Este coronel de 81 anos tem passado uma parte substancial da sua vida atrás de Juan Carlos
Amadeo Martínez Inglés tem a impressão de credibilidade conferida pela idade e pela patente militar, e a ousadia do flibusteiro. É um coronel de 81 anos, embora a idade biológica seja de 50, como nos explica. Publicou em Espanha pela editora portuguesa Chiado, escritório de Madrid, ‘Juan Carlos I. El rey de las cinco mil amantes ‘, biografia não autorizada do rei emérito espanhol. "Segundo relatórios confidenciais dos Serviços Secretos do Exército e da Segurança de Estado, que sempre vigiaram muito o rei, quer na sua vida íntima, quer na profissional - tanto na época do franquismo como depois na chamada transição democrática-, a que tive acesso durante os muitos anos que prestei serviço na cúpula militar e nos estados maiores, o número exato de amantes do rei é de facto 4786 e não 5000 (1954-2014). São amantes de dois tipos: as ‘profissionais’ e até reconhecidas por muitos espanhóis, e mesmo por diversos governos que sempre estiveram às ordens para acudir intimamente ao príncipe, e também quando foi depois rei; e aquelas, uma imensa maioria de todo o tipo de mulheres, que só tiveram uma única relação com ele", responde à ‘Domingo’ por email o coronel autor de livros como ‘23-F: El golpe que nunca existió’, ‘Argentina, Los años de plomo’, ‘Mi Lucha por un ejercito professional’ ou ‘Juan Carlos I: el ultimo Borbon’-, e que dias mais tarde, na volta do correio eletrónico, questionava-nos se a entrevista já havia sido publicada, caso contrário só lhe restaria uma única hipótese: "Sospecho que ha podido ser censurarlo por presiones ajenas al periódico (Suspeito que possa ter sido censurada em resultado de pressões alheias ao jornal)".
Amadeo Martínez Inglés foi condenado em março de 2013 a uma multa de 6480 euros pelo crime de injúrias graves à Coroa, por causa do artigo que escreveu para o ‘Canarias Semanal’, onde desqualificava Juan Carlos chamando-lhe, entre muitas outras coisas, "borracho" (bêbado). "Recusei-me a assistir a esse julgamento, que se baseou numa denúncia apoiada num artigo da lei espanhola, repetidamente invalidado pelo Tribunal de Direitos Humanos em Estrasburgo. É uma aberração que um senhor possa roubar ou matar sem que nenhum tribunal espanhol possa julgá-lo. Em Espanha, a chamada ‘transição modelo do franquismo para a democracia’ é uma fraude. Atualmente, existem leis que em nada diferem daquelas que existiam no regime de Franco. Não paguei a multa voluntariamente, mas por via judicial sacaram-me o dinheiro."
O disparo acidental
O ‘El Confidencial’ escrevia este mês de julho sobre o coronel republicano que "fareja a vingança". "Amadeo Martínez Inglés voltou ao seu objetivo de atirar por terra (pela enésima vez) a imagem" da monarquia e do rei emérito com a publicação da biografia, que em setembro chega a Portugal. O jornal eletrónico lembrava que, além da intempestiva ida à igreja onde se casavam Felipe e Letizia (ver caixa) em outubro de 2005, Martínez Inglés tem sido notícia, nomeadamente por ter enviado um documento ao presidente do congresso Manuel Marín, a exigir a abertura de "uma comissão de investigação que pudesse apurar de uma vez por todas a responsabilidade do monarca espanhol na intentona de 23 de fevereiro de 1981"(o acontecimento mais representativo foi o assalto ao Congresso dos Deputados por guardas civis, comandados pelo tenente-coronel Antonio Tejero, durante a votação do candidato para presidente do governo da Espanha, Leopoldo Calvo-Sotelo, da UCD, o partido político de Adolfo Suárez.)
Em janeiro de 2015, quase seis décadas depois da brincadeira entre irmãos - filhos de Juan de Bourbon, Conde de Barcelona, exilado no Estoril-, e uns anos depois de ter sido condenado a 12 meses de multa, a 18 euros por dia mais custas judiciais, por injuriar o rei, o ex-coronel republicano pediu à Fiscalía General para investigar a morte do infante Afonso, em resultado do disparo de Juan Carlos. Martínez Inglés justifica, perplexo, o que lhe parece óbvio, mas que sempre foi classificado de disparo acidental - o rei emérito era, então, "um cadete de 18 anos experimentado em toda a classe de armas do exército espanhol. A um tipo destes não escapa um tiro que, ainda por cima, atinge as fossas nasais".
No livro que, afinal, não é só sobre a alcova do rei que ele, sem emenda, apelida de "putanhero", Inglés escreve ainda que, nos seis meses posteriores ao disparo "certeiro da pistola de 6,35 milímetros", os Serviços de Inteligencia da Academia Militar, auxiliados pela 2ª secção de informação da Capitanía General de Aragón, apuraram que o então príncipe "teve 62 encontros sexuais". No tempo de Juan Carlos na Academia Militar, as meninas da classe média alta de Saragoça - escreve - eram apelidadas de ‘cadeteras’, numa alusão jocosa à circulação pelos cadetes.
A morte do primogénito do conde de Barcelona é um dos cavalos de batalha deste coronel expulso do Exército em 1990 (ver caixa). Martínez Inglés chegou a pedir à Procuradoria-Geral da República portuguesa uma investigação ao caso: "Acusaram a receção da minha denúncia e prometeram investigá-la. Sei de boa fonte que tanto o governo espanhol como a Zarzuela assustaram-se muitíssimo e as autoridades portuguesas comunicaram-me o arquivamento".
Uma vintena de bastardos
Embora no livro, as amantes de mais de uma noite apareçam referidas pelo nome próprio e a inicial do apelido, Amadeo Martínez Inglés disse à ‘Domingo’ que passaram por Juan Carlos de Borbón, desde que foi proclamado rei, em 1975, atrizes, modelos e até uma princesa inglesa: "Bárbara Rey, Sara Montiel, Marta Gayá, Raffaela Carrá, Nadiuska, Lady Di, Sandra Mozaroski…etc."
Não admira que a Casa Real o considere uma espécie de stalker do rei, que abdicou com a reputação manchada por ter sido fotografado à caça de elefantes com uma amiga. Martínez Inglés palpita que Juan Carlos possa ter mais de 20 bastardos. "Que pruebas existen? Isto dos filhos foi sempre um tema tabu, até agora só vieram a lume os casos de Ingrid Sartiau e Albert Solé, que foram desacreditados apesar dos exames de ADN." E sobre o "cadete Juanito", o Inglés flibusteiro não se contém: "Soube-se, por exemplo, que quando saiu da academia, anos depois apresentaram-se aos órgãos militares muitas mulheres reclamando a paternidade dos seus filhos."
Amadeo Martínez Inglés publicou este seu último livro com a chancela do grande fenómeno editorial dos últimos tempos em Portugal - a Chiado Editora, fundada em 2008 com 1500 euros por Gonçalo Martins, quando estudava Direito e trabalhava no Ikea e agora com escritórios em Espanha, Alemanha, Brasil, França, Reino Unido, Itália e Reino Unido, refere o site oficial, e que no ano passado teve um volume de negócios superior a dois milhões de euros, escreveu a revista ‘Sábado’. Através da página na net, é possível enviar um original e até escolher a fonte de letra do original a publicar. "Em absoluto. Não paguei nada à Chiado Editorial por publicar o meu livro. É certo que seis editoras espanholas se interessaram pelo meu trabalho e logo, suponho que por medo, abandonaram o projeto. Na verdade, sou um escritor muito conhecido em Espanha, ainda que certamente rebelde e muito contestatário de um regime que considero corrupto. Tenho vários best-sellers e nunca paguei a ninguém para publicá-los. Era o que faltava!"
Se pudesse já ter encontrado ou se vier um dia a encontrar Juan Carlos, Amadeo Martínez Inglés dir-lhe-ia, certamente com o ímpeto de quem, enquanto militar, fez campanhas em África, para juntar "os seus familiares todos e que fossem de Espanha", país onde a "monarquia sempre andou a par da corrupção" e, depois, que chegasse a III República. De caminho, corria com o "neoliberalismo de Bruxelas e o governo corrupto do Rajoy", deixando adivinhar para que lado pende o coronel que não se cansa de repetir o que muitos não acreditarão: "Eu não persigo Juan Carlos de Borbón e nem tenho nada de pessoal contra ele, e nem este livro, nem nenhum outro, foi escrito como vingança por coisa alguma."
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