Chamas entortaram as colunas de aço do Grandella, derreteram os vidros dos candeeiros das ruas e varreram para sempre uma certa Lisboa.
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Amândio Matos vive a sua reforma de bombeiro dos Sapadores a 10 minutos de carro de Marbella, no sul de Espanha, mas não há quilómetros que o separem da memória que tem do Chiado. Na madrugada de 25 de agosto de 1988 estava de prevenção no quartel da avenida D. Carlos I, em Lisboa, quando o inaudito chegou pelas comunicações.
"Disseram que era para irmos para o Chiado, que o Chiado estava a arder, mas acho que ninguém podia antever que lá encontraríamos o inferno. Um inferno autêntico. Mais de mil graus centígrados, que derreteram os vidros dos candeeiros - uma coisa por demais". Amândio Matos esteve lá "desde a primeira noite, até aquilo ficar tudo apagado, pois era trabalho que pertencia aos sapadores bombeiros"; primeiro, ao serviço da ambulância, depois durante os quinze dias que ainda levou a concluir o trabalho dos bombeiros, quando o Chiado já não podia voltar a ser o que antes tinha sido.
Em 1988, Fernando Corrêa dos Santos tinha mais 24 anos que Amândio, andava pelos 54 - o decano do fotojornalismo em Portugal estava em sua casa na rua Garret, em pleno Chiado, quando por volta das cinco e meia pressentiu que algo se passava na rua: "Saltei da cama e fui à janela. Vi, então, enormes faúlhas passando frente aos Armazéns do Chiado, vindas da rua do Carmo. Um carro da PSP estava estacionado em cima do passeio, frente à casa Eduardo Martins, e nada mais. Rapidamente, vesti-me e como ‘uma barata tonta’ não sabia por onde começar. Se havia de informar primeiro o chefe da redação do vespertino ‘Diário Popular’, onde trabalhava ou se deveria sair logo, de máquina em punho, para apanhar as primeiras imagens. Foi o que fiz."
Uma vez na rua, o fotojornalista dobrou a esquina da rua Garrett com a rua do Carmo e deu com os Armazéns Grandella "feericamente iluminados, por um mar de chamas, e um calor abrasador que se sentia à distância", e fez a primeira fotografia. "Apenas três ou quatro bombeiros e uma única agulheta. Logo pensei, para os meus botões: ‘Isto é areia demais para a camioneta deles’. E era mesmo". Sobe depois a calçada do Sacramento, onde na ‘ponte’ de acesso ao elevador de Santa Justa faz mais umas imagens, e apercebe-se de que as chamas estão a dançar para os edifícios contíguos. "Baixei novamente à rua Garrett, informando do facto um dos poucos bombeiros que ali se encontravam. Resposta de um deles: ‘Estamos f*’.
Pelas 11 horas fiz a correr os escassos quilómetros até ao Bairro Alto, à redação na rua Luz Soriano, e "calculando que o meu jornal deveria sair mais cedo, enfiei-me no laboratório (câmara escura), revelando todo o material que tinha, enquanto ia acompanhando a rádio Renascença, cuja sede estava na boca do incêndio, na Rua Ivens. Diziam eles: ‘O fogo sobe o Chiado e já vem caminho dos estúdios’".
Corrêa debate-se então com um segundo dilema, se deve retornar a sua casa, na rua Garret, onde deixou a companheira, a filha desta e a gata Nini - ou segue para o fogo. Escolheu o fogo e encontrará depois, sem saber, Amândio Matos entre os bombeiros que no pátio do recreio da Escola Comercial Veiga Beirão, que confinava com as traseiras de um prédio da rua do Carmo, salvavam pessoas "pondo uma ‘tábua’ entre o muro do referido recreio e o parapeito do andar desse prédio. Só faltava socorrer um senhor. Os soldados da paz ali presentes bem lhe gritavam: ‘Aguente, tenha calma, já vamos salvá-lo’".
Mário Ramires Vidal tinha 77 anos e ao pescoço um fio com uma medalhinha com o seu nome gravado, que devolveram depois à viúva Maria Leonor, a mesma que em 2008 contou à ‘Domingo’ - tinha então 96 anos - como o 25 de agosto de 1988 amanheceu alaranjado e o que depois sucedeu. "Ouvi os gritos do bombeiro a dizer para eu sair. Pus um banquinho à janela da cozinha, subi por ele e depois os bombeiros mandaram-me uma corda, eu gatinhei e o bombeiro puxou-me. Depois foi a vez dele, disseram-lhe ‘salte’ mas ele que ‘não era capaz’."
Amândio Matos nunca soube o nome de Mário Ramires Vidal, mas nunca esqueceu a expressão dele. "Estávamos a tirar velhotes das suas casas e a correr tudo bem, até que houve um que deve ter entrado em pânico e em vez de nos auxiliar a ajudá-lo e subir para a escada, que estava apoiada num muro e numa janela, saltou e ficou atravessado; e quando o meu colega vai para meter a mão e agarrá-lo, falham-lhe os pés, dá um impulso e cai para o saguão. Esse meu colega ficou em choque... Não sei nome dele, mas recordo-me de tentar consolá-lo e dele me consolar a mim (foto ao lado), pois era eu que estava atrás dele a agarrá-lo para que ele pudesse chegar ao velhote", conta.
José Rijo Abrantes tinha 28 anos e saiu numa viatura dos sapadores do quartel da Encarnação - e mal chegou à praça Sá Carneiro pôde ver uma coluna alaranjada sobre a parte baixa da cidade que anunciava o que os esperava. Estaria ali todo o dia, até ser rendido às oito da manhã do dia seguinte.
Já aposentado, a viver no Cacém, é ele quem nos conta: "Fomos para a Veiga Beirão, que estava a arder e aí, junto à escola, começamos a ajudar três pessoas a sair de sua casa pela janela. Havia muito calor e muito fumo. Uma coisa terrível. Duas senhoras já com idade conseguiram alcançar-me e desceram." Atrás destas, estava Mário Ramires Vidal - "fiquei chocado quando ele falhou a minha mão e caiu desamparado". Rijo Abrantes é o colega que Amândio consolou, cujo nome nunca soube. Rijo Abrantes era bombeiro há seis anos quando falhou uma vida à sua frente - e o "primeiro nunca se esquece".
A verem as chamas no Chiado
As chamas nos armazéns inaugurados em 1894, ao estilo de Paris, pelo republicano e maçon Francisco de Almeida Grandella, rapidamente ganharam lastro nos balcões, divisórias e prateleiras de madeira, em tecidos, roupas, saltando para os edifícios contíguos, empurradas pelo vento em fúria. Falou-se de fogo posto, de um curto circuito, mas nunca se soube de facto o que reduziu a cinzas parte da história de Lisboa. António Pinto tinha 34 anos e era bombeiro em Alverca, desde 1981.
Dois anos antes da tragédia do Chiado tinha feito a sua prova de fogo no socorro a um acidente de comboio na Póvoa de Santa iria quando o rápido que vinha da Covilhã, com muitos estudantes a bordo, se precipitou e embateu contra um transvia causando a morte a 18 pessoas. Oitenta ficaram feridas.
Para o Chiado, seguiu numa viatura de Alverca que, por volta das 10h30, desceu a avenida da Liberdade. "Estacionamos no Rossio, embora houvesse mais viaturas de bombeiros de outros lados paradas ao longo da avenida. Passamos horas a ir ao largo do Calhariz (à boca de incêndio) para levarmos água para o carro do aeroporto, que tinha um canhão de água, e combatia o incêndio. Foi uma aflição. Lembro-–me de sabermos que um colega tinha ido para o outro mundo numa explosão (Joaquim Catana Ramos), das barracas da Cruz Vermelha que nos davam sandes e água e de lá estarmos várias horas neste vai e vem até termos ordem para desmobilizar".
Quando o bombeiro António Pinto chegou, já Nuno Roby Amorim estava a caminho da TSF, na Torre 2 das Amoreiras - tinha 24 anos e morava num terceiro andar empoleirado no balcão sobre a cidade que é a Calçada de Sant’ana - estava a dar os primeiros passos na profissão. "Por volta das cinco da manhã comecei a ouvir barulho e fumo e da minha janela apercebi-me que havia um incêndio. Liguei para a redação e estive a fazer a cobertura da janela da minha casa, desde as 4h30 ou 5h00 da madrugada até às 10h30. Entrei em direto e ia dizendo ‘vejo colunas de fumo, chamas nos telhados, carros de bombeiros’, nunca fui ao terreno, mas quando cheguei à redação levei uma salva de palmas".
João Ribeiro, hoje alfaiate na Picadilly, na rua Anchieta, estava no primeiro andar do número 79 da Rua de Santa Justa - a ver "que chegava à esquina do Montepio". Paula seguia em direção ao Politeama, na rua das Portas de Santo Antão, quando parou para ver aquele "fogo imenso" que comeria o Grandella, mas a poucos metros, do outro lado da rua do Carmo, pouparia a casa onde haveria de ter hoje emprego - a Luvaria Ulisses - graças ao perímetro de segurança entre as ruas Garret, Carmo, Nova do Almada e do Ouro, que conteve as chamas e deixou arder. Foi por isso que José António Lemos, hoje um dos sócios da Casa Pereira, na rua Garret, na embocadura com a Ivens e a poucos metros da calçada do Sacramento, viu o fogo de um lado e de outro, mas pôde reabrir o estabelecimento uns dias depois e ainda perdurar até hoje num Chiado "onde a vida foi mudando".
Tinha 36 anos, e foi ver o estrago ao elevador de Santa Justa. Este Chiado onde hoje está a antiga Coralina Jóia, agora na rua do Ouro, onde João António Veiga conta como viu primeiro o prédio arder depois de "às quatro ou cinco da manhã ter sido alertado pelo guarda noturno" e depois de um diferendo com a câmara, "ser entregue a chineses do Visto Gold", e depois o pai transmontano tombar este ano de desgosto depois de ter perdido tudo duas vezes, o império africano e o mimo no Chiado. Nesta que agora se chama Casa Correia, repousa o crânio de um elefante resgatado a um cemitério algures em Angola.
O escritor francês
Quando José António Lemos se empoleirou no elevador de Santa Justa para ver o incêndio à solta, já Manolo Bello, então com 38 anos, tinha passado pela 5 de Outubro, depois de saber pela rádio "às seis e picos da manhã que estava tudo arder". "Quando cheguei à RTP, quem morava mais perto já lá estava. O primeiro foi Mário Crespo que começou a coordenar as equipas e a mim disse-me: ‘Tu vais com o Guilherme Lima, para onde quiseres. O Lima era um câmara fantástico, um dos mais atrevidos que conheço. E então juntaram dois loucos".
Manolo Bello, Guilherme Lima e o assistente Celestino Farinha, que levava à tiracolo um gravador de 10 quilos de uma IKEGAM, também com o mesmo peso, foram primeiro para o Castelo de São Jorge. "E depois para o Chiado. O mais difícil não era entrar nos edifícios que estavam a arder, o mais difícil era passar o cordão da polícia. Na Veiga Beirão, aquilo até arrepiava mas com a fúria de entrar nos sítios nem nos apercebíamos. Com a aflição saiu-me uma daquelas piadas quando o Farinha diz: ‘ai que vocês já não saem daqui’; eu respondo-lhe ‘e tu também não’".
A humidade e a cinza inutilizaram essa primeira câmara, que foi substituída graças a um colega daquele que era então o único canal de televisão e passaram a transportar uma CAMCORDER, que por ter o gravador incorporado dispensava o assistente, mas pesava na mesma dez quilos. "Queríamos ir para a porta dos Armazéns do Chiado, o fogo já estava mais controlado, mas ainda havia, e então comecei a desafiar o Lima: "a gente há-de conseguir entrar por uma porta qualquer... E começamos a desafiarmo-nos um ao outro, porque na realidade estávamos com medo. Começamos a correr. Um polícia tentou agarrar-nos. Quando chegamos ao pé da porta, havia muita cinza no ar, e já tinha explodido um computador e ferido um bombeiro, que acabou por morrer. Os bombeiros estavam ao longe a tentar dominar o incêndio e era um silêncio aterrador; eu não sabia o calor podia fazer saltar as pedras da calçada. Parecia que na rua Nova do Almada tinha caído uma bomba. Depois naquele silêncio, ouvia-se a madeira a ranger e entrava um medo pelo corpo!..."
É nessa altura que a segunda câmara deixa de trabalhar. "Subimos a rua e deram-nos mais uma porque viam que éramos doidos e então deixá-los ir. E voltamos outra vez. Foi aí que fizemos as imagens com mais impacto – desde a porta dos Armazéns do Chiado, eu fiz uma espécie de visita guiada, como é que estava a rua Nova do Almada. Filmamos defronte da casa Batalha, a água a correr pela rua abaixo , que estava quente. Dentro dos armazéns, quando ele levanta a câmara, filma as vigas todas retorcidas. Aquilo fez-me tanta impressão que levei cinco anos até voltar outra vez a passar pelo Chiado".
Dessa reportagem, Manolo Bello lembra-se de subirem para cima do carro de bombeiros e ante a calamidade lhe "apetecer um cigarrinho - eu fumava três maços por dia - e para disfarçar o disparate sacar do bolso um maço de SG Gigante e oferecer aos bombeiros - e uns cinco, aceitarem e depois ninguém tinha isqueiro". Lembra-se de um sujeito lhes oferecer camisas limpas e de pedir a perfeitos desconhecidos para levarem as cassetes à 5 de Outubro - e de todos terem cumprido o prometido sem nada em troca.
Lembra-se também de regressar à RTP e de lhes darem os parabéns por afoitos, até para telhados terem subido com a sola de couro com que palmilhavam a calçada, mas de alguém observar que se lhes tinham escapado os palavrões. "O Lima escorregava pelo telhado e com aquela paixão de gravar, agarrava-se à câmara. Eu agarrava-me aos ferros mas houve uma altura em que quando o vi escorregar disse – ‘Segurem o Lima c* enquanto me segurava eu a um ferro: ‘f*que isto está quente’. Acontece que as cassetes chegavam à RTP e não havia tempo de as visionar".
O francês François Vallejo tinha 28 e nesse verão de 1988 estava em Portugal, na região de Sintra, quando deu conta de que um fumo intenso se desprendia de Lisboa. "Resolvi ir ver o que se passava no Chiado, que era um dos bairros históricos da cidade de que eu mais gostava", conta por email desde França.
Nessa ida ao coração da cidade em chamas viu o desespero dos bombeiros, "as barreiras que impediam os mirones", que estavam especados nas ruas em redor do perímetro afetado - alguns ainda em pijama - "as faces carregadas" e pasmou ante a teimosia de muitos habitantes que se "recusavam ser evacuados, pois não queriam sair das suas casas nem se apartar dos seus haveres, que preferiram arriscar e ficar lá dentro mesmo que significasse morrer dentro delas."
A experiência acabou por ficar no romance de 2008, intitulado ‘Incêndio no Chiado’, em que o também professor de literatura escreve sobre o encontro de cinco pessoas que não se conhecem num quarteirão em chamas.
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"Mercado retrocedeu. Quase não existe"
Chiado, 2018. O centro de Lisboa ganhou nova vida. Mas não para todos. A propósito da efeméride que assinala as três décadas sobre o incêndio que devastou a mancha de edifícios entre o Bairro Alto e a Baixa Pombalina, falámos com o homem que defende o direito à habitação num dos bairros mais nobres da cidade de Lisboa. Romão Lavadinho, presidente da Associação dos Inquilinos Lisbonenses (AIL), vê na catástrofe o produto de uma política municipal que dificultou o socorro.
Do caos resultaram cinco famílias sem casa – para o incêndio não se conhecem causas. Em 1990, dois anos depois, a primeira réplica legislativa fez os efeitos alastrarem-se e levou ao desalojamento de famílias e comerciantes. A ‘Lei Cristas’ foi a estocada final, defende. O mercado liberalizou-se, mas tornou-se mais restrito.
Qual é a sua memória do incêndio e dos dias que se seguiram? Já pertencia à Associação de Inquilinos?
Tenho a memória viva de uma grande catástrofe, resultado de uma política municipal que colocou vários obstáculos [canteiros em betão] na rua do Carmo, que dificultaram a entrada dos bombeiros e permitiram o desenvolvimento do fogo, não só aos armazéns do Chiado, mas a vários prédios na área. Muita gente o reclamou, eu próprio o fiz antes daquela madrugada. Pessoalmente, e enquanto pessoa interessada pela cidade - por essa altura era apenas associado da Associação dos Inquilinos Lisbonenses -, reclamei junto da Câmara Municipal de Lisboa, antevendo o problema. Depois, rodeados de chamas, percebeu-se a urgência e foi necessário destruir aqueles ‘impedimentos’ - não sei bem como lhes chamar - para que os bombeiros passassem e fosse prestado o socorro. Enquanto isso, o fogo desenvolvia-se e alastrava-se aos prédios contíguos em madeira. Estava próximo, trabalhava na avenida da Liberdade - fiquei consternado. Gostava do Chiado.
Ainda existem portugueses a viver no Chiado?
Embora de camadas socioeconómicas diferentes, existem ainda famílias portuguesas a viver no Chiado. O incêndio teve lugar em 1988 e só em 1990 a alteração da Lei do Arrendamento – que ditou a sua liberalização – motivou a saída de famílias e comerciantes. Em 1988, os valores das rendas eram significativamente mais baixos do que a partir de 1990. Depois, foram de novo agravados com a Lei de 2012 – a chamada ‘Lei Cristas’.
Que preocupações notavam os inquilinos à época? São sequer similares às que hoje se sentem?
As preocupações dos inquilinos eram distintas das de hoje. A lei permitia a continuidade do arrendamento sem grandes preocupações, uma realidade bem diferente daquela que acontece atualmente, em que os inquilinos perdem praticamente todos os seus direitos e somam apenas deveres.
Em que sentido evoluiu o mercado de arrendamento desde há 30 anos?
O mercado de arrendamento não evoluiu, retrocedeu. Como a AIL tem vindo a afirmar, quase não existe mercado. Não há contratos de arrendamento, ou há muito poucos. Este contexto prejudica seriamente as famílias que pretendem arrendar uma casa e que – em muitos casos – nem sequer têm possibilidade de a comprar com o empréstimo da banca. Hoje, a situação de precariedade é um facto para arrendamento habitacional e não-habitacional, como em serviços, comércio ou restauração.
É o alojamento local a catástrofe moderna que afasta os lisboetas da zona mais nobre da cidade?
O aparecimento do alojamento local não foi uma catástrofe, mas foi a iniciativa que trouxe novas situações de mercado e relegou para segundo lugar o arrendamento de longa duração. Aproveitando-se da circunstância, os proprietários posicionam-se no sentido de pressionar os inquilinos a rescindir contratos ou de pedir valores de rendas completamente incomportáveis para os rendimentos da maioria das famílias portuguesas. Em Alfama, a título de exemplo, muitos proprietários estão a oferecer verbas significativas para que os arrendatários rescindam o contrato de arrendamento. Oferecem-se 20, 30 ou 40 mil euros para que se desloquem das suas casa e as vejam transformadas num alojamento local, produto com lucros substancialmente superiores face aos obtidos com o arrendamento de maior duração. Esta é a realidade que se vive neste momento e de há três anos a esta parte. Há que fazer bem as contas à oferta e a Associação de Inquilinos tem tido o cuidado de informar os seus associados.
O que se alterou no modelo de arrendamento para espaços comerciais?
A alteração da lei [do arrendamento, em 2012] permitiu aos proprietários alterar os contratos de arrendamento e exigir rendas impensáveis a inquilinos que, face ao valor, não suportam manter o negócio – o facto facilmente verificável em Lisboa e no Porto, em especial no seu centro. Veja-se o elevado número de lojas históricas que encerraram devido às elevadas rendas exigidas, de que a baixa pombalina é exemplo, cujos negócios foram substituídos por outras actividades.
Como perspectiva os anos que se seguem?
Nos próximos anos, a não serem revogadas as leis em vigor, o problema vai agravar-se.
Como se combate o afastamento progressivo dos naturais para a periferia das cidades?
Como disse, só a revogação da legislação atual pode permitir aos inquilinos a possibilidade de morar nas cidades sem que sejam empurrados para as periferias.
Aliado a isso, e considerada a habitação para arrendamento, o combate faz-se também com a aprovação da nova lei sobre a habitação, em que o Estado - conforme a Constituição deixa claro na formulação do artigo 65 - se responsabilize por garantir às famílias portuguesas uma habitação condigna, de acordo com os seus rendimentos. Se o Estado, dentro de dois, três ou quatro anos, conseguir colocar em prática essa necessidade, vai combater quer o valor elevado nas rendas, quer o valor elevado também na venda de apartamentos.
É indispensável que o Estado tome medidas e que a nova lei tenha estas garantias.
A cidade move-se pelo interesse do investimento estrangeiro. A lei portuguesa é ‘mais amiga’ dos que chegam de fora?
A legislação em vigor permite algumas benesses aos estrangeiros, em especial a do não pagamento de alguns impostos, e muitos estão a aproveitá-la para se transferirem dos seus países para Portugal, uma vez que o seu poder de compra é superior ao dos nacionais. Um português quer comprar casa, paga o valor da casa e impostos; o estrangeiro tem a casa e não os paga : com os vistos gold essa possibilidade expandiu-se, aumentando o valor patrimonial das casas para habitação
Como é que os portugueses lidam com a chegada destes novos vizinhos estrangeiros?
Os portugueses – em geral – recebem bem os estrangeiros e consideram a sua presença importante para a economia do País, mesmo que isso venha em prejuízo do seu bem-estar e sossego.
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