O ‘ventoinha’, como o pai lhe chamava por causa do tamanho das orelhas, saltava o muro do Zoológico para apanhar as moedas que o elefante desprezava. o império que construiu mereceu-lhe, primeiro, a alcunha de ‘Kadafi dos pneus’, um verdadeiro terrorista para a concorrência. Tem 67 anos e há treze que tem a águia pela mão. No dia 27 o clube vai a votos e é já certo que fique até 2020
Obsessivo. Apressado. Teimoso. Se algo entrar na cabeça já não sairá. Só descansa quando tem o assunto na mão. Diz o que pensa sem cerimónia. Está a milhas de ser a personificação da pomba da paz, mas não é do tipo de procurar confronto pessoal. O sangue quente que o caracteriza, com a idade, avisa fonte próxima, esfriou. Arrisca menos. Sabe ouvir, e até ouve muita gente, contudo, a derradeira palavra é a sua. Na vitória pede contenção e não cai na euforia. Na derrota é um animador; não permite que a estrutura fique abalada. Em 2012/2013, nessa época negra em que o Benfica treinado por Jorge Jesus não ganhou qualquer título, Luís Filipe Vieira, recorda um comentador televisivo, manteve confiança no homem da Falagueira. "E digo-lhe que ele (Luís Filipe Vieira) era o único que queria isso. Mais ninguém queria ficar com um treinador que perdera tudo, e ainda por cima daquela maneira."
Para infelicidade da língua adversária, o presidente do Benfica não gosta de bebidas alcoólicas. Gosta de cães. De vestir calças de ganga. Das marcas Boss, Zegna, Sacoor. Detesta estar rodeado de criaturas que lhe dizem ámen a tudo. Respeita o espírito crítico. No prato aprecia, por exemplo, cabeça de peixe, servida no ‘Barbas’. Este restaurante, cujo dono é talvez o adepto benfiquista mais conhecido, é o lugar preferido para reunir. Ao fim de semana dispensa o pessoal da segurança. A vida social é pouco intensa. Os seus hábitos são regulares. A sua vida dispõe da simples variação: casa, centro de estágio e estádio. Luís Filipe Vieira é organizado sem ser metódico, emotivo, bastante, e obrigado a ser racional nos momentos de decisão. É, prossegue alguém que o conhece de alto a abaixo, um homem de gestão que se destaca por ver a médio prazo. É impulsivo e, certamente, uma valente dor de cabeça para um director de imagem. Contudo, a sua impulsividade teve melhores dias, ou piores, conforme a visão que dermos aos seus repentes, capazes, em Maio de 2004, de invadir o programa ‘O Dia Seguinte’, na SIC, que estava a ser transmitido em directo. Entrou no estúdio, sentou-se ao lado do moderador Pedro Moutinho e ali esteve a esclarecer ao vivo a inscrição alegadamente irregular do jogador Ricardo Rocha.
A vida do Ventoinha
É amigo do seu amigo e pela amizade toma posições que o colocam no bico do fogão. José Carriço, apelidado ‘Zé do Benfica’, que teve nas mãos a responsabi- lidade do departamento de apoio aos jogadores do Benfica, também foi motorista de Luís Filipe Vieira. Começou a ser investigado pela PJ em Novembro de 2014, investigação sob o nome de ‘Porta 18’, a lateral do Estádio da Luz onde se reunia com alguns dos suspeitos. Ao contrário de um batalhão que lhe dizia para que se afastasse de Carriço, Vieira não virou as costas e ajudou-o. Por causa de um amigo, em 1993, viu-se condenado pelo crime de roubo. Nesse Julho, o Tribunal da Boa-Hora, em Lisboa, sentenciou-o a 20 meses de prisão. Não tivesse apanhado duas leis de amnistia que deu o perdão total das penas, teria visto o astro-rei às riscas.
Luís Filipe Vieira, nascido em Lisboa a 22 de Junho, que fora sentenciado conjuntamente com cinco arguidos, não mostrou arrependimento pelo que havia feito. E o que o fez o actual presidente do glorioso? Ora bem, planeou o roubo de um camião na madrugada de 28 de Março de 1984 com o intuito de ajudar o amigo José Luís Gama, um industrial de Arganil. No artigo assinado por Pedro Guerra, a 2 de Agosto de 2001, n’‘O Independente’, lê-se: "Um caso de contas que não foram honradas, relacionado com uma cessão de quotas da empresa Transportes Internacionais de Mercadorias, Lda". O diretor de conteúdos da Benfica TV, Pedro Guerra, não quer falar do artigo. Prefere dizer que Luís Filipe Vieira é um ás na "gestão" e imbatível; eis, pois, uma das razões que explica a ausência de uma lista contra Vieira: "É um presidente, o único, que não fala na primeira pessoa; fala sempre ‘nós’". O adepto sente que não fica de fora. E há quem sinta, como um ex-dirigente, que será difícil a saída de Luís Filipe Vieira do cargo. "É um homem com fortuna. Não vai sair do Benfica de forma fácil. Não vai sair do Benfica pelo próprio pé. Gosta do Benfica e gosta de presidir o clube."
Goza da fama de ser romântico e de falar com o coração. Em vários momentos preferiu o discurso escrito porque o sentimento expressou-se mais alto do que textos. Dentro do Sport Lisboa e Benfica há quem critique esta sua faceta genuína e prefira "Uma posição clássica de um presidente", afirma um antigo dirigente.
A máquina já o traiu. Largou a nicotina. O vício haveria de regressar. Compensa os pulmões com exercício físico. Um susto cardíaco impedi-lo-á de assistir aos jogos do Benfica. Para evitar que os nervos subissem a tensão arterial, ficava nos estádios em salas trancadas, sem acesso à rádio e à televisão, e apenas seria informado do resultado no fim dos jogos. A calma vive no lar. Apaixonou-se pela mulher ao telefone. Vanda. Uma mulher religiosa, testemunha de Jeová, que lhe deu dois filhos, Sara, bióloga, e Tiago, administrador da Promovalor. A fé de Luís Filipe Ferreira distancia-se de Deus. É outra.
Começou numa loja de pneus, a Morgado e Fernando, em Campo de Ourique. Mariana Farias foi sua colega, aí, no início dos anos 70: "O senhor Luís Filipe vinha da tropa, era trabalhador, simpático, pronto para a brincadeira". Tinha cumprido o serviço militar em Beja, Torres Novas e Moçambique, na Beira, entre 1969 e 1970.
Os problemas de estômago antecipam o regresso. A brincar, a brincar, convenceu o patrão Armando Marques, a ficar com o dinheiro de todas as jantes de liga leve que vendesse. Era um vendedor de excelência. O anúncio que respondera para ser empregado de escritório, cedo deixara de ter efeito, já que o sucesso atrás do balcão de Luís Filipe Vieira é tamanho que passa a dirigir a parte comercial. A empresa Celestino Gomes Bessa vai buscá-lo. Paga- -lhe cem contos. Uma fortuna. Antes dos trinta anos abre uma sociedade com Eduardo Carvalho, a Auto-Pneus da Póvoa. O império dos pneus vai de vento em popa. Recebe de um empresário nortenho, Gomes de Lourosa, o epíteto sui generis: ‘Kadhafi dos pneus’. Porquê? Ora. A sociedade de Vieira dava vazão a tudo e a concorrência considerava-a amigavelmente de ‘terrorista’. Do Norte do País a Angola, da construção civil ao imobiliário a viagem comercial de Luís Filipe Vieira dar-lhe-á o 43º lugar na lista dos mais poderosos de Portugal.
Jorge Máximo descreve o amigo: "É o melhor presidente do Benfica. Fez um estádio, dois pavilhões e um museu." E três campeonatos seguidos. O taxista que teve a infeliz ideia de ter dito que "as leis eram como as meninas virgens" frisa a origem do presidente do Benfica: "É um homem do povo, um homem simples."
Descendente de Fernando Vieira, pedreiro, e de Benvinda Ferreira, que trabalhava na fábrica confecções Simões, Luís Filipe Vieira cresceu no bairro social das Furnas, em Benfica. Aos domingos galga o muro do Jardim Zoológico e apanha as moedas que a tromba do elefante manda embora. O pai dá-lhe a alcunha ‘Ventoinha’ pelo tamanho das orelhas e por ser uma criança reguila. Ia a pé ao velho estádio do Benfica, com o pai de garrafão em riste; se fosse com os amigos, pendurava-se no eléctrico.
Carlos Cardoso, presidente da Associação dos Moradores do bairro das Furnas, nos idos anos 60, viveu na mesma rua, na dos Plátanos. Do antigo vizinho diz: "É filho de uma família hospitaleira, os pais eram pessoas de excelência. O Luís Filipe foi sempre empreendedor e educado." Ia ao mesmíssimo café Clube Recreativo Leões das Furnas. É verdade, leões. Jogava às cartas. Na altura em que dirigia o Futebol Clube Alverca ia ao bairro com frequência. Era ‘tu cá tu lá’ com Pinto da Costa mas a sua chegada à Luz escangalhou a afinidade. Desde Novembro de 2003, o ano da estreia eleitoral, as relações com o FCP e o Sporting têm azedado como nunca. É para o lado que Vieira dorme melhor. Deverá ser reeleito para o quinto mandato; ninguém concorre contra o empresário a quem o Estado assumiu a dívida ao BPN. 17 milhões. Belo número.
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