Três mulheres foram repetidamente vítimas das fantasias de Ariel Castro. Ninguém deu por nada.
O resgate de três jovens sequestradas que durante dez anos foram mantidas em cativeiro numa casa num típico bairro residencial norte-americano de Cleveland, Ohio, chocou o Mundo e levanta questões preocupantes. O homem capaz de tão monstruoso ato, Ariel Castro, de 52 anos, era considerado um vizinho "porreiro", que transportava as crianças do bairro no autocarro da escola e fazia churrascos no jardim de casa. Nunca levantara suspeitas e até tinha participado nas várias vigílias de oração organizadas pela família de uma das suas vítimas, Gina DeJesus, sendo considerado um "amigo" pela família.
O filho do principal suspeito, Ariel Anthony Castro, de 31 anos, garantiu nada saber sobre o que se passava debaixo do teto do pai, mas em 2004 escreveu um artigo sobre o desaparecimento de uma das vítimas, precisamente Gina DeJesus. Na época, era estudante de jornalismo e chegou a entrevistar membros da família de Gina. Atualmente, é bancário, vive em Columbus, e diz-se chocado com as acusações, apesar de reconhecer que o progenitor tinha um "caráter violento" - chegou a espancar várias vezes a sua mãe, de quem estava separado desde 2002, precisamente a altura em que os raptos começaram. Foi também o filho que revelou que as portas da cave, sótão e garagem estavam "sempre trancadas".
Ariel Castro frequentava as vigílias organizadas por familiares das vítimas nos aniversários dos desaparecimentos. A última vez que o fez foi no ano passado, facto que os vizinhos, espantados, fazem agora questão de relembrar.
Um amigo do suspeito, Tito DeJesus, que formou com o suspeito uma banda de rock, frequentou a sua casa e nunca por lá viu nada de estranho. Agora, que a chocante verdade veio a lume, reconhece que algo estava errado de cada vez que o suspeito lhe perguntava se Gina DeJesus, a sua última vítima, havia sido encontrada e põe-se a hipótese de o arguido pensar, erradamente, haver uma relação de parentesco entre ambos. Castro parecia temer que a proximidade o denunciasse.
Gina, ou melhor, Georgina DeJesus, foi vista pela última vez perto de um telefone público em Cleveland na tarde de 2 de abril de 2004, tinha então 14 anos. Voltava da escola para casa na companhia de uma colega e ainda telefonou a pedir à mãe autorização para a amiga dormir na sua casa. A mãe não acedeu e as duas raparigas seguiram caminhos diferentes. Gina era amiga de Arlene Castro, filha de Ariel, mas nunca mais foi vista. Todavia, quando Gina foi raptada já outras duas raparigas moravam contra sua vontade no sótão de Ariel Castro.
Michelle Knight foi a primeira vítima. Desapareceu em Cleveland em 2002 e teria 20 anos. Por ser maior de idade, e porque vinha de uma família disfuncional, que inclusivamente tinha perdido a custódia de outro filho, as autoridades preferiram acreditar que tinha fugido. Michelle não chegou sequer a ser registada oficialmente na base de dados de desaparecidos.
Amanda Berry, a segunda vítima, foi vista pela última vez na véspera do seu 17º aniversário, em 2003, a sair do emprego numa loja da Burger King, por volta das 19h30. A adolescente contactou a irmã, dizendo-lhe que arranjara uma boleia para casa, mas não voltou a ser vista.
Em 2012, as autoridades receberam uma alegada pista de um homem que afirmava saber onde se encontravam enterrados os restos mortais de Berry. Nada foi encontrado e o informador acabou detido por prestar informações falsas.
A mãe de Amanda Berry nunca desistiu de a procurar, mas não logrou vê-la com vida. Morreu em 2004, com uma pancreatite, mas família não tem dúvidas de que foi o desgosto que a levou cedo demais, aos 44 anos. Poucas semanas antes tinha voltado à televisão para apelar a que não esquecessem o rosto da filha.
As três mulheres terão vivido encarceradas, acorrentadas e sujeitas a abusos sexuais. Amanda deu à luz uma menina, agora com seis anos, Jocelyn. "É uma menina saudável e feliz", afirmou. Michelle terá sido obrigada a fazer cinco abortos.
Ariel Castro nasceu em Porto Rico há 52 anos e era proprietário do número 2207 da Seymour Avenue desde 1992. No seu perfil do Facebook descrevia-se como apaixonado por motos, música e que tocava baixo. No seu último ‘post', afirma: "Os milagres realmente acontecem, Deus é bom." O seu registo policial não é assim tão inócuo. Em 1993 foi preso por violência doméstica e procurado seis vezes por infrações de trânsito.
Desde que o caso veio a lume, a investigação começou a ser questionada, sobretudo por causa de denúncias que nunca foram investigadas. Israel Lugo, que mora a duas casas do cativeiro, disse ter ligado para a polícia há três anos após ver jovens raparigas com coleiras no pescoço, caminhando nuas e de gatas no quintal da casa. Só que a polícia não foi ao local. Até Charles Ramsey, o homem que ouviu os gritos de Amanda Berry e lhe deu um telefone para que chamasse a polícia, ajudando depois as outras duas mulheres a saírem de casa, expressou a sua descrença: "Fui a um churrasco naquela casa e não vi nada." Juan Perez, outro vizinho incrédulo, conta que ele era um "tipo porreiro". "As pessoas confiavam nele. Usou uma grande máscara e todos achavam que era uma boa pessoa". Mas nunca se sabe quem mora ao lado...
OUTRAS VÍTIMAS REGRESSARAM APÓS ANOS DE CLAUSURA
O caso das três jovens do Ohio relembra outros sequestros prolongados com final ‘feliz': em 2009, Jaycee Lee Dugard foi encontrada 18 anos depois de ter sido raptada do quarto da sua própria casa. Foi encontrada a 30 quilómetros do local. Natascha Kampusch esteve trancada oito anos na Áustria, em casa de Wolfgang Priklopil, que se suicidou no dia em que Natascha fugiu. Ela escreveu um livro e relatou a sua experiência em vários programas de televisão. Elisabeth Fritzl foi sequestrada e estuprada durante 24 anos pelo próprio pai, Josef Fritzl, do qual teve vários filhos.
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