Autor de um dos romances mais importantes da literatura universal
Gabriel José de la Concordia García Márquez (1927-2014) pôs no mapa a sua pequena cidade natal, Aracataca, no norte da Colômbia, junto ao Mar das Caraíbas, ao inspirar-se nela para criar Macondo, cenário daquele que é considerado um dos romances mais importantes da literatura universal: ‘Cem Anos de Solidão’. O mais velho de 12 irmãos, Gabriel, também conhecido pelo diminutivo ‘Gabo’, frequentou Direito em Bogotá, mas não concluiu o curso. Em vez disso, tornou-se jornalista. Em 1967, publicou ‘Cem Anos de Solidão’, que vendeu meio milhão de exemplares só nos três anos seguintes e foi traduzido em 25 línguas. O romance foi pioneiro do realismo mágico, estilo literário caracterizado pela mistura da fantasia com a realidade do dia a dia - até nas descrições de cenas eróticas.
Já famoso, fundou em 1974 a revista ‘Alternativa’, em que publicou reportagens de acentuado viés político de esquerda. Em pleno Verão Quente de 1975 aterrou em Lisboa para ver a revolução portuguesa ao vivo e a cores. Ainda nesse ano publicou ‘O Outono do Patriarca’ e, em 1981, ‘Crónica de Uma Morte Anunciada’. No ano seguinte veio a consagração com o Prémio Nobel da Literatura. Escreveria ainda outros livros importantes, como ‘O Amor nos Tempos de Cólera’ e ‘O General no Seu Labirinto’, antes de ‘Memórias das Minhas Putas Tristes’, uma espécie de testamento literário-sentimental em que o narrador, ao completar 90 anos, recorda as suas aventuras eróticas.
Do livro ‘Memórias das Minhas Putas Tristes’, tradução Maria do Carmo Abreu, Ed. D. Quixote
"Nunca fui para a cama com nenhuma mulher sem lhe pagar, e convenci as poucas que não eram da profissão pela razão ou pela força a que recebessem o dinheiro nem que fosse para o deitar no lixo. Por volta dos meus vinte anos comecei a fazer um registo com o nome, a idade, o lugar, e uma breve memória das circunstâncias e do estilo. Até aos cinquenta anos eram quinhentas e catorze mulheres com as quais tinha estado pelo menos uma vez. Interrompi a lista quando já o corpo não me deu para tantas e podia continuar as contas sem papel. Tinha a minha ética própria. Nunca participei em paródias de grupo nem em convívios públicos, nem partilhei segredos nem contei uma aventura do corpo ou da alma (…).
A única relação estranha foi a que mantive durante anos com a fiel Damiana. Era quase uma menina, meia índia, forte e rústica, de palavras breves e terminantes, que se deslocava descalça para não me incomodar enquanto escrevia. Lembro-me que eu estava a ler ‘La lozana andaluza’ na rede do corredor e a vi por acaso inclinada no lavadouro com uma saia tão curta que deixava a descoberto as suas curvas suculentas.
Dominado por uma febre irresistível levantei-lha por trás, baixei-lhe as cuecas até aos tornozelos e investi pelas costas. Ai, senhor, disse ela, com um queixume lúgubre, isso não se fez para entrar mas para sair. Um tremor profundo fez-lhe estremecer o corpo, mas manteve-se firme. Humilhado por tê-la humilhado, quis pagar-lhe o dobro do que custavam as mais caras de então, mas não aceitou nem uma moeda e tive que lhe aumentar o ordenado com o cálculo de uma montada por mês, sempre enquanto lavava a roupa e sempre em sentido contrário."
Do livro ‘Cem Anos de Solidão’,
tradução Margarida Santiago, Ed. D. Quixote
"Uma tarde, quando todos dormiam a sesta, não resistiu mais e foi ao quarto dele. Encontrou-o em cuecas, acordado, estendido na rede que tinha pendurado nas traves com cabos de amarrar navios. Ficou tão impressionada com a sua nudez e escrevinhaduras que lhe apeteceu retroceder. "Desculpe", escusou-se. "Não sabia que estava aqui." Mas baixou o tom de voz para não acordar ninguém. "Vem cá", disse ele. Rebeca obedeceu.
Deteve-se junto da rede, a suar gelo, sentindo os nós que se lhe formavam nas entranhas, enquanto José Arcadio lhe acariciava os tornozelos com a ponta dos dedos, e depois as pernas e a seguir as coxas, murmurando: "Ai, maninha. Ai, maninha." Ela teve de fazer um esforço sobrenatural para não morrer, quando uma potência ciclónica espantosamente medida a levou pela cintura e a desapossou da sua intimidade em três tempos e a esquartejou como a um passarinho. Conseguiu dar graças a Deus por ter nascido antes de perder a consciência no prazer inconcebível daquela dor insuportável, chapinhando no pântano fumegante da rede que absorveu como mata-borrão a explosão do seu sangue.
Casaram-se três dias depois na missa das cinco."
NOBEL DA LITERATURA
Aceitou o Prémio Nobel da Literatura de 1982 das mãos do rei Carl XVI Gustav da Suécia e respondeu com um discurso intitulado ‘A solidão da América Latina’.
O AMIGO FIDEL
Era amigo do líder cubano Fidel Castro e essa amizade, que o levou a defender o regime comunista, deu azo à acusação de "gostar de estar na cozinha do poder".
‘Gabo’ em Portugal
Em junho de 1975 esteve duas semanas em Lisboa, para ver a revolução. Ficou no Hotel Ritz, jantava no Bairro Alto e tornou-
-se amigo do escritor José Cardoso Pires.
Livros que deram filmes
‘O Amor nos Tempos de Cólera’, com Javier Bardem e Giovanna Mezzogiorno (na foto), e ‘Memórias das Minhas Putas Tristes’, com Geraldine Chaplin.
Série da Netflix
O filho do escritor, Rodrigo García Barcha, anunciou que a família chegou a acordo com a Netflix para a adaptação à televisão de ‘Cem Anos de Solidão’.
Realismo mágico
Márquez foi um dos nomes principais do realismo mágico, caracterizado pela mistura da fantasia com a realidade. José Saramago foi um dos seguidores do estilo.
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