas o Paul tinha um amigo mais próximo, filho de um embaixador da China que trocava com o meu irmão umas bolinhas de arroz enquanto o Paul lhe trazia coisas da embaixada americana como manteiga de amendoim", recorda Michael Pritchard – que tinha 14 anos quando Bryan tinha nove e por isso pouco lhe ligava.
"Era um puto, eu queria era que eles fossem brincar para eu poder namorar", brinca o controlador aéreo de 61 anos. Os dois irmãos tinham vindo para Portugal em julho de 1969. A mãe, portuguesa, era Leonor Maia, a ‘Tatão’ do filme ‘O Pai Tirano’, a bela atriz que no auge da carreira abandonou os palcos em nome do amor: casou com James Pritchard, um coronel da Força Aérea americana, que acompanhou pelo Mundo antes da família se fixar no Estoril com os dois filhos. Outro colega do cantor era filho da jornalista Martha De La Cal, correspondente estrangeira em Portugal para a revista ‘Time’, e de um fotógrafo da revista ‘National Geographic’.
Na escola, "a educação era muito rigorosa, tínhamos de rezar logo à entrada, às 09h00, antes de entrarmos todos em fila para as salas de aula, onde nos inspecionavam as fardas – calças cinzentas, blazer azul, camisa branca e gravata verde e azul escura com uma risca vermelha. Cheguei a ter de voltar a casa para ir buscar a gravata que me tinha esquecido, ali na escola não se entrava sem ela", continua Michael. Os rapazes só se livravam do acessório quando tinham a bola nos pés: nos jogos de futebol era certo e sabido que a punham no bolso. "E quem não se portava bem era chamado para ir aos sábados de manhã para a escola, era a ‘detention’", acrescenta, explicando que a maioria dos professores da escola também não eram portugueses "e por isso iam e vinham, poucos se instalavam em Portugal. Normalmente ficavam dois anos e depois mudavam-se para outro país, havia uma grande rotatividade nesse sentido".
TUDO DIFERENTE
A escola de Bryan ainda existe – mas já não é a ‘Casa Branca’. Também já não é em Carnaxide (é no Linhó, em Sintra, instalações inauguradas em 1997 pela então primeira-dama Hillary Clinton) e desde 2001 responde pelo nome de Carlucci American International School of Lisbon. Muito mudou desde então. E apesar de não podermos dizer com toda a certeza que havia um ‘Jimmy’ que desistiu e uma ‘Jodi’ que casou, em St. Columban’s School (as personagens da música ‘Summer of 69’), Bryan estava em Portugal nesse verão. ‘Those were the best days of my life’, canta ele. Os fãs portugueses querem crer que sim, que foram os melhores tempos da vida do cantor.
QUATRO DOS MELHORES ANOS
"Entrei na escola em Portugal em 1966 e passei aí quatro dos melhores anos da minha vida. Foi no tempo da ditadura. Portugal era bastante diferente nessa altura, uma joia esquecida. Tive alguns amigos portugueses, mas éramos uma cambada de tontos que se metiam em toda a espécie de trabalhos. Que é, aliás, coisa própria de rapazes daquela idade", contou Bryan Adams em entrevista sobre o tempo em que viveu em Portugal e frequentou a St. Columban’s School em Carnaxide, no concelho de Oeiras. A família do cantor chegou a viver no Hotel Estoril Sol enquanto a casa não ficava pronta.
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