Os espartilhos entram no guarda-fatos. Na Paris de 1910, a alta costura feminina relança as silhuetas pelos cortes sofisticados de Poiret; menos elitista, Chanel – que nesta altura abria a sua primeira loja de chapéus na capital francesa – opta por lançar uma linha de vestuário feminino menos cara, usando jersei, para atenuar discrepâncias entre classes sociais; Cartier – sócio do pai desde 1898 na Maison – contrata o estilista Charles Jordin para renovar a sua linha, impondo o ‘glamour’ das ametistas e das esmeraldas em temas japoneses.
A moda das jóias, sob a ‘griffe’ Cartier, apaixona o magnata do petróleo Calouste Gulbenkian. O mecenas e impulsionador da cultura em Portugal, adquiriu, na mesma década e na subsequente, seis das 230 peças, a partir de 15 de Fevereiro de 2007, em exposição no Museu Gulbenkian, em Lisboa. As peças incluem anéis; pregadeiras como a ‘Pantera’, vendida à duquesa de Windsor; relógios como o modelo ‘Santos-Dumont’, de 1916, em platina, ouro e safira; tiaras como a que pertenceu a Isabel, rainha da Bélgica, de 1910, em platina e diamantes com motivos enrolados. Ou a tiara usada pela actriz norte-americana Gloria Swanson, no filme ‘Crepúsculo dos Deuses’, de 1950. Cada objecto carrega a presença de quem o usou, história e sentimento. O próprio Gulbenkian deixou como património da reserva do museu seis peças, das quais se destaca o pendente ‘Coluna Grega’, de 1913, em platina, ouro, ónix, opala e diamantes. Uma meia dúzia de valiosíssimas jóias raramente expostas.
‘Cartier 1899-1949 – o percurso de um estilo’ marcou as agendas do Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque, nos EUA, do Museu do Ermitage de São Petersburgo, na Rússia, do British Museum de Londres, em Inglaterra, do Museu de Xangai, na China. E tantos outros. Agora é a vez da sala de exposições temporárias do Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa, receber entre 15 de Fevereiro e 29 de Abril de 2007 esta mostra inédita em Portugal. O espaço está aberto entre as 10h00 e as 18h00. O catálogo Cartier, que integra mais de 1300 peças, perpetua os laços (de vanguarda) através das mostras itinerantes.
MAIS DE 100 ANOS DE HISTÓRIA
Este catálogo internacional conta uma história desde há mais de 100 anos: a Cartier abrilhantou a exuberância das suas jóias ao iniciar uma forma pioneira de trabalhar a platina; os famosos relógios ‘Santos-Dumont’ – fabricado pela primeira vez à medida do célebre aviador brasileiro com o mesmo nome – foram os primeiros a usar bracelete em couro; logo a seguir à Primeira Guerra Mundial, nas décadas de 20 e 30 do séc. XX, a Art Déco marcou os acessórios da marca francesa; Louis-François Cartier foi ‘coroado’ pela realeza russa, grega, e britânica, entre outras, como o ‘rei’ da joalharia. E todas as peças que vão homenagear Cartier, no nosso país, revelam os estilos e uma época de influência do joalheiro francês, na Paris muito à frente do seu tempo.
Através dos desenhos originais das peças fabricadas – e assinadas por estilistas ao serviço da esfinge francesa – o visitante do Museu Gulbenkian poderá ainda ler a visão do criador. Por exemplo, em 1925, as explosões de cor dão origem a peças como o colar ‘tutti-frutti’, em platina, ouro branco, safiras, esmeraldas, rubis e diamantes. Justamente, um ‘tutti-frutti’ em tons branco, azul, verde, vermelho e um lapidado rosa brilhante. São pérolas. E mesmo no esplendor da Arte Nova, que veio para revolucionar o mundo da moda, o ‘rei das jóias’ aboliu as guarnições metálicas das suas peças, usando a platina polida. O brilho não desapareceu e o requinte sobressaiu.
Mas não é só de jóias que se eleva a colecção legada à Fundação Cartier e que anda a correr os mais prestigiados museus do mundo. O joalheiro imprimiu classe e luxo à decoração do lar através de relógios de mesa como uma peça de bom gosto e tradição. E ainda nos acessórios pessoais, por exemplo, através de um ‘nécessaire’ feminino patente na exposição, cigarrilhas ou artigos de escrita. Actualmente, a marca estende-se ao contemporâneo com sumptuosos artigos como óculos e os famosos perfumes. As vitrinas das mais de duas centenas de lojas da marca espalhadas pelo mundo fazem perpetrar a assinatura inconfundível de Cartier. E preços acessíveis a poucas bolsas.
Por enquanto, a exposição organizada pelo Museu Calouste Gulbenkian, pela Colecção Cartier e pela editora Skira ainda não está desenhada. Pouco se sabe – e, por isso, muito fica em aberto sobre a disposição do espaço – sobre o catálogo de peças que vão permanecer na capital portuguesa durante pouco mais de dois meses. Esta iniciativa, que se enquadra nas comemorações do 50.º aniversário da Fundação, revela, ainda sobre um véu enevoado os gostos do engenheiro Gulbenkian na aquisição de joalharia – onde se destacam peças compradas a René Lalique. Sem dúvida uma oportunidade única.
VAIS GOSTAR SE...quiser reviver o ‘glamour’ de uma Paris de inícios do séc. XX. E, claro, se as criações de Cartier despertarem em si uma enorme vocação para ser rico (mesmo que em sonhos).
AS DUAS PERSONALIDADES
CALOUSTE GULBENKIAN
Pioneiro da indústria petrolífera e coleccionador de arte, nasceu em 1869 na Arménia e morreu em 1955 em Portugal. Estudou engenharia em Londres e naturalizou-se britânico. Foi um importante mecenas e impulsionador da cultura no nosso país.
LOUIS-FRANÇOIS CARTIER
Empresário e mais tarde reconhecido como o ‘rei da joalharia’, viveu entre 1845 e 1942 em Paris. Em 1898 torna-se sócio do seu pai na famosa Maison. Legou à Fundação com o seu nome a colecção de 1300 jóias feitas exposição itinerante.
CARTAZ DE EXPOSIÇÕES
- Amadeo de Souza-Cardoso, ‘Diálogos de Vanguarda’, até 14 de Janeiro de 2007, na Galeria de Exposições da sede da Calouste Gulbenkian. Uma mostra que reúne cerca de 260 obras correspondentes a um período de actividade de aproximadamente um década (1907-1918). Uma exposição possível graças à cedência de obras por parte de diversos museus internacionais, coleccionadores particulares e dos herdeiros de Amadeo. A entrada custa três euros, excepto aos domingos até às 13h00, que é grátis. As visitas guiadas são marcadas no próprio dia e para uma máximo de 40 pessoas.
- Paula Rêgo, a pintora portuguesa residente em Londres, apresenta o tríptico ‘Vanitas’ (de 2006), entre o dia 11 de Janeiro e 25 de Fevereiro de 2007, na sala de exposições temporárias do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, de terça a domingo, das 10h00 às 18h00. Esta obra foi encomendada à pintora no âmbito da comemoração do 50.º aniversário da Fundação Calouste Gulbenkian.
- Exposição Ingenuidades, de fotografia e engenharia, tem início a 1 de Fevereiro e termina a 30 de Abril de 2007, na Galeria de exposições temporárias, das 10h00 às 18h00. Esta é uma mostra de obras-primas da história da fotografia, de 1845 a 2005, comissariada por Jorge Calado. São cerca de 250 fotografias de coleccionadores privados, galerias, museus, tiradas por artistas-fotógrafos de várias nacionalidades.
- Obra de Cabrita Reis, permanece até 29 de Abril de 2007 patente no piso 0 do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, dadas as elevadas dimensões das instalações do artista. As metáforas da construção, da casa, do ofício e labor visíveis, frequentes na sua obra, conduziram a um entendimento do trabalho que permite prever a normal circulação do público no acesso aos restantes pisos do Museu, em Lisboa. As questões da arquitectura e as ideias de circulação, abrigo, memória, estrutura, (in)acessibilidade dos espaços serão naturalmente convocadas.
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